Crônica da semana

Um Outro Olhar Sobre a Cueca Aquele foi um ano imortalizado pelo transporte de dinheiro na cueca. Ficou até parecendo coisa de serial killer. Ensina a justiça forense que quando a imprensa divulga detalhes sobre o modus operandi de um serial killer, aparecem vários candidatos a maníacos, que, em busca de notoriedade, resolvem imitá-lo. Com o dinheiro na cueca foi a mesma coisa. Cada dia o transporte era feito por um novo mensageiro. De mais a mais, nestes tempos de homem-objeto e revistas especializadas em vender a imagem nua dos homens-objeto, a cueca não é mais um acessório escondido, insignificante, não senhora! Hoje, as opções cuecais são tão importantes quanto a camisa, o estilo da gravata, o tecido da calça, etc. Não é raro ouvirmos nas mesas de bar, moças irrequietas comentando sobre o tipo de cueca pendurada no varal de um paquera, ou sobre a marca que se enunciou quando o outro paquera cruzou os braços, a camiseta curtinha subiu e se anteviu então o estilo da cueca do rapaz. Não é a toa que milhões têm sido investidos nas propagandas de cuecas. Considera-se a cor, o design, a legenda da borda, a combinação com algum detalhe da marca da camiseta ou tênis. Tudo isso é moda. Mas não pensem que todos os homens aprovam o lugar de destaque conquistado pela cueca no imaginário de consumo hetero-feminino. Tem muito homem que ainda acha que isso é coisa de viado ou outra afronta qualquer à sua macheza. Perto da minha casa, por exemplo, um desses machos se manifestou. De um lado da avenida tem um posto de gasolina. Em frente tem um out door e no out door tinha um homem dourado, fazendo propaganda de cueca. As duas mocinhas passaram e quase quebraram o pescoço olhando para o modelo e desejando coisas inconfessáveis. O frentista do posto de gasolina, irritado com a cena e com a vida, provavelmente, segura os genitais e grita para elas – aqui, oh... Rude engano. Ele acha que as coisas dele têm o mesmo valor e apelo erótico das coisas do homem dourado. Talvez porque sejam ambos brancos e ele ache que a sua brancura lhe coloca em condição de igualdade com um homem bonito, recém saído do banho, produzido e perfumado. É tanto perfume que o out door desprende uma fumaça cheirosa, como fosse uma banheira de águas medicinais. Um homem relaxado, em posição de coma-me. Sim, porque um homem-objeto que se preze deve dar à mulher a sensação de que é um garoto de clube de mulheres - pronto para ser cheirado, apalpado, mordido e beliscado. Mas isso tudo é coisa de viado, pensa o frentista branco do posto. O que mulher gosta mesmo é de ser comida, até com violência, porque umas gostam de apanhar. E homem que é homem fede a gasolina. Mulher é quem tem que se lavar. (ilustração: Livia Lima)

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