tag:blogger.com,1999:blog-63617340328885116522024-03-18T17:17:00.200-03:00Blog da CidinhaEste é o blogue de Cidinha da Silva, prosadora. Aqui há referências sobre sua produção literária e ensaística. Seja bem vindo (a)!
cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.comBlogger4296125tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-88792781717265734782024-03-18T17:16:00.000-03:002024-03-18T17:16:06.041-03:00Bate-papo: "Africanidades nas escolas, um recorte da obra de Cidinha da Silva”<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8mONtz6kAj710EQTeIbpvLxjU_P2qDdmAq2T94RGIIjPMeKQ0_mU2wId8ggSoAlh3czaxxeFLKBXfe9tECSAiMu2CQonen9gfKHuMWyJFxg3wyypgDl3oR0jkP-jy8xKkpaWQLQLRwvkLI_ibtSWTVFKShKirwo5k510nqgTtY7Hg5IYJ9wjkOdp3Kr6w/s1080/431185777_1115519036152911_5238468875145591913_n.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="1080" data-original-width="1080" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8mONtz6kAj710EQTeIbpvLxjU_P2qDdmAq2T94RGIIjPMeKQ0_mU2wId8ggSoAlh3czaxxeFLKBXfe9tECSAiMu2CQonen9gfKHuMWyJFxg3wyypgDl3oR0jkP-jy8xKkpaWQLQLRwvkLI_ibtSWTVFKShKirwo5k510nqgTtY7Hg5IYJ9wjkOdp3Kr6w/s320/431185777_1115519036152911_5238468875145591913_n.jpg"/></a></div>
Como são escolhidos os nomes das personagens? Como são definidas as relações de parentesco? Como são criados os territórios e ambientações, nos quais se desenrolam as histórias? A autora tem controle total sobre os movimentos das personagens? Como foram introduzidos temas políticos importantes sem que o texto se transformasse num panfleto? Quais são as implicações da ideia de inspiração como orientadora da escrita literária? Qual é o papel da reescritura para assegurar a qualidade textual? Qual é o papel da pesquisa na criação literária? Como praticar a experimentação de linguagem de maneira convincente?
A resposta a essas perguntas é específica e Cidinha da Silva abrirá a manufatura de quatro livros de sua autoria, destinados às infâncias, para discutir essas questões. Despertamos sua curiosidade? Vem com a gente. É só preencher o link na Bio.
OS NOVE PENTES D’ÁFRICA (2009, Mazza Edições) foi selecionado para integrar a lista de opções do PNLD Literário de 2020, e entre primeira demanda e reposição temos cerca de 200 mil exemplares espalhados por escolas de todo o país. Outros 30 mil exemplares estão espalhados por bibliotecas, casas, livrarias, escolas particulares, sistema público de ensino (bibliotecas escolares e salas de leitura), cujos acervos são alimentados pelas secretarias municipais e estaduais de educação que adotaram o livro.
KUAMI (2011, Jandaíra) foi adotado por algumas escolas particulares, teve duas edições, está na segunda reimpressão, transformou-se no belo espetáculo de teatro e música “Kuami – caminhos de identidade”, construído pelo Núcleo Abre Caminhos, em São Paulo.
O MAR DE MANU (2021, Autêntica) está na segunda reimpressão, foi adotado por escolas particulares e clubes de leitura; ganhou o prêmio da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes em 2021, como melhor livro infantil do ano; foi selecionado para integrar o PNLD-Literário 2023; está em fase de captação para transformar-se em filme de animação.
A ARARA DE MUITAS CORES (2023, Leiturinha / Play Kids) nasceu como peça de teatro em 2014 e depois se transformou em livro. Tem 15 mil araras voando pelos céus do Brasil desde novembro passado, quando foi feita a primeira tiragem.
O QUE: Bate-papo: "Africanidades nas escolas, um recorte da obra de Cidinha da Silva”
QUANDO: 19/3/2024 (terça-feira)
ONDE: Plataforma Zoom
HORÁRIO: 19:30 às 21:00
QUANTO: gratuito
PRÉ-REQUISITO: preenchimento de formulário (COPIE NO SEU NAVEGADOR https://docs.google.com/forms/d/1lV7NiDJcB4irW2ciM-AI9pHyX8Zb4MQBsjbmhDqQDZo/edit?ts=65f70355)
OBESRVAÇÃO: As vagas são limitadas, não tome o lugar de outra pessoa. Inscreva-se apenas se você vier.cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-5297915613714583502024-03-15T20:53:00.001-03:002024-03-15T20:53:28.825-03:00Um leitura do Tecnologias ancestrais de produção de infinitos<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWJx8_3EMtdW8Kr3ctVBPcPm_bRHoOKCMP7STf6kyrSDC3-zVPGPLVQ5dlgLpB3zZ9igtvie_vgexW6Sj_UEv51P_kGveuzmPI5M_ejeSkFpjIq1PXmflVZwtGgs58y01XtxNQ2JE4XGPyok3woZrZhgSxXy2AuFefSLoLoe4MiYT8Dw4ov8HS8p3UuWhU/s526/TECNOLOGIAS%20GABRIELA%20MAYER.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="526" data-original-width="526" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWJx8_3EMtdW8Kr3ctVBPcPm_bRHoOKCMP7STf6kyrSDC3-zVPGPLVQ5dlgLpB3zZ9igtvie_vgexW6Sj_UEv51P_kGveuzmPI5M_ejeSkFpjIq1PXmflVZwtGgs58y01XtxNQ2JE4XGPyok3woZrZhgSxXy2AuFefSLoLoe4MiYT8Dw4ov8HS8p3UuWhU/s320/TECNOLOGIAS%20GABRIELA%20MAYER.jpg"/></a></div>
A jornalista e crítica Gabriela Mayer sobre o TECNOLOGIAS ANCESTRAIS DE PRODUÇÃO DE INFINITOS
Rodada de leituras 🙂
• Tecnologias ancestrais de produção de infinitos, de Cidinha da Silva (Martelo). Cidinha é exímia conhecedora da rua, espaço de paradoxos. Nessas crônicas, a rua é lugar de ocupação e vazio, de grito e silêncio, de vírus e gente. Ainda que tenha suas alternâncias, há o que a rua sempre é: política e divina. Eu sei, parece terrena, mas esses textos lembram que é só um disfarce; a rua é transcendental.cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-26535305652022338752024-03-10T00:56:00.002-03:002024-03-10T00:56:15.993-03:00O PNLD Literário e a censura
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqCC1LL0_377TgOTZsmY4mQFZYjX-6iXQHi4OC5qjdphh4j9jscT4RJXi1tMiLxXVXNRjbiE6NVq6s2apZXRAou0VjrzX7YWGGCT9M7oLEi1-ivbO4Y1BfRf8Zd1qvYSWBXB1xO-4ka8bWDzl5nuylUzdIgCzO05OgigynR39p6uhdOy6ddhAx1lDxYfsj/s1024/incendiario.webp" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="626" data-original-width="1024" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqCC1LL0_377TgOTZsmY4mQFZYjX-6iXQHi4OC5qjdphh4j9jscT4RJXi1tMiLxXVXNRjbiE6NVq6s2apZXRAou0VjrzX7YWGGCT9M7oLEi1-ivbO4Y1BfRf8Zd1qvYSWBXB1xO-4ka8bWDzl5nuylUzdIgCzO05OgigynR39p6uhdOy6ddhAx1lDxYfsj/s320/incendiario.webp"/></a></div>
Recentemente fomos “surpreendidas” pela censura feita por operadoras da educação no interior do Rio Grande do Sul e em Curitiba a um livro de literatura selecionado pelo PNLD Literário (Programa Nacional do Livro e do Material Didático), componente do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). Trata-se de uma política pública de formação de acervo nas escolas públicas brasileiras, um dos maiores programas de distribuição de livros didáticos e de literatura do mundo.
A prática de censura não é surpreendente, de fato, porque ela tem nos acompanhado de maneira mais discreta em alguns momentos e insidiosa em outros, desde que Jair Messias Bolsonaro foi eleito presidente, e mesmo antes, no governo do usurpador Michel Temer. Quando a censura ganha holofotes e caixas de som nas mídias digitais, passamos a discuti-la e isso parece se configurar mais como um sintoma da nossa apatia política do que como prática organizada de contestação e resistência. Assim, escorregamos na casca de banana da novidade nos noticiários e sua avidez por coisas de potencial inflamável.
Não é objetivo desta crônica discutir o arcabouço de práticas de censura do governo Bolsonaro, tampouco os pequenos poderes de bolsonaristas incrustados (e protegidos) nos subterrâneos de órgãos da administração pública de cidades e estados, cujos governantes, câmaras municipais e assembleias legislativas são coniventes com práticas antidemocráticas, autoritárias, racistas, machistas, LGBTfóbicas, etc. Quero apenas trazer algumas informações sobre o processo de seleção de livros no PNLD Literário.
Inscrever um livro no PNLD Literário implica uma tarefa complexa. Primeiro é preciso vencer uma disputa no interior das próprias editoras, porque existem muitos títulos bons a cada ano e o edital limita o número de obras a inscrever. Feita a escolha, é necessário elaborar um imenso e detalhado material de apoio, que inclui vídeos, manual do professor, versões para pessoas cegas ou com baixa visão e versões em audiovisual, ou seja, uma vasta configuração de suporte técnico-didático que será escrutinada por um pequeno exército de avaliadoras e avaliadores, recrutados nas melhores universidades brasileiras.
Caso os livros inscritos sejam aprovados, passam a compor uma lista de livre escolha a ser enviada a todas as escolas brasileiras inscritas no FNDE. As escolas definirão internamente como escolherão os livros. Nesse processo, vemos de tudo: escolas que perdem o prazo de escolha; escolas que têm processos intensos e participativos de discussão no corpo docente; escolas que deixam a escolha nas mãos de um pequeno grupo de docentes ou mesmo de um indivíduo. O resultado final é encaminhado pela diretora ou diretor da escola, utilizando sua matrícula e CPF.
Quando a gestão pública é conduzida por critérios ideológicos e autoritários e não por pressupostos republicanos aplicados por servidores que heroicamente zelam pela coisa pública, em qualquer etapa do processo pode haver ingerências que deturpem os resultados ou excluam livros. Isso aconteceu, por exemplo, com o meu livro Um Exu em Nova York, que mesmo tendo sido aprovado em todas as etapas do PNLD Literário 2021, não entrou na lista de obras disponíveis para o processo seletivo nas escolas. À época, a editora Pallas com o meu apoio, optou por não judicializar a questão e tentou reverter o desaparecimento do título nos canais internos da instituição promotora do certame, contudo, era um tempo de trevas e o livro foi mesmo desaparecido do leque de opções.cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-7574382959493235222024-03-07T19:06:00.000-03:002024-03-07T19:06:01.044-03:00Bate-papo com Cidinha da Silva, dia 9/3<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJZu0arQfJp5Fr0i5cBbHYJDreDQ4sqoqh3aLGvWufpaF3lQ7PRFA4V6wSEpY26GXyZVT0Q2DC7hKLFKCNzAfQK9jIqKC9pNyF-gkZ8kgX_4qY-4thyphenhyphen8PDCGfrFq9kW2vDx_dNuk_q0b_gFNe1yWvHVa8dh-kEh29CFMoYlhftsgk3PTgpKySmgcIOWPvZ/s206/convite%20de%20cidinha.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="206" data-original-width="206" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJZu0arQfJp5Fr0i5cBbHYJDreDQ4sqoqh3aLGvWufpaF3lQ7PRFA4V6wSEpY26GXyZVT0Q2DC7hKLFKCNzAfQK9jIqKC9pNyF-gkZ8kgX_4qY-4thyphenhyphen8PDCGfrFq9kW2vDx_dNuk_q0b_gFNe1yWvHVa8dh-kEh29CFMoYlhftsgk3PTgpKySmgcIOWPvZ/s320/convite%20de%20cidinha.jpg"/></a></div>
Já contei para vocês que escrever para crianças e adolescentes não fazia parte do meu projeto literário, foi uma surpresa que está ganhando muito espaço na minha produção e me traz alegrias inimaginadas. Vou contar algumas.
OS NOVE PENTES D’ÁFRICA (2009, Mazza Edições) foi selecionado para integrar a lista de opções do PNLD Literário de 2020, e entre primeira demanda e reposição temos cerca de 200 mil exemplares espalhados por escolas de todo o país. Outros 30 mil exemplares estão espalhados por bibliotecas, casas, livrarias, escolas particulares, sistema público de ensino (bibliotecas escolares e salas de leitura), cujos acervos são alimentados pelas secretarias municipais e estaduais de educação que adotaram o livro.
KUAMI (2011, Jandaíra) foi adotado por algumas escolas particulares, teve duas edições, está na segunda reimpressão, transformou-se no belo espetáculo de teatro e música “Kuami – caminhos de identidade”, construído pelo Núcleo Abre Caminhos, em São Paulo.
O MAR DE MANU (2021, Autêntica) está na segunda reimpressão, foi adotado por escolas particulares e clubes de leitura; ganhou o prêmio da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes em 2021, como melhor livro infantil do ano; foi selecionado para integrar o PNLD-Literário 2023; está em fase de captação para transformar-se em filme de animação.
A ARARA DE MUITAS CORES (2023, Leiturinha / Play Kids) nasceu como peça de teatro em 2014 e depois se transformou em livro. Tem 15 mil araras voando pelos céus do Brasil desde novembro passado, quando foi feita a primeira tiragem.
Deu vontade de falar um pouco mais sobre esses trabalhos, de saber como as pessoas os têm recebido, de responder à eventual curiosidade de vocês acerca do processo de criação de cada um desses quatro livros.
Para participar é preciso preencher este formulário https://docs.google.com/forms/d/1f6vYMz2RVLjHlKCT8oTFFE1vUCsqNIzgopJCM75_ByM/edit?ts=65e8e6c9 [copie no seu navegador]. Inscrição feita, você receberá o link da sala no Zoom, via e-mail e Whatsapp. Vem com a gente.
O QUE: Conversa com Cidinha da Silva sobre suas publicações para as infâncias
QUANDO: 9/3/2024 (sábado)
ONDE: Plataforma Zoom
HORÁRIO: 11:00 ÀS 13:00
QUANTO: gratuito
PRÉ-REQUISITO: preenchimento deste formulário https://docs.google.com/forms/d/1f6vYMz2RVLjHlKCT8oTFFE1vUCsqNIzgopJCM75_ByM/edit?ts=65e8e6c9cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-8788784944711398382024-03-07T18:55:00.000-03:002024-03-07T18:55:17.796-03:00A Feira de Publicações Semilla está de volta ao DF<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNlBNMWzrzlhVMuozOGk72Ydg16s1C1eQXlnDM7heu44281csKyRgY-4hP0JrkzJaQk1GWQUJAL8qEYsdDMcDlZosBwiqGcj50vt1F-iPxMt4KZix9QFCOJMSkZjeME2raI3PzXRRMt0rF11ohFR9zmhJOz7C-rcBBvjHk6bm1yzCeVN_Zgm1MrLPb_kD8/s1280/semilla.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="1280" data-original-width="1024" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNlBNMWzrzlhVMuozOGk72Ydg16s1C1eQXlnDM7heu44281csKyRgY-4hP0JrkzJaQk1GWQUJAL8qEYsdDMcDlZosBwiqGcj50vt1F-iPxMt4KZix9QFCOJMSkZjeME2raI3PzXRRMt0rF11ohFR9zmhJOz7C-rcBBvjHk6bm1yzCeVN_Zgm1MrLPb_kD8/s320/semilla.jpg"/></a></div>
chega de saudade,
a semilla voltou 💛 a feyra de editoração, publicação y literatura mais esqueerzita do DF vem aí, nessa terceira edição com força total: com produção da @mirada.coletiva y apoio do FAC DF.
preparem seus corações, zines, cartazes, livros, fotos, tudo que é tipo de publicação autoral e impressa, & inscrevam-se pra participar da seletiva de 60 pessoas expositoras que estarão nessa feyra exclusiva pra publicações de pessoas trans, não-bináries, mulheres cis – especialmente negres, indígenas, periféricas, LBTQI+.
vai ser dia 18 de maio, em brasília, no espaço cultural renato russo (508 sul), com uma programação que, além das feyrantes, vai ter também conferência de abertura com @cidinhadasilvaescritora , @alinerochedopachamama , @diana.salu y @tatiananascivento ; formativas antes e durante o evento (fora do plano piloto, inclusive!), e óbvio muito amor, afeto, livro, zine, ilustração, revista, jornal, foto, serigrafia, material impresso… 🐋
as inscrições vão até 28 de março, meio-dia, & o resultado da curadoria sai em 28/03 mesmo, depois das 18h, nas redes @pade.editorial @tatiananascivento
falaremos com as/es selecionadas/es por imeio, whatsapp, sinal de fumaça se preciso for.
as inscrições, a participação na feyra, a troca de saberes e alegrias são gratuitas! avisa aquela/aquelie escritore, editore, publicadorie que não pode faltar? 🍃
com amor ❤,
tatiana nascimento y equipe
link de inscrição bit.ly/feyrasemilla
#pratodesver #pracegover
na imagem, retângulo de fundo azul marinho com desenhos em dourado de sementes e frutos do cerrado, sob os textos centrais semilla repetidas vezes em azul e dourado, feira de publicadoras, terceira edição. abaixo, textos menores em dourado dizem chamada aberta para expositoras, pessoas trans, não binárias e mulheres cis, ingígenas, negras, periféricas, LBTs. na base da imagem, tarja azul clara translúcida de chancelas de realização e apoio: Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Distrito Federal, realização padê editorial
este projeto é/foi realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal - FAC/DF
cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-26356608782838028402024-02-17T10:43:00.003-03:002024-02-17T10:43:47.493-03:00Macetando o apocalipse<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFildkAtTPgTxmC4wq8nVfAS3mbQKimf9TXNl6RiJF3espPT5zJo6uzRA5C77UMnW8DRzppJLdrwciO_-qG5w6ZqdYORlPEullFrM4PyDIyOcmc1ALYCQqK-vWROyNC8DsuDVO4oOQKbYRRVjhU5q_QBkKbqkut0hR1q8IFJiQ5I9yEeV38_wy2YYwCiYq/s299/macetando.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="168" data-original-width="299" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFildkAtTPgTxmC4wq8nVfAS3mbQKimf9TXNl6RiJF3espPT5zJo6uzRA5C77UMnW8DRzppJLdrwciO_-qG5w6ZqdYORlPEullFrM4PyDIyOcmc1ALYCQqK-vWROyNC8DsuDVO4oOQKbYRRVjhU5q_QBkKbqkut0hR1q8IFJiQ5I9yEeV38_wy2YYwCiYq/s320/macetando.jpg"/></a></div>
Ivete Sangalo estimulou todo mundo a macetar o apocalipse, porque Deus estava mandando e era maior do qualquer premonição
CIDINHA DA SILVA
SÃO PAULO - SP
# CIDINHA DA SILVA, CRÔNICAS, EXCLUSIVO SITE
Veio de Veveta, também conhecida como Ivete Sangalo, o mandamento definitivo da carnavália 2024: a gente maceta o apocalipse. Foi uma resposta relâmpago à doutrinadora Baby do Brasil, outrora conhecida como Baby Consuelo, a dona de um dos graves mais bonitos e poderosos da música brasileira.
Entenda o caso: numa troca de gentilezas comum entre artistas, Veveta, dona do hit kundalíneo, Macetando, convidou Baby do Brasil para saudar o público a partir de um camarote. A TV adora esses encontros, pois as pessoas que acompanham as transmissões gostam dessas confraternizações carnavalescas, fixam-se nos aparelhos e a audiência cresce. São segundos preciosos para dar close nos patrocinadores. Baby aproveitou a oportunidade para pregar seus princípios religiosos fundamentalistas, como sempre faz. Ela entende que aquelas pessoas todas são potenciais ovelhas para o rebanho de acéfalos que ela, cheia de neurônios saudáveis e utilitaristas, lidera. Numa tirada que se pretendia humorada, ela exorta a massa “a procurar o senhor, enquanto é possível achá-lo”, porque estamos “entrando em arrebatamento e o apocalipse acontecerá entre cinco e dez anos”.
Abusando da gentileza de Ivete, Baby encerrou o discurso solicitando Pequena Eva, na voz da anfitriã, no intuito nítido e planejado de obter reforço à sua exortação por meio de uma letra que convoca os ouvintes a entrarem na última astronave que voa além do infinito e chama para o transe mítico da salvação eterna. Ivete sagaz, a dona da porra toda, driblou a Pequena Eva e estimulou todo mundo a macetar o apocalipse, porque Deus estava mandando a galera macetar e porque Deus era maior do qualquer mandamento, qualquer premonição.
E os anais da história sideral carnavalesca registraram o dia que, sob o comando de Ivete Sangalo, a turma da bagaceira macetou o apocalipse das almas sebosas. Me deem licença que o carnaval acabou, mas depois dessa, mando “um beijinho pra quem tá filmando” e vou tomar um tacacá, dançar, curtir, ficar de boa…cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-11410336847251800342024-02-08T23:18:00.001-03:002024-02-08T23:18:23.167-03:00CIDINHA DA SILVA E AS URGÊNCIAS DE CRONOS EM “TECNOLOGIAS ANCESTRAIS DE PRODUÇÃO DE INFINITOS”<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0wfAL6TKmC00-ll2LJKcntWliSesD0epzd6u7_SvEtTm0DxqSL7P2QsKv7L2F1bYC__Lw1_owg3mW11icFtNq_ofrcFeshw3cugYcYx1V5Qmyc_bFosw3otMpAvjPLpigeIowA7Is1DlLDuSBOfnqqnG_eRB3R70Y1tIUXhr_NVDPjM2OobCzPFqUNBHI/s1080/Cidinha-da-Silva-tecnologias-ancestrais-de-producao-de-infinitos.webp" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="608" data-original-width="1080" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0wfAL6TKmC00-ll2LJKcntWliSesD0epzd6u7_SvEtTm0DxqSL7P2QsKv7L2F1bYC__Lw1_owg3mW11icFtNq_ofrcFeshw3cugYcYx1V5Qmyc_bFosw3otMpAvjPLpigeIowA7Is1DlLDuSBOfnqqnG_eRB3R70Y1tIUXhr_NVDPjM2OobCzPFqUNBHI/s320/Cidinha-da-Silva-tecnologias-ancestrais-de-producao-de-infinitos.webp"/></a></div>
Por: Arman Neto
Em outra oportunidade, dissemos que Cidinha da Silva é, assim como Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro, autora importante para entendermos o Brasil de hoje e de amanhã. O que mais nos interessa nesta ideia é a maneira como a autora o faz: por meio de suas crônicas. Cidinha é famosa por elas, isso não é novidade. E se não surpreende a qualidade dessa sua prosa breve e fincada no agora de sua escrita, o encantamento com ela nunca se perde. E, mais uma vez, vemos isso se materializando em Tecnologias ancestrais de produção de infinitos (Martelo).
As crônicas de Tecnologias ancestrais de produção de infinitos trazem em si a criticidade tão marcante de Cidinha da Silva. Atenta às coisas, a autora parece ter uma espécie de antena ligada, sempre à espreita de todo tipo de argumento que tão habilmente transforma em texto. Tudo a serve como matéria-prima. E sobre tudo ela tem o que comentar. O melhor é que Cidinha não o faz de qualquer jeito. Ela trata todo e qualquer assunto com seriedade, mesmo quando a ironia e o sarcasmo envolvem suas palavras.
Como de costume, os temas das crônicas de Cidinha são os mais variados. Contudo, neste volume temos três grandes blocos nos quais se concentram tópicos aproximados. Na primeira parte do livro (“Carcará”), a pandemia da Covid-19 se faz sempre presente. Seja como tema central, seja por ter deixado rastros. Eis aqui um registro desse tempo traumático do qual nós vivemos. Ter o olhar e as palavras de Cidinha se voltando para tal momento é o mesmo que enxergá-lo a partir de um prisma que se preocupa com detalhes que muitas vezes escapam do campo de visão de outras pessoas. Por exemplo, não foram muitos os que deram o devido valor ao caráter anarquista (mesmo que a autora não se valha do termo em seus textos) que muitas comunidades adotaram para sobreviver àquele período nefasto. Não fosse o apoio mútuo e a ação direta das periferias, subúrbios brasileiros e outras vizinhanças (como pessoas jovens e de menos risco ajudando idosos e pessoas com comorbidade, para ilustrar), o estrago teria sido maior. Cidinha arremata: “a grande lição da pandemia de Covid-19 veio dos becos e das vielas, as ruas típicas das favelas. Estamos por nossa própria conta, ‘nós por nós’ é, ao mesmo tempo, mantra e é atitude de combate. Nós, gente negra, só nos salvaremos da morte se cuidarmos de nós mesmos e um dos outros, se nos responsabilizarmos pelos nossos que mais precisam.” Cidinha desnuda a necropolítica que fez da pandemia um pesadelo maior ainda e a denuncia para além daquele contexto. Um salve aqui para a necessária lembrança das lives diárias de Teresa Cristina, um acalanto que muito nos ajudou naqueles anos e que deveria tê-la elevada a um patamar na arte brasileira muito maior do que ela está. Ela merece muito e nós, como sociedade, ainda não lhe fizemos jus.
Na segunda parte do livro, “João de Barro”, Cidinha da Silva nos presenteia com uma perspectiva do mercado editorial e cenário literário de quem o vive de dentro, e de forma independente, há muitos anos. Nessa seção da obra, a autora traz reflexões sobre a escrita e o que motiva seu trabalho (“[…] me nutro da ancestralidade […] versus contemporaneidade para criar”) além de se debruçar sobre os dilemas e incongruências acerca de todo o ofício. Nessa, somos postos diante de uma ótima observação que a autora faz a respeito de constantemente trabalhar com editoras de mulheres e pondera sobre a prática de escrever por encomenda. Também está aqui a ótima crítica que a autora faz acerca do livro infantil ABC da liberdade (Companhia das Letrinhas), de José Roberto Torero e Marcus Aurélio Pimenta, ilustrado por Edu Oliveira, no qual se é imaginada a infância de Luiz Gama em um navio negreiro em que toda a violência envolvendo tal hipótese é romantizada, sendo narrada com humor. Uma saga cruel, sádica e racista, como descreve Cidinha. Um texto necessário. Sobretudo, se pensarmos que ainda se faz necessário apontar o dedo para “aberrações” como essa.
Na última parte do livro, que recebe o título de “Bem-te-vi”, Cidinha nos guia pelo caminho dos afetos. Suas crônicas (às vezes contos?) aqui se voltam para outras questões do cotidiano em que o verniz é menos crítico (embora, sim, a crítica se faça presente) e mais contemplativo. Nessa parte, as relações humanas ganham maior protagonismo. O amor e o desejo estão ao redor — de diversas formas, de variados jeitos — e a plenitude é o alvo. É muito bom poder ver esse lado da vida por meio do olhar de Cidinha, sempre tão perspicaz.
Não tem mistério: Cidinha da Silva é uma das grandes cronistas que nasceram nestas terras que passamos a chamar de Brasil. E Tecnologias ancestrais de produção de infinitos é mais uma prova disso. Sempre corajosa, é autora que escreve sem medo do confronto. E talvez o confronto seja algo que ela até almeje. Afinal, uma escritora de mão cheia como ela tem a manha de deslocar quem a lê. Contudo, Cidinha também é pessoa muito generosa. E esse seu lado, não raro, aparece por suas letras, como muito bem vemos nos textos do livro que comentamos aqui. Que os infinitos que ela produz nunca deixem de circular. Sobretudo, pelas ruas, onde a matéria de suas crônicas é também onde elas têm mais força. Vida longa!
ARMAN NETO
Arman Neto é filho da Dona Yara e do Seu Chico e cria de Queimados, Baixada Fluminense. Formado pela Faculdade de Letras da UFRJ, é escritor, revisor e preparador de textos. Escreve para o Impressões de Maria desde dois mil e dezoito.
cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-62129988974783011192024-02-08T23:14:00.001-03:002024-02-08T23:14:30.588-03:00 “O Retorno” | Atlânticos em transe sob a lua de Luanda, por Cidinha da Silva. Ep.6<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPFxAHusMgCKFDYxh_gKBRl1KQW6Hidlx9mqLuyT_6xI31GY6nXm1eyvO9tDMP6zYCbPFV0-Mn2OB_Mis0yhMHsqMqKh2FEiw9PG1qfCclA6f4OFPH6lcPle5AEX2I3-YoKjOylZfPyBzksLiNCgQG9t2x2UQWEpxH7VVOuFMNhlty8Ql9swfSNaiZt19p/s720/atlanticos%203.webp" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="405" data-original-width="720" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPFxAHusMgCKFDYxh_gKBRl1KQW6Hidlx9mqLuyT_6xI31GY6nXm1eyvO9tDMP6zYCbPFV0-Mn2OB_Mis0yhMHsqMqKh2FEiw9PG1qfCclA6f4OFPH6lcPle5AEX2I3-YoKjOylZfPyBzksLiNCgQG9t2x2UQWEpxH7VVOuFMNhlty8Ql9swfSNaiZt19p/s320/atlanticos%203.webp"/></a></div>
FOLHETIM | Sesc Pompeia
Ilustração: Okun
Minha irmã, tu não conhecerias Luanda se não tivesses passado pela corrupção institucional, te faltaria um pedaço importante de percepção desta terra de mártires e de gente desterritorializada. Da mesma forma que ao chegar ao aeroporto reconheceste nas pessoas a casa de onde partiste, ao voltares para tua casa, tiveste contato com os ardis que nos tornaram o povo que somos hoje.
Sim, não te pediram comprovante de vacina da Covid para entrar no país, mas te pedirão para sair, depois de teres supostamente espalhado o vírus de que podias ser portadora. E se não tiveres, não te preocupes, já haverá um esquema montado e tudo dará certo. Por algum valor, não tão pequeno e em euros, tu conseguirás embarcar de volta. Para despachar a peça de madeira maciça que compraste a um artista, reserva de duas a três centenas de euros, dependerá de tua capacidade de negociação. Tuas ancestres foram negociantes, por que ainda não aprendeste a negociar?
Tu, com tua cara de parva, serás abordada por alguma funcionária da segurança que terá a cara de tuas tias bonachonas e te perguntará ao pé do ouvido se tens algum dinheiro a declarar. Tua face surpreendida diante da tentativa explícita de extorsão levará a mulher a ser específica contigo: dólar? Euro? Kwanzas? Só tenho reais, tu pensarás em responder, mas não o farás com medo de sofrer qualquer tipo de retaliação que te obrigue a pagar propina sob pena de perderes o voo.
A corrupção que teus olhos alcançam é pequena, é singela; temos a grande, a mastodôntica. Temos a filha do ex-presidente do país, por exemplo, que se tornou a mulher mais rica de todo o continente, que recorria aos bancos para empréstimos exorbitantes sob a justificativa de que para construir a Angola do futuro era preciso investir e, como ela era quem era, davam-lhe o que pedia, por mais estratosférico que fosse o montante.
A moça no aeroporto não tinha um fuzil como o guarda que elogiou teus óculos escuros, lembras? Mas tivestes o medo correto e a presença de espírito para evitar que ela lançasse outras armas de coerção sobre ti.
E trate de desmanchar essa cara de choro, desfaça suas ilusões. Não se trata de a mulher em questão ser boa ou má pessoa, ela é apenas uma sobrevivente que quer levar comida aos filhos, ou quer comprar uma televisão maior para assistir às novelas brasileiras, ou ainda, quer conseguir dinheiro para cobrir o preço extorsivo dos táxis que a conduzirão ao trabalho nos dias de chuva, porque, se faltar, perde o emprego, estás a ver? São muitas questões para as mulheres solucionarem, tem ainda os sobrinhos mais velhos que ela ama como filhos, são filhos, e não têm trabalho e sonham se mudar para o Brasil e fazer a vida por lá e consertar a vida dos de cá.
Mal sabem que podem morrer embaixo de porradas como Moïse, o jovem congolês. Esse tem sido nosso destino de alvos da recolonização. Não pense que só a China tem um comportamento extrativista conosco, porque te assusta saber que eles tenham dois trabalhadores para cada cama, dormindo um no turno em que o outro trabalha. O Brasil de Lula abriu as portas dos países africanos para as igrejas que querem nos roubar tudo, nosso espírito e nosso dinheiro, e nos mandou as empresas brasileiras que vendem a ideia de progresso e pleno emprego, mas o que fazem é se aproveitar da mão de obra local. Sobre o Brasil de Bolsonaro e sua relação conosco, nem faço comentários.
Os chineses agora têm arrancado nossos baobás inteiros. Não sei se a tecnologia deles os fará sobreviver transplantados, mas, se sobreviverem, serão para sempre tristes, porque nós, a seiva que nutre os imbondeiros, continuaremos aqui ou espalhados pela diáspora, protegidos pela beleza inacreditável dessa lua, no movimento espiralar de contar a história pelo começo, meio e começo de novo.cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-27556135454449490882024-02-05T18:25:00.001-03:002024-02-05T18:25:12.514-03:00 “Inácia” | Atlânticos em transe sob a lua de Luanda, por Cidinha da Silva. Ep.5<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbvtUxqr37rDiMV083jRsGx29OQD4VkqPHnfBWEhqYzZV7NDF-2FokvyO4PMjE7mx__KMMOyGeGX-40avEFzvbbswvMuBWMSDpqKT94bZjDk4Q4GmmNobD3T_SJ8oMAMg-29S7V4kV4gDl3JY7efrWjNZoA6QfZrPYkHbi-h74vAxMbMWmDYsJe7yvcImT/s720/INACIA%20ATLANTICOS.webp" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="405" data-original-width="720" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbvtUxqr37rDiMV083jRsGx29OQD4VkqPHnfBWEhqYzZV7NDF-2FokvyO4PMjE7mx__KMMOyGeGX-40avEFzvbbswvMuBWMSDpqKT94bZjDk4Q4GmmNobD3T_SJ8oMAMg-29S7V4kV4gDl3JY7efrWjNZoA6QfZrPYkHbi-h74vAxMbMWmDYsJe7yvcImT/s320/INACIA%20ATLANTICOS.webp"/></a></div>
Ilustração: Okun
— Senhora, senhora! Eu corri atrás da zungueira para entregar-lhe um galho seco e sem cheiro que caíra da bacia que carregava na cabeça. Senhora, senhora, por favor.
— É comigo, mana?
— Sim, senhora. É que caiu esse galho da sua cabeça, digo, dos apetrechos que a senhora carrega na cabeça.
— Que susto. Achei que estava perdendo pedaços da cabeça. Não me chame de senhora que sou mais nova do que tu. Eu ainda faço filhos, tenho menos de 40, tu não fazes mais.
— Nossa, como é que a senhora, como é que você sabe?
— As mulheres daqui ainda sabem das coisas, mana. Vocês desaprenderam. És brasileira, suponho.
— Sim, o jeito de falar me denuncia, não é?
— Não só, tem a pele, o jeito de andar, o gesto, mas não me olhe com essa cara de surpresa porque te pareço mais instruída do que uma zungueira deveria ser. Fui universitária um dia, é que tenho filhos e preciso alimentá-los. Este galhinho que me entregaste é parte do leite deles. Muito obrigada. Já caminhei uma hora de casa até aqui. Ainda caminho 40 minutos para chegar à praia, preciso ir. Ainda te demoras em Luanda?
— Como sabes que estou de passagem? Eu não poderia estar vivendo aqui?
— Não, tu ainda não incorporaste os meneios da terra, mas eles estão dentro de ti, é preciso um pouco mais de conformidade com o tempo para que se revelem.
— Eu me senti voltando para casa quando pisei no desembarque do aeroporto. Uma sensação de chegar em casa depois de ter estado muito tempo fora. Não sei se me expliquei direito.
— Eu te entendi, mana, eu percebi. Tive gente minha arrastada para o Brasil no tempo do tráfico atlântico e mais gente minha se foi agora, buscando uma vida melhor.
— Sinto muito, sinto tanto, pelos que se foram antes, sequestrados, e pelos que agora escolhem ir. O Brasil é um país racista, que odeia negros, em especial os africanos e haitianos. Você acha que nós podemos ser parentes?
— Somos todos parentes na grande família africana.
— Pergunta tola a minha. Desculpe, é a ansiedade por realizar o caminho de volta.
— Uma retornada. Te sentes assim?
— Sim, é como me sinto. Mas, escuta, quero te dizer algo antes de você ir. Não tive oportunidade de conversar com muitas pessoas, no entanto, me espantou a naturalidade com que você falou sobre os seus que foram arrancados daqui. É um assunto delicado e nunca sei como abordá-lo.
— É doloroso, mais do que delicado. As pessoas não gostam de falar sobre isso. Houve famílias que desapareceram, foram totalmente destruídas e os ancestrais ficaram perdidos, vagando, sem ter mais quem os cultuasse e se valesse da orientação deles. É a coisa mais triste do mundo. Nem sei se os meus chegaram ao destino nunca imaginado, podem ter ficado pelo mar. O desconhecimento do paradeiro deles é a segunda grande dor que carregamos.
— Eu não sei o que dizer, dói tanto te ouvir.
— Nós também não sabemos o que falar, não achamos palavras para traduzir o que sentimos. Agora preciso ir, mas, esteja certa, tu vais voltar para ficar mais tempo, para reencontrar tua alma e recontar nossa história.
— Você acha mesmo?
— Tenho certeza. Mas não vá embora dessa vez sem conhecer o quintalão. Fica a uma quadra daqui. Você deve isso à sua gente.
— Eu já fui. Ouvi os gritos, os gemidos, o desespero. O que havia de mais duro em mim se dissolveu, meus ossos e meus dentes. Minha carne foi quebrada, meus nervos foram rasgados.
— Firmaste os pés na terra?
— Firmei, bati forte, quase não tinha controle das pernas, mas consegui firmar.
— Estou certa de que eles vieram. Eles estão sempre de guarda, só esperam por um chamado.
— Sim, os ancestrais vibraram em meu socorro e me acalmei. Não me desviei do encontro aterrador com a nossa História.
— Coragem é o nome que a vida nos obrigou a ter. Seja bem-vinda à sua casa, mana.
— Obrigada, Inácia. Espero te encontrar na voltacidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-5710621895806704332024-02-05T18:21:00.001-03:002024-02-05T18:21:32.794-03:00Veja os novos livros infantis de Edimilson de Almeida Pereira e Cidinha da Silva
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihtp5-rqHZ0J6_hP3ikhU5v5hgT3XjoZfV_1p3fGrp4scgpRG0fLPoHQza_cRFpKkCeIgOd1cPXNwhUq8K-x95gmAIdrhyAMQ5hrnhtlv1OtYOEwP3txlWbv0eh4Ado0__0g1KA70pVdhCh0D7Sd_fXbTTobCtvYbJxsSbCCH9n0Mi0jWWVUodGnG2eGg8/s1024/cena%201%20arara.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; clear: right; float: right;"><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="683" data-original-width="1024" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihtp5-rqHZ0J6_hP3ikhU5v5hgT3XjoZfV_1p3fGrp4scgpRG0fLPoHQza_cRFpKkCeIgOd1cPXNwhUq8K-x95gmAIdrhyAMQ5hrnhtlv1OtYOEwP3txlWbv0eh4Ado0__0g1KA70pVdhCh0D7Sd_fXbTTobCtvYbJxsSbCCH9n0Mi0jWWVUodGnG2eGg8/s320/cena%201%20arara.jpg"/></a></div>
'Olho Vivo, Olho Mágico' e 'A Arara de Muitas Cores' conversam com a infância a partir da poesia e do teatro
por Bruno Molinero
Diz o ditado que Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje. É mais ou menos isso o que faz Cidinha da Silva com seu novo livro para a infância, "A Arara de Muitas Cores".
Publicado agora pela Leiturinha, o título é o 21º lançamento da autora, mas vai soar familiar para alguns. Isso porque a história circula pelos palcos desde 2015 —só que com outro nome. "A Arara de Muitas Cores" foi escrita por Cidinha inicialmente como peça de teatro e foi encenada pela companhia Os Crespos como "Os Coloridos", além de ter sido montada como monólogo pela atriz e diretora Lucelia Sergio.
Ilustração de Suzane Lopes para "A Arara de Muitas Cores"
Ilustração de Suzane Lopes para "A Arara de Muitas Cores", de Cidinha da Silva - Divulgação
Mas a narrativa é a mesma do livro, que tem ilustrações de Suzane Lopes. Nela, uma arara azul de bico empinado conversa com uma ave amarela da mesma espécie. De um lado, fica o sangue azul dos que se acham superiores e a empáfia de conquistadores, nobres, racionalistas e tecnólogos. De outro, está o amarelo do sol e os saberes ligados à terra e à tradição indígena.
Conheça 'A Arara de Muitas Cores', livro infantil de Cidinha da Silva
O impasse e o choque entre as personagens prosseguem até que aparece uma terceira arara, de penas vermelhas e cheia de ginga. Viajante do mundo, ela conta histórias da África, lendas de Angola, fala da capoeira e apresenta coisas da Nigéria. É desse contato que nasce mais do que uma explicação de país.
Numa alegoria lúdica, Cidinha supera a ingênua ideia de que o Brasil foi forjado harmonicamente no contato entre esses três universos e mostra um pouco das entranhas dos jogos de poder, da violência política, da intolerância e do silenciamento. E, a partir disso, incentiva o leitor a ampliar o seu olhar para além da história oficial e dos saberes estabelecidos.
O escritor Edimilson de Almeida Pereira também faz um pouco isso em "Olho Vivo, Olho Mágico", mas com outros recursos —ele usa a poesia e o próprio livro como objeto.
O vencedor do prêmio São Paulo de Literatura de 2021 com o romance "Front" apresenta dois poemas para a infância na edição, lançada pela FTD. Mas, antes de falar dos textos, é preciso explicar como o livro está impresso. Feito em formato sanfonado, a edição funciona como se fosse uma grande dobradura, guardada numa espécie de envelope que serve de capa.
De um lado, as páginas são abertas na horizontal e revelam o poema "A Mão, o Livro, o Papel e o Vento", ilustrado por uma larga imagem cor de salmão feita por Rodrigo Visca. No texto, Pereira cria versos livres e sem rimas sobre o próprio ato de escrever, nos quais a mão, o papel, o livro e o vento falam sobre o processo de surgimento da literatura.
"'Há um segredo/ que a mão gravou no livro./ Ainda que o papel se perca,/ o segredo/ não se apaga'", diz uma das estrofes.
Ao olhar o sanfonado do outro lado, o leitor descobre outro poema: "A Senhora, o Gato, o Chapéu e o Pássaro", que fala de forma poética sobre diferentes escolhas da mulher do título. Dessa vez, o sentido de leitura, dobra e desdobra das páginas é outro —elas se desenrolam na vertical e revelam uma ilustração única e comprida também feita por Visca.
Com isso, forma e conteúdo se unem, dão as mãos e não existem sem o outro. Juntos, criam um livro que desobedece as normas. E não teria como ser diferente, porque, afinal, poesia e literatura são o próprio terreno da desobediência. Silenciosamente, Pereira avisa os leitores de que doses de ruptura, rebeldia, confusão, imaginação e novas perspectivas não fazem mal a ninguém. Aliás, é o contrário. São muito necessárias, sobretudo nos dias de hoje.
A ARARA DE MUITAS CORES
Preço R$ 49,90 (40 págs.)Autoria Cidinha da Silva e Suzane LopesEditora Leiturinha
OLHO VIVO, OLHO MÁGICO
Preço R$ 64 (20 págs.)Autoria Edimilson de Almeida Pereira e Rodrigo ViscaEditora FTD
cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-34841843822026849602024-02-05T18:07:00.002-03:002024-02-05T18:07:08.988-03:00A Cadeira de Miss Davis<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqA-2gXVvAOyb-9BBQyyBJIDgRvSPcBidNlRl9ymTxAbPTztjp1ddpF29MsrCRBwahyAK7_aQ9MlV6xABVbivktEhQxFHaMN3QH0HM-ZwuU_G9wzAzAsqlU9_d9wpMln02hXTc3mr29jfI_zW8cqhp3me7dqFDSA4JwqOfezB8Qvh20c-SR90UTSdseDPQ/s2291/CCF_000180%20%281%29.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="2291" data-original-width="1606" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqA-2gXVvAOyb-9BBQyyBJIDgRvSPcBidNlRl9ymTxAbPTztjp1ddpF29MsrCRBwahyAK7_aQ9MlV6xABVbivktEhQxFHaMN3QH0HM-ZwuU_G9wzAzAsqlU9_d9wpMln02hXTc3mr29jfI_zW8cqhp3me7dqFDSA4JwqOfezB8Qvh20c-SR90UTSdseDPQ/s320/CCF_000180%20%281%29.jpg"/></a></div>
por Cidinha da Silva
Eu sou uma mulher de sorte. Essa afirmação tem a força de atrair cada vez mais os bons augúrios e afastar a desinsorte, já que aquele nomezinho de quatro letras não pronuncio.
Acontece que fui à Cachoeira turistar com familiares e, à noite, resolvi tietar amigas que participavam de um curso sobre feminismo negro decolonial nas Américas, promovido pelo Coletivo Angela Davis. Encontros daqui e dali, papos rápidos, beijos e abraços e um restaurante escolhido para jantar. De repente, vozes sussurradas e emocionadas dão conta de uma presença em movimento: “Olha ela, é Angela. É Angela. Ela saiu de casa. Ela está vindo”.
E quem é que vem para a calçada onde estou e senta-se à mesma mesa, a três cadeiras de distância da locutora que vos fala? Ela, a Pantera, como o pessoal a estava chamando por lá. A que chamaram de Angela, sem sobrenome, porque passou a ser da família.
Tá bom, tá bom. Era a mesa da diretoria e de sua amada, por isso ela se sentou na “minha mesa”. Não tem problema, pessoal, isso não embaralha minha sorte.
Conversa vai, conversa vem, uma pessoa postada à cabeceira da mesa iniciou com Angela um papo sobre política brasileira. Eu me mordi de vontade de participar com meu inglesinho de boa base gramatical e pronúncia imperfeita, só que não fui convidada, e me resignei ao silêncio observador.
Alguém, creio que a própria Angela, resolveu rearranjar os lugares da mesa para que os casais separados ficassem próximos. Uma vizinha de cadeira moveu-se para o lugar de Angela Davis, a primeira a se levantar. E ela, a Pantera, sentou-se onde? Adivinhem.
A primeira sensação, quando isso acontece, vou contar para você que nunca se sentou ao lado de um ícone, é: o que posso falar que não vá incomodá-la? A pessoa está ali no bar para relaxar, as anfitriãs já haviam montado um forte esquema espacial para blindá-la das cansativas selfies, não queria ser eu a incomodá-la. Optei por ficar calada e, se surgisse alguma oportunidade, falaria algo.
Angela sorriu para mim e me cumprimentou, perguntou como eu estava. Respondi ao cumprimento e aproveitando a deixa disse-lhe que diria minha frase clichê desde 1997, quando a encontrei em sua primeira vinda ao Brasil, a São Luís do Maranhão: “A primeira vez que te vi foi em Atlanta, em 1994, e você tinha longuíssimos dreadlocks”. Muito simpática, ela disse que se lembrava, que meu rosto lhe era familiar nessas duas décadas em que vinha ao Brasil.
Calma, gente! É óbvio que ela não se lembrou de mim, principalmente no evento em Atlanta, onde havia centenas de mulheres negras. Talvez se lembrasse que tinha mesmo dreads àquela época, e a lembrança de dreads cortados sempre traz uma nostalgia.
Ainda na linha da simpatia total, ela me perguntou o que havia sido o evento de Atlanta e o que eu fazia por lá. Respondi que se tratava de uma edição da Black Women’s Health Conference, e eu, que estudava e morava em Illinois à época, estive lá para encontrar uma companheira de Geledés, participante da conferência. Depois ela me perguntou como se dizia ketchup em português. Respondi que era daquele jeito mesmo e que a gente só acentuava a letra u. Rimos. Pedimos ketchup ao garçom, que nunca o trouxe, e como as batatas fritas de Angela já estavam pela metade, fui ao balcão buscar o molho vermelho. Conversamos ainda sobre a tradição africana de deixar o sal em cima da mesa, ao invés de entregá-lo a alguém que o solicitasse; sobre banhos de sal grosso e sobre jogar sal para trás como táticas de proteção espiritual e, ainda, sobre não entregar uma faca com a ponta voltada para a pessoa que a recebe.
Bem, essa prosopopeia toda foi para justificar por que sou uma mulher de sorte. Mas o mais importante da noite ainda não contei. É que ao mudar-se de lugar, Angela Davis, que é muito alta, sentou-se numa cadeira maior do que as outras ou que estava num ponto mais alto da calçada. Fato é que a junção das duas coisas a deixou em destaque na mesa. Ninguém reparou porque ela já era a grande estrela e era natural que a víssemos como a maior de todas. Mas ela, muito incomodada, falava como que para si mesma, que estava mais alta do que todo mundo e olhava para o chão e para os lados, buscando solução para o problema. Eu, pensando tratar-se da própria altura dela, disse que ela era mesmo a mais alta da mesa e ela respondeu: “Eu sei, mas tem alguma coisa errada aqui”.
Então, mais uma vez, Angela se levantou e trocou de lugar, sentando-se na cadeira ao lado, mais baixa ou nivelada às outras pela calçada, ficando assim na mesma altura das demais pessoas. E disse aliviada: “Agora, sim! Agora eu estou confortável!”.cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-67050068057886232392024-02-05T17:59:00.001-03:002024-02-05T17:59:50.846-03:00Jay-Z alfineta o Grammy por nunca ter dado a Beyoncé o prêmio de Álbum do Ano
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHlFo0JD9Pvg_KjXLsZm4lDjeNgUMOPNLsA2vRaYwwEq04g6BonCZ04JcsspYU6bkWouo_QGqc0e3lFBQfbfroLuJKYDhtSpsalp65DMJbPhOMWioyu8eRcGNiMHIst9sFW3IKzclM7cSDb_vHu0UM0O20apBuzo6LOHbT6AbTSFZfiVVqWsKQx_3Sr2AK/s275/jay-z.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="183" data-original-width="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHlFo0JD9Pvg_KjXLsZm4lDjeNgUMOPNLsA2vRaYwwEq04g6BonCZ04JcsspYU6bkWouo_QGqc0e3lFBQfbfroLuJKYDhtSpsalp65DMJbPhOMWioyu8eRcGNiMHIst9sFW3IKzclM7cSDb_vHu0UM0O20apBuzo6LOHbT6AbTSFZfiVVqWsKQx_3Sr2AK/s320/jay-z.jpg"/></a></div>
FONTE Correio Braziliense, por Ronayre Nunes
Produtor e cantor questionou a premiação durante o discurso de agradecimento pelo Prêmio Dr. Dre de Impacto Global
O cantor e produtor Jay-Z não perdeu a oportunidade de alfinetar o Grammy na noite deste domingo (5/2) enquanto agradecia o recebimento do Prêmio Dr. Dre de Impacto Global — premiação que reconhece os profissionais com um histórico comprovado de edificar a música negra.
Durante o discurso, Jay-Z comentou “o maior número de prêmios Grammy vencidos (dado a Beyoncé) e nunca levou a categoria de álbum do ano. Como isso funciona?”.
A esposa de Jay-Z, Beyoncé já levou para casa 32 Grammys ao longo da história, mas nunca como Melhor Álbum do Ano. Beyoncé já foi indicada na categoria três vezes, 2023, 2017 e 2010, mas nunca ganhou.cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-76081980700950216122024-02-04T10:57:00.001-03:002024-02-04T10:57:27.241-03:00Tecnomacumba, 20 anos de axé!
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyyNWcFv2cKfuW-XdPC3kiK85CjgVJtyXAjINSOlRPQ55VvCnJ6FObE1WlTzQ7UZYYMktOQgvWmxadRSCN3VkCxwVmkV6Yy2aWWOR8C4XYLxqfRpZSg4t34AatZITYEHIMVbgpMXP85-KsgIzeNz2nxy_CnMnySmh_qs1SVJNI7aCYQdR9KcGdIEZegUty/s696/Rita-Benneditto1-696x464.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="464" data-original-width="696" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyyNWcFv2cKfuW-XdPC3kiK85CjgVJtyXAjINSOlRPQ55VvCnJ6FObE1WlTzQ7UZYYMktOQgvWmxadRSCN3VkCxwVmkV6Yy2aWWOR8C4XYLxqfRpZSg4t34AatZITYEHIMVbgpMXP85-KsgIzeNz2nxy_CnMnySmh_qs1SVJNI7aCYQdR9KcGdIEZegUty/s320/Rita-Benneditto1-696x464.jpg"/></a></div>
A força da música de Rita Benneditto, sempre um convite a cantar e e a dançar para a encantaria de todos os quadrantes do país
Quando assisti Tecnomacumba pela primeira vez, Ribeiro ainda era o sobrenome de Rita Benneditto. Antes de o espetáculo seguir para os palcos do Brasil, tive notícias da pesquisa, do sonho, trazidas por um amor que a tudo acompanhava na condição de amiga da produtora da artista, e me dizia da beleza do que estava em gestação.
Ao longo de vinte anos vi o espetáculo algumas vezes, em São Paulo e no Rio. Uma delas, no Circo Voador, à volta de 2009 ou 2010. Eu havia publicado Os nove pentes d’África e pedi à Elzinha (Elza Ribeiro, a produtora) que entregasse à Rita um exemplar. Aquele trabalho era tributário de Tecnomacumba, disco que ouvi de maneira exaustiva enquanto escrevia e, no momento exato em que coloquei ponto final no texto, ela cantava para Oxalá.
Foi Elzinha, quem gentilmente me ofereceu um ingresso para a festa dos vinte anos. Eu folheava livros na porta do teatro, enquanto aguardava o horário para assistir Alaíde Costa. Era sexta-feira. Elzinha passou por mim, nos cumprimentamos, nos abraçamos. Lamentei minha atrapalhação durante a viagem de fim de ano que me impediu de providenciar ingresso a tempo, mas ela procuraria um para mim no dia seguinte, o último de apresentação.
Deu tudo certo, lá fui eu assistir Tecnomacumba pela quinta vez. Vi um espetáculo novo, cada vez melhor e mais autoral. Toca a cantar, pular e dançar para orixás e para a encantaria de todos os quadrantes do país.
O pessoal se agita muito quando a Rita canta para Padilha, não é para menos, mas gosto mesmo das músicas para Xangô, por motivos óbvios, Oxóssi e Oxalá.
São vinte anos de Rita Benneditto e sua banda, Cavaleiros de Aruanda, plantando asè por onde cantam. São mais de vinte anos de um grande amor embalado por aquelas canções que só fazem reencantá-lo.
cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-83938238360956988802024-01-29T09:38:00.001-03:002024-01-29T09:38:42.897-03:00“Cadê o Roque Santeiro que estava aqui?” | Atlânticos em transe sob a lua de Luanda, por Cidinha da Silva. Ep.4<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIDkEdaWcmXcFGzlz9G8w78EuVEoBwiwJ0ufzJJBqSxf1IEiBrOMRhAU7aRE_SFoyDuY3QNRTJ47Sbo-7iDn_Tq67UoJgBldhcrtO1YGAswzWugE1cIwv5uPXmH09I4cHbGFid9gVIVB8oOooLlUnIRzDl_pKbkFxtDuCDLaePxN_obO3NEHEDU1QNDkm_/s720/episodio%204%20Atlanticos.webp" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="405" data-original-width="720" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIDkEdaWcmXcFGzlz9G8w78EuVEoBwiwJ0ufzJJBqSxf1IEiBrOMRhAU7aRE_SFoyDuY3QNRTJ47Sbo-7iDn_Tq67UoJgBldhcrtO1YGAswzWugE1cIwv5uPXmH09I4cHbGFid9gVIVB8oOooLlUnIRzDl_pKbkFxtDuCDLaePxN_obO3NEHEDU1QNDkm_/s320/episodio%204%20Atlanticos.webp"/></a></div>
FOLHETIM | Sesc Pompeia / Ilustração: Okun
Eu já tinha ouvido falar do Roque Santeiro, mas, quando li Jaime Bunda, fiquei encantada, decidi conhecê-lo. Ir até a Sambizanga tornou-se uma meta de vida, como conhecer o comércio no rio Congo. Tu me levas, kota? Vi num filme e achei fascinante. Não, não, não tenho curiosidade de estar numa das embarcações. Deus me livre e guarde, mas quero olhar da margem do rio e sentir a pulsação do comércio feito pelas mulheres. Tu vais comigo para eu me sentir segura. Guarda teus preconceitos congofóbicos e vamos. Que horrível essa expressão que vocês criaram para identificar balbúrdias e lugares desorganizados. Vocês parecem europeus ao chamar esses sítios de “congo”.
É verdade que tenho o mesmo espírito do agente secreto Jaime Bunda e planejava escutar as conversas da contravenção e do crime, disfarçada de quê, não sei; cumpre confessar que não sou boa de disfarces, mas até o momento da escuta eu providenciaria um que fosse convincente. Queria ver como se encomendavam mortes, feitiços, vinganças leves ou ardilosas, as pequenezas que Pepetela havia entremeado ao comércio de comida, computadores, eletrodomésticos, roupas, calçados. Ali também se comercializava vida e morte, como sabes melhor do que eu. Mas deram de acabar com o Roque e transferiram os comerciantes para Panguila. Lá também vais me levar, tu não escapas de me ciceronear.
Quando perguntei às pessoas pelo Roque na intenção de ouvir histórias, apenas me mandaram para o São Paulo. No caminho para lá, vi a linha férrea, mas não me calhou de utilizar o comboio e entender um pouquinho o vosso sistema de transporte coletivo. Do mercado São Paulo para comprar tecidos, nos deslocamos no carrão do adido. Daquela turba de pessoas empobrecidas, saltou um homem muito magro, de olhos estatelados, vermelhos e assustados, dava ordens aos motoristas dos veículos sobre o local para estacionar. Gritava, gesticulava com um braço, com o outro manejava um fuzil antigo. O quadro era tenso e temi que ele disparasse por acidente ou por destempero. No momento da partida, vi que nosso motorista deu algum dinheiro a ele. Fiquei pensando se era um recurso auxiliar ao que as lojas seguradas lhe pagavam ou aquelas moedas recebidas dos motoristas conformavam sua remuneração final. Tu sabes me dizer?
Notei que os seguranças dos bancos, do shopping e das lojas do bairro São Paulo pareciam pertencer à mesma etnia, eram muito semelhantes fisicamente. Será que existe uma linhagem de seguranças, como havia de ferreiros, de pedreiros? Mistérios de Luanda.
Aliás, vi fuzis espalhados por toda a cidade, supostamente para controlar os adultos, e porretes para agredir as crianças na orla gourmetizada. Foi umas das cenas mais violentas a que assisti, um jovem negro com uma barra grossa de madeira ameaçando e batendo em meninos que ousavam pedir água aos frequentadores dos bares à beira do mar cimentado, me lembrei da praia da Barra, em Salvador.
O comércio de rua se intensificou na segunda-feira depois do final de semana prolongado em que as ruas estiveram vazias. Mulheres diversas vendiam quitutes: frituras de mandioca, peixe e bananas; frutas frescas, como abacate, ananás, mamões, cocos, bananas, cana, gomos de cana. Senti o cheiro das palhas da cana no terreiro de casa, quando parentes nos visitavam aos domingos e meu pai escolhia um caule maduro de cana, aparentemente doce, descascava e oferecia a todos.
Na orla, no domingo, observei várias mulheres caminhando em direção à praia com pentes de ovos na cabeça, um fogareiro e potes com um molho vermelho. Por meio de minhas atividades detetivescas descobri que os ovos estavam cozidos e eram servidos com aquele molho e mariscos. Ainda bem, pois, caso estivessem in natura e aquilo caísse, seria um grande prejuízo para as comerciantes.
Os homens, por sua vez, vendiam pastéis na orla. Como eram vários homens carregando embalagem branca similar, coberta por plástico transparente, deduzi que tivessem um fornecedor em comum, mas não cheguei a perguntar.
Fiquei intrigada com os cintos, pares de tênis e sapatos que alguns vendedores carregavam pelas ruas e ofereciam a outros homens, inclusive aos guardas que brotavam de todos os cantos. Mas surpresa mesmo fiquei ao ver um sapateiro com uma roupa alaranjada que me lembrava o uniforme dos garis brasileiros. Quando cheguei bem próximo, percebi que era mesmo a farda dos garis. Como aquela roupa teria chegado até ali? Pode ter sido numa daquelas doações internacionais feitas para vítimas de catástrofes em África. Eu poderia ter arranjado um jeito de conferir a origem da roupa com o sapateiro, mas deixei escapar.
cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-55739270859743092102024-01-29T09:25:00.001-03:002024-01-29T09:25:13.199-03:00“Thereza” | Atlânticos em transe sob a lua de Luanda, por Cidinha da Silva. Ep.3<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdHejM2ghHx8NLe8kda1yWlwqjXFHeHgAdgx_o-s86sIkxyhn-cHvF7xdR6z9KpvwOcyKRFG4UXtI41Dn5mUKwFt8lzrZrJ68J2N7AvjQanFjmHcKG1xhinstDNS2dDUWP1pyVTSd6RYCLf0OYa_1tOjCTSu45hTE4Lo01ZbfigU_sp9n2rlhVC95wQ3Lj/s720/episodio%203%20luanda.webp" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="405" data-original-width="720" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdHejM2ghHx8NLe8kda1yWlwqjXFHeHgAdgx_o-s86sIkxyhn-cHvF7xdR6z9KpvwOcyKRFG4UXtI41Dn5mUKwFt8lzrZrJ68J2N7AvjQanFjmHcKG1xhinstDNS2dDUWP1pyVTSd6RYCLf0OYa_1tOjCTSu45hTE4Lo01ZbfigU_sp9n2rlhVC95wQ3Lj/s320/episodio%203%20luanda.webp"/></a></div>
FOLHETIM | Sesc Pompeia / Ilustração: Okun
No caminho de volta ao hotel, atravessei o terminal de ônibus, ladeei laterais de construções suntuosas à base de muito concreto próximas à orla, nas ruas interiores me deparei com prédios baixos e antigos que pareciam edifícios administrativos.
Metros à frente, um rapaz entre as duas dezenas de homens militarizados do caminho elogiou meus óculos escuros, escorado a uma arma quase do seu tamanho. Achei prudente sorrir, fingindo agrado, agradecer a gentileza e apertar o passo. Concluí, kota, que a rua é mesmo assim, dá o lenitivo de que você precisa, mas logo te desafia.
Era domingo, dia de praia. Gente negra a perder de vista, mais do que no piscinão de Ramos, no comércio de Madureira ou nas praias do subúrbio ferroviário de Salvador. Gente negra como nunca vi. Nenhum pingo de leite no meio. Praia de pobres. Findo o dia extenso que só terminaria com o cair da noite, o pessoal caminharia por quilômetros até as casas, uma hora, hora e meia no asfalto quente.
Avistei Thereza. Ela se acocorou, recostou-se a um muro de madeira que protegia a construção de um novo empreendimento comercial, colocou o vestido entre as pernas e acomodou a peneira com os pacotinhos de amendoim açucarado. A bolsa de dinheiro ela escondia junto do peito. Cinquenta kwanzas custavam os saquinhos menores, 100 kwanzas, os mais providos.
Dirigia-me ao Fortaleza para jantar meu bacalhauzinho costumeiro, passei pertinho de Thereza e tentei cumprimentá-la, mas Thereza não me viu. Thereza era bonita, muito bonita, e eu disse isso a ela. Ela sorriu, pareceu feliz ao ser elogiada. Notei também a beleza do sorriso e me perguntei como conseguia mantê-lo saudável, em meio a tanta pobreza. Que sumo de folhas locais sustentaria o charme e a saúde daqueles dentes diastêmicos?
Conto-lhe que meu pai fazia daquele amendoim para mim e para meus irmãos quando éramos crianças. Por algum motivo ela depreendeu que eu não sabia prepará-los e se prontificou a me ensinar: a cada quilo de amendoim, dois quilos de açúcar. Explicou-me como preparar a calda, mas decidiu que precisaria me levar até sua casa para me ensinar direito. Também encontrei pelas ruas de Luanda uma versão de coco açucarado dos meus dias de infância.
Thereza tinha 29 anos, uma filha de 15 que vivia com ela e um filho de 12, cujo paradeiro não mencionou. Moravam no bairro Boa Vista, para o qual ela seguiria a pé se não conseguisse um táxi que não ultrapassasse os 150 kwanzas. Se vendesse todos os saquinhos de paracuca, se o pessoal da praia comprasse tudo para segurar a fome na longa caminhada que fariam até as respectivas moradas, Thereza obteria entre 400 e 600 kwanzas. Comprei três pacotes grandes de paracuca e paguei com uma nota de 1.000 kwanzas. Antes que ela contabilizasse o troco, disse-lhe que era dela. Como você sabe, kota, aquela foi uma operação feita com 10 reais. Dez reais! Prometi que iria à casa dela quando voltasse a Luanda.
cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-19935743479274212442024-01-26T09:25:00.001-03:002024-01-26T09:25:37.625-03:00Samba, amor e Hip Hop<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_sLlbGTnIeJQvQqgJzfM0dQMagBmVbewfy6iVOFZOwOM_m23Sc8him40Z3wF5Ul3FjZbR_N7ChPp_7Cd88a6kbF8MHn3PuVT99SXH46KnqrS8ruApfUOvSHTZ93wyAaOUzqXXehlW8zTuXBIU4xKZwG79fPQlmYxrQ4l-4GUDEiiebyJA9GacPERxqvum/s1600/WhatsApp%20Image%202024-01-22%20at%2017.21.23%20%281%29.jpeg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="1600" data-original-width="1200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_sLlbGTnIeJQvQqgJzfM0dQMagBmVbewfy6iVOFZOwOM_m23Sc8him40Z3wF5Ul3FjZbR_N7ChPp_7Cd88a6kbF8MHn3PuVT99SXH46KnqrS8ruApfUOvSHTZ93wyAaOUzqXXehlW8zTuXBIU4xKZwG79fPQlmYxrQ4l-4GUDEiiebyJA9GacPERxqvum/s320/WhatsApp%20Image%202024-01-22%20at%2017.21.23%20%281%29.jpeg"/></a></div>
A quem nunca viu o samba amanhecer, Geraldo Filme aconselhava que fosse ao Bixiga para ver, ao quilombo da Saracura, à sede da Vai-vai. Fomos, não é meu bem? Agora, na Tabatinguera, sem a lua da 14 Bis, mas com flashes bonitos registrados por sua câmera.
O Hip Hop tinha dez anos no Brasil, quando cheguei a São Paulo. Conheci tanta gente menina que hoje está cinquentando, gente que reencontrei na quadra da Vai-vai para celebrar o Hip Hop no samba-enredo do ano. Teve aquela moça que me chamou e quando parei, apresentou-se como frequentadora do Projeto Rappers, de Geledés. Ela achava que eu não me lembraria dela, mas é lógico que me lembrei, só que troquei o nome pelo da irmã que estava mais à frente. Ela me pegou pela mão e me conduziu até a mana, nos cumprimentamos e me vi diante de Donna Summer, pronta para se jogar na avenida.
Depois, comentei contigo que elas pareciam ter crescido, eram tão pequenas e franzinas. Fiquei fazendo contas, pensando no limite da idade de crescimento das meninas. Você me perguntou se eu tinha olhado o pé dela. Respondi que não. Qual pé, o esquerdo ou o direito?Ela tinha algum problema no pé? Você suspirou e corrigiu: “os pés, amor, os pés”. Olhei e não vi nada de errado. E você me disse: “não se trata de erro, mas de explicação, olha o salto, o tamanho da plataforma”… Sim, as jovens senhoras trocaram os tênis e sapatinhos mocassim da adolescência, a calça jeans e camiseta ou camisa quadriculada, os cabelos curtos e o rosto sem filtro por maquiagem forte, roupa de couro delineante, salto alto e cabelos de fazer inveja a Lady Zu. É, nosso tempo é mesmo espiralar, como nos ensinou a Rainha Leda Martins.
Discoteca dos anos 70, James Brown, Nelson Triunfo dançando na abertura de Dancin’Days e agora na comissão de frente da escola que o reverencia, escola de samba, escola de break, escola de artes negras. As Frenéticas nos fustigando: “abra suas asas, solte suas feras, caia na gandaia, entre nessa festa; eu quero ver seu corpo, lindo, leve, solto; me leve com você”.
Me leva? Vamos para o samba, meu bem. Vamos ver a velha guarda ensinando a etiqueta da agremiação ao pessoal mais novo, as mulheres na arquibancada com as crianças que já sabem sambar, mas ainda mamam e dormem sugando o peito delas; o samba do amanhã, a ala das crianças atenta à coreografia da mulher divertida que as orienta; os tiozões do Rap distribuindo sorrisos e apertos de mão e a rapaziada que pegou o bastão, coreografando e cantando o papo reto, a ideia que não faz curva no enredo da Vai-vai.
Na canção de Lady Zu que me habita desde a infância, o eu lírico diz que vai dar tudo de si para alguém (não fica explícito que seja um homem) e finaliza afirmando que sempre desejou ouvir da outra pessoa que, sem ela, não podia viver. O arremate da letra oferece um gênero para o eu lírico e crava “diga que a vida é mais linda, se eu for a sua mulher”. A ver, Lady Zu sabe das coisas, já sabia naquela época. O pessoal, atento a outro poeta, continua fazendo samba e amor até mais tarde e reclamando do sono pela manhã.cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-43379473162033630302024-01-14T13:41:00.000-03:002024-01-14T13:41:14.166-03:00Porto de Luanda: o caminho sankofado“Porto de Luanda: o Caminho Sankofado” | Atlânticos em transe sob a lua de Luanda, por Cidinha da Silva. Ep.2
FOLHETIM | Sesc Pompeia / Ilustração: Okun
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwh3PLgTZlxuJ2obLkmNoNf6fOoY0Sb6j9rx35n88yYIkbt8gBmFf0cVE3yJpanUGMcG2ypMkK8oNunYxixB5L0ONfQ6VjobGKIU5gxU7pekbFeniAcSHfw82Vu_I5CgSZ5usUyx0typEtRxfg90_hIkvkN13brmdjdMkaJkPc0r7r6loNrt04qX9YDrWG/s720/porto%20de%20luanda.webp" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="405" data-original-width="720" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwh3PLgTZlxuJ2obLkmNoNf6fOoY0Sb6j9rx35n88yYIkbt8gBmFf0cVE3yJpanUGMcG2ypMkK8oNunYxixB5L0ONfQ6VjobGKIU5gxU7pekbFeniAcSHfw82Vu_I5CgSZ5usUyx0typEtRxfg90_hIkvkN13brmdjdMkaJkPc0r7r6loNrt04qX9YDrWG/s320/porto%20de%20luanda.webp"/></a></div>
O mar vinha até aqui, depois aterraram tudo, cimentaram. A Odebrecht se meteu a construir esses prédios, essa fachada. A Dubai angolana, estás a ver?
Até o outro lado da marginal, que ainda não havia, era tudo mar, mas mataram a água. Interromperam o fluxo das ondas, das algas, e a água morreu. Virou esta podridão, uma lixeira. E um mundaréu de gente que não tem uma vivenda corre ali a construir um barraco e logo, logo, temos um musseque, e crianças que morrem de diarreia, febre tifoide, fome, desnutrição.
O mar tomava conta dessa marginal, não existia o Fortaleza. Tínhamos o Forte mais para dentro, invadiram o terreno para construir o shopping, como fazem com tudo o que é histórico, cá não tem vez a História, mana.
O governo de quando em quando aparece e acaba com o musseque, dispersa o pessoal. Daí a pouco outra massa depauperada se aglomera no charco e constrói as moradas que o destino de viver como ratos lhe impõe.
E seguem nessa alternância entre o musseque e as periferias onde não há escolas e não há transporte público. A frequência às escolas mais distantes é dificultada pela necessidade de deslocamento em autocarros, a maior parte da gente não pode pagar. Como resultado, a presença dos estudantes na sala de aula é quase sazonal, e a perda do ano letivo é elevada.
Na estação das chuvas tudo piora, e o precário sistema de transportes disponível deixa de funcionar, haja vista a quantidade absurda de lama, a qual os carros velhos e deficitários não têm tração para enfrentar. Além disso, avolumam-se os acidentes no sistema de eletricidade das casas e pessoas morrem em decorrência deles. Água e fios desencapados não combinam, estás a ver?
Os dois governos que tomaram conta de tudo no pós-independência prometeram um país à juventude, mas esse país não foi entregue, e o tempo da fartura, ou pelo menos da estabilidade econômica, nunca chegou. Não chega. A guerra e a corrupção ampliaram o fosso entre os ricos muito ricos e os pobres, e entre estes e os miseráveis. Não há solução, e para viver, as pessoas precisam se alimentar, e se conseguem qualquer tipo de trabalho, qualquer um, é a possibilidade de comer que precisa ser agarrada de todos os modos. Moradia em condições desejáveis e adequadas é detalhe, luxo.
Eu me pergunto, mana, que diferença há entre esses tempos de agora e aqueles em que éramos capturados e trazidos dos interiores d’Angola e passávamos pela região do aeroporto, e caminhávamos amarrados, enfileirados, seminus pela Rua dos Mercadores, e éramos depositados nos quintalões, acorrentados, feridos e famintos, e aguardávamos por um futuro desconhecido, para o qual embarcaríamos no Porto de Luanda, um caminho sem volta feito por cima das águas.
É o que me pergunto todos os dias, quando vejo a miséria se alastrar como mato. E nossos jovens a migrar para, como tu me disseste, minguar no teu país, para definhar na mendicância ou no crack. Se aqui tinham emprego, terra ou automóvel, algum posto familiar herdado da guerra, alguma economia da vida toda, vendem o que têm, endividam-se, prometem pagar depois de estabelecidos no Brasil. E tu me contas como sofrem ao trocar os ganhos certos, mesmo que insuficientes daqui, pela realização de sonhos que derrapam no pesadelo racial que é o Brasil. Como não conseguem integrar os 20% que logram legalizar a situação e pululam nos abrigos à espera de qualquer doação, e enlouquecem, e perambulam pelas ruas das metrópoles, vendem barato a força de trabalho e são mortos porque cobram pagamentos atrasados, como aconteceu àquele congolês, tão moço ainda, que lástima. Que Áfricas somos nós, minha irmã? Onde, nas Áfricas que construímos fora do continente, cabem nossos sonhos de liberdade, nossos infinitos?cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-69355799716095152292024-01-14T12:47:00.001-03:002024-01-14T12:47:05.904-03:00Tire seu cavalinho da chuva, ele pode "pegar" pneumonia<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtFyjDZuC2mRCf8WVQyvmopt9jnrAR8IVKXRHsbMCPDlYK-H8lzJ5xNzerUnhD5Jqf9si9mjoEZxU2ovBapZLtOgafd1Z76texMxE7I2LwFFBon64RiGFZ8n_DELk6w87qXrZH9mpDbH8OSoOMC14gL2xsdYgDgJBe3dEf5nN44hjzT-yrJETFT-NIN3OF/s1080/tretas.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="1080" data-original-width="1080" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtFyjDZuC2mRCf8WVQyvmopt9jnrAR8IVKXRHsbMCPDlYK-H8lzJ5xNzerUnhD5Jqf9si9mjoEZxU2ovBapZLtOgafd1Z76texMxE7I2LwFFBon64RiGFZ8n_DELk6w87qXrZH9mpDbH8OSoOMC14gL2xsdYgDgJBe3dEf5nN44hjzT-yrJETFT-NIN3OF/s320/tretas.jpg"/></a></div>
1 – Assim falou Zarathustra: o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é o dicionário (recomendo escutar a versão da Orquestra Sinfônica de Viena).
2 – A treta não é uma tática válida para mim como impulsor de carreira.
3 – Se algum dia eu tretar com alguém, será com uma pessoa mais importante do que eu, mas, muito, muito mais importante, um pouquinho não servirá (parece que a lógica das tretas é mordiscar alguém grande para tentar conseguir “ibope” para o seu lado).
4 – Se alguém quiser debater comigo, cite meu nome, referencie meu pensamento, proponha um debate político honesto. Tenho inúmeras publicações e diversas entrevistas, nas quais discuto ideias, leia-as. Se seus argumentos forem bons e se a proposta de diálogo for séria (não uma escadinha para suas pretensões de visibilidade midiática), armamos o tempo da conversa (sempre pública).
5 – Quero viver na paz de Oxalá, sem me esquecer que Oxaguiã é o senhor da guerra.cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-75285259171690537662024-01-08T09:30:00.001-03:002024-01-08T09:30:13.468-03:00Um Exu em Nova York na Telona!<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbkukch0efL7vYlFSUNM5fMgGP3xUz_5FfJjv9sH5bd9yUXmSyMsp7UZOM3tEQiC4e_FnhEPwQG_rnjNLCZvWnaf_fRcglF2j5JAmWcx35-FuGi6imsNsOpVGUtxAypuzTrxBH2Qm94ClhQXgk3MzVOEADwEP_P_nYRlXXGhy9rhUSEOoKVdEFfL3dv_Uf/s1080/410912268_930956298392137_8107342872178306067_n.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="1080" data-original-width="1080" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbkukch0efL7vYlFSUNM5fMgGP3xUz_5FfJjv9sH5bd9yUXmSyMsp7UZOM3tEQiC4e_FnhEPwQG_rnjNLCZvWnaf_fRcglF2j5JAmWcx35-FuGi6imsNsOpVGUtxAypuzTrxBH2Qm94ClhQXgk3MzVOEADwEP_P_nYRlXXGhy9rhUSEOoKVdEFfL3dv_Uf/s320/410912268_930956298392137_8107342872178306067_n.jpg"/></a></div>
Vai ter conto do livro Um Exu em Nova York no cinema. Será rodado em Minas Gerais. É o que podemos adiantar, por enquanto. Você que já leu a obra, conta para a gente nos comentários, qual é a sua aposta?
( ) Mameto
( ) Sá Rainha!
( ) O homem da meia-noite
( ) Lua cheia
( ) I have shoes for youcidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-63216859051410201682024-01-05T14:54:00.004-03:002024-01-05T14:54:45.495-03:00Caetano pela batuta de Xande de Pilares e Pretinho da Serrinha
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjz7WsTWhlsdnjKzB8PfPiW2_wHefOZJ5Cotdu_kz2FoSW3Lb2zhQloc_Njdf140pM13mHi4f83_zoNob-t4IzwuD1YZj0q_QD7kURf6X4JNa5SXpa_QgOuIlqSz3Ymb3oVJnUdtPNLVpf5uyNpiQSMK1STtarnNmWHVAJIH-RLq7YmCf8bz9pHl67DxCpm/s1024/Xande.jpg.webp" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="628" data-original-width="1024" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjz7WsTWhlsdnjKzB8PfPiW2_wHefOZJ5Cotdu_kz2FoSW3Lb2zhQloc_Njdf140pM13mHi4f83_zoNob-t4IzwuD1YZj0q_QD7kURf6X4JNa5SXpa_QgOuIlqSz3Ymb3oVJnUdtPNLVpf5uyNpiQSMK1STtarnNmWHVAJIH-RLq7YmCf8bz9pHl67DxCpm/s320/Xande.jpg.webp"/></a></div>
Querido Xande,
Querido Pretinho da Serrinha,
Que presente esse disco do Xande cantando Caetano. Eu me dirijo aos dois porque o canto é lindo, mas os arranjos emprestam ao disco um mar de encantos e caminhos que nos levam a tantos lugares: a Pixinguinha, às quadras de escola de samba, às rodas de partido alto, à Serrinha, a Dona Ivone, ao samba de roda, à Espanha, a Jorge Benjor, ao Ijexá, aos afoxés, aos terreiros, às rodas de choro, aos cabarés, às boates e seus grandes intérpretes dos anos 60 e 70, a Caymmi, ao pagodinho dos 90, às sinfônicas do Recôncavo, à música preta contemporânea e suas misturas todas.
Quando vi Caetano chorando de emoção num estúdio em que vocês mostravam as músicas a ele, ainda não conhecia o álbum e pensei que predominava ali a alegria de saber que vocês o colocariam na boca do povo; você, Xande de todos os lugares do Rio, levaria Caetano para a favela. Ele que depois de seis décadas de música e de intervenção transformadora na cultura brasileira talvez ainda não componha o repertório cantado pelo povo, mesmo tendo sido trilha de novelas. Caetano, embora fundamental, continua debutando num universo de sofisticação que não é alcançado por todos. Mas depois de ouvir o conjunto de canções, imperou a sensação de que o velho Caetano deve ter chorado pela beleza.
Ouvi as músicas em sequência e quando cheguei a O amor, eu mesma chorei e choro todas as vezes que ouço. Uma saudade de Gal, uma dor por não a ter mais entre nós, por tê-la perdido em sofrimentos, aos quais também estamos sujeitas, e frágeis, como ela, podemos sucumbir, entristecidas e impotentes. Aquele poema de Maiakovski, agora na sua voz, Xande, o herdeiro de Tantinho, Bezerra, Jovelina, Leci e Zeca, o partideiro: “ressuscita-me lutando contra as misérias do cotidiano, ressuscita-me para que ninguém mais tenha que sacrificar-se por uma casa, um buraco”.
Seria redundância dizer que o trabalho de vocês é obra de arte, da melhor que nossa gente sabe produzir, porque a gente quer luzir. Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome.cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-49784787952760435872024-01-04T20:51:00.000-03:002024-01-04T20:51:16.899-03:00Atlânticos em transe sob o lua de Luanda - "Os quintalões" (episódio 1)“Os Quintalões” | Atlânticos em transe sob o lua de Luanda, por Cidinha da Silva. Ep.1
FOLHETIM | Sesc Pompeia
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggsvN9_PxvmkQup1jhXTzB1sTMDTnDXKCUeNob10jpxSBe4CVxT4hGjefrpmXbkLlkB_lh8JX_pLb3F9UV1TOUKbYZ4bY2UUp4wiRWtSavxKTiGvQrgK_tCIQ269b5IIRq4op9-kopG_aGPueDkO8V3R-u_bnnD2sJ_QI8iJ5LXlyr2EIDBL2_FTb5bc-y/s1400/os%20quintaloes.webp" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="787" data-original-width="1400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggsvN9_PxvmkQup1jhXTzB1sTMDTnDXKCUeNob10jpxSBe4CVxT4hGjefrpmXbkLlkB_lh8JX_pLb3F9UV1TOUKbYZ4bY2UUp4wiRWtSavxKTiGvQrgK_tCIQ269b5IIRq4op9-kopG_aGPueDkO8V3R-u_bnnD2sJ_QI8iJ5LXlyr2EIDBL2_FTb5bc-y/s320/os%20quintaloes.webp"/></a></div>
Ilustração: Okun
Fui até lá para dar materialidade ao pensamento e às palavras. Escorei as mãos entorpecidas no muro baixo da casa velha e bati os pés no chão para avisar aos joelhos trêmulos que eu permaneceria firme, chegara até ali e não retrocederia, mesmo que o terror me deixasse em apoplexia e eu só conseguisse movimentar os olhos. O coração batia sincopado e triste, profundamente triste, frente às argolas dependuradas nas paredes e em postes de madeira carcomidos. As mesmas argolas no Museu do Ouro, em Sabará. As argolas dos Flats Senzala, no interior de São Paulo, em Porto de Galinhas, no Rio de Janeiro.
Ali éramos colocados, até que nos conduzissem ao porto de Luanda, à porta do não retorno, ao lugar onde séculos depois construiriam o hotel Continental em que me hospedaram, e eu não tinha ideia de que estava no pedaço de terra de onde me arrancaram, me colocando num barco para atravessar o mar da incerteza, onde tantos de nós morreríamos, no qual muitos de nós seríamos lançados ainda agonizantes.
Meu espírito fugia do corpo, por pouco não tombei. Onde, um lugar de descanso para esse velho coração? Continuar em movimento era o que me alentava.
As perguntas feitas por minha kota estouravam meu cérebro: o sentido de diáspora nos levaria a acolher aqueles que conseguiram evitar a captura em Angola e agora migram para a terra tupiniquim? Haveria, entre nós, um sentimento de irmandade, de coletividade? Onde, nas Áfricas que inventamos, cabem nossos infinitos, nossos sonhos de liberdade?
A imagem mental do quintalão me paralisava, eu precisava exuzilhar aquilo para conseguir mover o corpo outra vez. As respostas não vinham, a kalunga grande não me respondia, a lua e o pôr-do-sol abóbora-iansânico de Luanda também não.
Andei em direção a um terminal de ônibus, pensava em desbravar qualquer bairro para o qual o coletivo me levasse, contudo, não tendo providenciado um chip local para contactar carros de aplicativo em caso de necessidade, resolvi não me arriscar em lugares novos. Eu não tinha telefone, essa era a situação, e então me circunscrevi aos trajetos conhecidos.
As ruas estavam vazias, à exceção do sem-número de guardas e lavadores de carros. Entre as dúzias de trabalhadores que labutavam nas ruas de Luanda e faziam gato do encanamento público para executarem seu trabalho, observei um rapaz que aproveitou o calor e a abundância de água para se banhar, devidamente vestido, enquanto cantava “é devagar, é devagar, é devagar, é devagar, devagarinho”. Perto dele, em local protegido da água que escorria tranquila pelo chão, avistei os tênis surrados e uma pequenina calabaça que atomizou meu sangue. Exu me sorriu, terno, sempre por perto, requerendo atenção para percebê-lo.
Aquela cabaça, a música do Martinho me convidando à desaceleração e aquele jovem negro lutando pela sobrevivência e se limpando da sujeira do mundo foram como uma infusão forte de camomila e espinheira-santa nas minhas entranhas fervilhantes depois do quintalão.
cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-48233381740543192362024-01-04T17:46:00.002-03:002024-01-04T17:46:24.011-03:00Denise Assunção, obrigada!<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguDu2WbHILbFq8_Z1J5NtS6ITI80QXM8FB1fUto2JwPga8kHrQZt3PVeklAUk9cSqew8ifeSzieTatQPse2JHRlpgazN6vCrXhRgJzgEn_-_LYz5X0nxZAwY57X4JhWxSQA0JVd61jLtqFVAjVieRT06nKdWUgfHsggodgSYDOsumRZIg0SJzN6SEralbk/s678/denise%20assun%C3%A7%C3%A3o.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="452" data-original-width="678" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguDu2WbHILbFq8_Z1J5NtS6ITI80QXM8FB1fUto2JwPga8kHrQZt3PVeklAUk9cSqew8ifeSzieTatQPse2JHRlpgazN6vCrXhRgJzgEn_-_LYz5X0nxZAwY57X4JhWxSQA0JVd61jLtqFVAjVieRT06nKdWUgfHsggodgSYDOsumRZIg0SJzN6SEralbk/s320/denise%20assun%C3%A7%C3%A3o.jpg"/></a></div>
POR KIL ABREU: Denise Assunção, "A maior bandeira brasileira". Além da música, cruzou a inauguração da nossa cena contemporânea dirigida pelo Antunes Filho em 'Macunaíma', no final dos anos 70; e estava na volta do Oficina, no início dos 90, na encenação do Zé Celso de 'Hamlet'. Mais recente nós a vimos, brilhante, junto com os mais jovens na versão audiovisual de Antígona - 'Antígona terceirizada' (foto), projeto do dramaturgo Victor Nóvoa.
Subiu para cantar com o Itamar. Salve ela.cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-49365240069045829562024-01-04T10:43:00.001-03:002024-01-04T10:43:43.580-03:00ATLÂNTICOS EM TRANSE SOB A LUA DE LUANDA , uma novela de Cidinha da Silva , estreia hoje na plataforma Medium <div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKE4J2tAq7vv0hpAY20kyzVI7IA2vKjS8zKxBMK5zpFMy910Vv_iy1OaCvJoLPa761eTPR_ttQuthu6N8dj29kU9LHJ-k896RqU_bTwKCI_FU_AjtcIHnuXGBDhzsvgFqgKU_srxJ2lBkeXZOEOjQWNTu67b5ip35B4ao1lF40Yj2XZ2dw2t04A9FvJW2E/s1080/Post%20do%20instagram%20sobre%20aula%20de%20patina%C3%A7%C3%A3o%20vintage%20em%20azul_20240104_080311_0000.png" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="1080" data-original-width="1080" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKE4J2tAq7vv0hpAY20kyzVI7IA2vKjS8zKxBMK5zpFMy910Vv_iy1OaCvJoLPa761eTPR_ttQuthu6N8dj29kU9LHJ-k896RqU_bTwKCI_FU_AjtcIHnuXGBDhzsvgFqgKU_srxJ2lBkeXZOEOjQWNTu67b5ip35B4ao1lF40Yj2XZ2dw2t04A9FvJW2E/s320/Post%20do%20instagram%20sobre%20aula%20de%20patina%C3%A7%C3%A3o%20vintage%20em%20azul_20240104_080311_0000.png"/></a></div>
Corre no Medium pra ver. Procura lá o primeiro capítulo de ATLÂNTICOS EM TRANSE SOB A LUA DE LUANDA , uma novela de Cidinha da Silva https://folhetimsescpompeia.medium.com/cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-75741556945011419712024-01-03T11:52:00.004-03:002024-01-03T11:52:45.393-03:00Atlânticos em transe sob a lua de Luanda<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjooy0-GgMODj3Nq2tdedjYG1bKX083Jy5n_uallbKx9FdxLYTEl6fNcgjbzqzvLgrRqRIiN1RKyX39kCufxP-kPLPWpa00jooIRmtMcniDbbm5UhA1vTspzXpAet6_jmGFfq2yRqCygiUEuv4WM8RyMkBxr90FjUB46DIKxf8JpDtZZW1lUAm4EFm2acSB/s1080/413191223_1459953891257531_4321912534272932737_n.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; clear: right; float: right;"><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="1080" data-original-width="1080" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjooy0-GgMODj3Nq2tdedjYG1bKX083Jy5n_uallbKx9FdxLYTEl6fNcgjbzqzvLgrRqRIiN1RKyX39kCufxP-kPLPWpa00jooIRmtMcniDbbm5UhA1vTspzXpAet6_jmGFfq2yRqCygiUEuv4WM8RyMkBxr90FjUB46DIKxf8JpDtZZW1lUAm4EFm2acSB/s320/413191223_1459953891257531_4321912534272932737_n.jpg"/></a></div>
ATLÂNTICOS EM TRANSE SOB A LUA DE LUANDA é meu primeiro trabalho de 2024, publicado como folhetim, na série de mesmo nome do Sesc Pompeia (SP). As ilustrações são da artista goiana Okun (@okun_) e vou conhecê-las junto com vocês, a cada semana, a cada capítulo.
O texto registra algumas impressões ficcionais da primeira viagem tardia que fiz a Angola, segundo pais que conheci no continente africano, depois da África do Sul.
Foram apenas cinco dias em Luanda e ainda pegamos um feriado que deixou a cidade vazia e o comércio fechado, mas sorvi cada minuto, como quem mata uma sede antiga.
ATLÂNTICOS EM TRANSE SOB A LUA DE LUANDA registra uma memória ficcional do primeiro e definitivo encontro com a minha origem. É de lá que eu vim, é o que meu coração me disse, à revelia de qualquer estudo genético. Esse texto é o início de um projeto maior. Aguardem.
Assim que o Sesc Pompeia liberar o primeiro capítulo, divulgo por aqui. Fiquem de olho.cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6361734032888511652.post-5367151379276921202023-12-22T10:41:00.005-03:002023-12-22T10:41:54.979-03:00Carolina de Jesus seria classificada no prêmio literário que leva seu nome?<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgymaUKfrWKPYcGclhB6yDcB05PCrOdhqLRybXyieCEZS2oXBCbv1pDg7p6Q2-I3z80X2KbmFNJHL8S45MRu32pJMnEHdo5DaFgpHAnoCMhc3rOJZOyWFP2cM59tS2P-dbW1SfLYs3AE6zihzeTxdFIz7PHZE4lbODNyZWAgc8SePk380vdmdlO3R39ymkw/s1024/carolina-maria-de-jesus-910x1048-1-889x1024.jpeg.webp" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="1024" data-original-width="889" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgymaUKfrWKPYcGclhB6yDcB05PCrOdhqLRybXyieCEZS2oXBCbv1pDg7p6Q2-I3z80X2KbmFNJHL8S45MRu32pJMnEHdo5DaFgpHAnoCMhc3rOJZOyWFP2cM59tS2P-dbW1SfLYs3AE6zihzeTxdFIz7PHZE4lbODNyZWAgc8SePk380vdmdlO3R39ymkw/s320/carolina-maria-de-jesus-910x1048-1-889x1024.jpeg.webp"/></a></div>
" O século XXI tem testemunhado o surgimento de escritoras que “se descobrem escritoras e se autorizam a sê-lo”. Leituras de textos fundamentais de Audre Lorde, Glória Anzaldúa, bell hooks, Conceição Evaristo, entre outras, têm embasado essas autodeclarações de mulheres não-hegemônicas que escrevem. “Escrevo, sou escritora!” Ninguém se arrisca a problematizar a legitimidade deste tipo de declaração ancorada no desejo de ser escritora e numa vivência (em muitos casos, um discurso coletivo que representaria um número maior de mulheres socialmente subalternizadas) que dá corpo e voz a demandas, experiências, fazeres e formas de sentir e de viver invisibilizadas, esmagadas pela literatura canônica das que têm “um teto todo seu” para escrever.
Em concomitância à autorização para ser escritora, temos o exercício autoficcional ou escrevivente que, no texto, debruça-se sobre traumas e quer curá-los por meio do ato da escrita. Popularizou-se a ideia de “uma literatura que cura” e reivindica-se espaço para ela. Outra vez, algo legítimo, mas, como o jogo não está ganho, tudo ainda está em disputa, na minha condição particular de escritora negra posso refutar a ideia de que “escrevo, portanto, sou escritora”, afirmando que “canto, gosto de cantar, mas não sou cantora”. Ou seja, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Profissionalizar-se no exercício de um ofício, no caso, a escrita literária, é diferente de escrever para sobreviver à dor, para emancipar-se, para sonhar e ser livre, embora você possa fazer isso tudo na escrita profissional. Não são temas e funções excludentes."
https://rascunho.com.br/cronistas/cidinha-da-silva/carolina-maria-de-jesus-seria-premiada/cidinha da silvahttp://www.blogger.com/profile/03670012906957240021noreply@blogger.com0