A poesia do encontro

Finalizei a leitura de “A poesia do encontro”, um diálogo sobre literatura e vida entre Elisa Lucinda e Rubem Alves. Um livro agradável que engrena a partir da metade, quando os dois parecem já ter tido algum tempo para se (re)conhecer. O livro faz parte de uma série de conversas entre pessoas afins, gravada e transformada em livro dirigido a professores (Papirus/debates). Mais afinado com a idealização da coisa pareceu-me que o Rubem, às vezes apressava a conversa para manter-se fiel a um certo roteiro implícito. Algumas passagens merecem degustação, mas o próximo tópico tem pressa. O Rubem adota um tom professoral durante boa parte do tempo, seja nas lembranças, seja na forma de apresentá-las ou na maneira de intervir e comentar a palavra da Elisa, como quem despeja conhecimento por todos os cantos e falas e deixa os poros de quem ouve ou lê sem ar. A meu juízo foi questão de tensão geracional, de gênero e raça. O ápice foi a incisiva defesa da inutilidade do ensino de gramática nas escolas, feita pelo psicanalista-escritor. Elisa discordou por várias vezes ao longo do livro e no final foi bem enfática, pois julga que o ensino da gramática é uma necessidade para conhecer a estrutura da língua portuguesa, além de contribuir para a formação de leitores. Em alguns momentos, Elisa me pareceu impaciente e acho isso uma virtude, ao contrário do que possa parecer. Pareceu-me ter sido a conversa possível e gostei muito da segunda parte.

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