Tridentiando 7

“Então é da coragem que vamos falar primeiro, não é?. O meu tom para encontrar esta coragem na sua literatura tem a ver com uma coisa muito íntima, que costumo carregar: a sobrevivência através da literatura. Uma vez que escrever é se manter vivo às expectativas; às previsões; às providências; aos sonhos. É muito maior que uma coragem que esmera denúncia; que dita força braçal a qualquer custo. A coragem que detecto ali, no meio absurdo em que as coisas acontecem, é aquela visão de necessidade da escrita como meio de revolta/solução ao nosso arredor. Ter coragem é escrever contra, ao mesmo tempo que é, também, escrever a favor da vida, entende? O seu texto tem a carga desta força. Uma força de impressão que não vela olhos e bocas, ao surrar e ser surrado na e pela palavra escrita sobre o cotidiano. Ter coragem, para mim, no seu texto, é se assumir como autor implícito (aquele que fala pelo autor empírico somente na narrativa) na hora de assinar um cheque. Um xeque-mate contra todo o desespero, de uma nossa impermanência, de uma nossa inconsistência com as coisas simples. Ter coragem é exagerar no imperceptível das coisas invisíveis, que, aliás, para mim quem as inventou foi o Manoel de Barros. Para resumir, a coragem é a única força capaz de nos levar a retirar um papel torto, pra anotar um cumulozinho daquela descrição, na hora exata que você olhou o absurdo em sua volta, parou, olhou novamente, reconsiderou, e, quem sabe, teve de chorar pra acreditar no acontecido. Bom, é quase isso o que eu penso sobre essa CORAGEM. Agora vamos passar à frente. A sua linguagem literária é veloz e metafórica, com transposições de quadros que nos deixa uma impressão de um preenchimento natural, para este espaçozinho entre as trocas. Entre cada final de quadro e, conseguinte, começo de outro, o que chamamos de limiar, é possivel, na sua escrita, mapear uma referência natural em nosso histórico de vida. Vou ilustrar. No conto (viu, que absurdo?! ha ha) Avelha na soleira da porta, ao final do trecho: "Ela receberá presentes levados pelos homens e eles conversarão com ela. Conversas cujo teor ninguém saberá". Fica aí, um universo de expectativas que o seu narrador cria em torno do mistério de quem, que tipo de pessoa seria a velha, e que tipo de morte e vida ela teve (prostituta!?). Estas indagações fazem parte de um conteúdo pragmático-metafórico que remete o leitor ao seu desdobramento poético. Ainda que este não tenha conhecimentos sobre o que é a poesia da linguagem comum. Então, torna-se uma questão de democratização do saber/sentir poético. É assim que os personagens tomam vida, e se manifestam através da sua literatura”. (quase anônimo 10)

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