Morreu o escritor sudanês Al-Tayyeb Salih

(Fonte: LUSA - Agência de Notícias de Portugal). "O romancista sudanês Al-Tayyeb Salih, um dos mais importantes escritores da literatura árabe, faleceu dia 18/02 em Londres, aos 80 anos, após doença prolongada, informou a agência de notícias sudanesa SUNA, citando um comunicado do gabinete presidencial do Sudão. De Al-Tayyeb Salih está traduzido em português, na editora Cavalo de Ferro, o romance "Época de migração para norte" (em Portugal)/"Tempo de migrar para o Norte" (no Brasil, Planeta), que o tornou mundialmente conhecido e que a UNESCO integrou na sua Série de Obras Representativas da Humanidade. Nascido em Dabba, norte do Sudão em 1929, Salih licenciou-se em Literatura na Universidade de Cartum e prosseguiu os estudos, nos anos 50, na Universidade de Londres y Exeter, no Reino Unido. De regresso ao seu país, foi professor, antes de ser contratado pela cadeia britânica BBC em língua árabe. Trabalhou depois para o ministério da Informação do Qatar e fez parte do Departamento de informação da UNESCO em Paris. Encontrava-se exilado em Londres há alguns anos. Declarado em 2001 "o romance árabe mais importante do século XX pela Academia da Literatura Árabe, com sede em Damasco, "Época de migração para norte" é ainda hoje proibido em diversos países do Médio Oriente e da África. Publicado em 1966, o romance foi censurado pelo governo islamita de Cartum no princípio dos anos 90 com o argumento de que continha cenas sexualmente explícitas". (Por: Milton Hatoum): "Este romance denso e evocativo, com lances da lírica árabe, narra as viagens e visões de Mustafa Said, dilacerado entre dois continentes. Trata-se de uma complexa sondagem na alma humana, que e também uma reflexão sobre o colonialismo britânico na África e uma crítica implacável aos governantes do Sudão pós-colonial. Mustafa Said, órfao de pai, abandona a mãe e sua aldeia pobre no Sudão e parte, ainda jovem, primeiro, para o Cairo e, depois, para Londres, onde se destaca como um profissional brilhante, uma grande promessa para a África. Mas o estranhamento da vida londrina, da visão dos britânicos sobre o continente africano e de sua própria condição de expatriado são fatores de instabilidade, revolta e decepção. Suas amantes o vêem como um ser exótico, em que o calor, o deserto, a pele do corpo e as feições do rosto formam uma coleção de estereótipos. A vingança do personagem será justamente contra essas mulheres, que ele seduz lançando mão do exotismo que elas tem em mente. Toda a violência do ato vingativo acaba se voltando contra ele próprio, num ritual que alterna o êxtase com a auto-expiação e a loucura. Depois de passar sete anos na prisão e vagar pelo mundo, Said regressa a uma aldeia do Sudão, onde se casa com uma nativa, trabalha na lavoura e encontra o narrador do romance. E esse narrador que, aos poucos, descobre e revela a trama de Mustafa Said, seus pensamentos e suas seduções diabólicas. E é também esse narrador que receberá o legado de Said, depois que este morre misteriosamente e deixa ao amigo a tutela de sua esposa, de seus filhos e de suas obras. Esse legado e assimilado pelo narrador como urn duplo fantasmagórico, a ponto de persegui-lo e atormentá-lo até os limites da loucura e da morte. Assim, o tempo de migrar e também o do impasse e o da dúvida: tempo de desespero, na medida em que o sonho da Europa torna-se um pesadelo, e a esperança ou a crença no futuro e banida do lugar de origem."

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