Nilma Lino Gomes na SEPPIR


Por Cidinha da Silva
O nome me agrada, muito. É, de longe, o melhor nome entre aqueles especulados para o cargo. Aliás, o nome de Nilma não se ouvia, eu, pelo menos, não ouvi. Contudo, ouvi tanta bobagem, como é próprio do campo das especulações: nome de políticos negros de expressão local, que não conseguiram se reeleger e que agora rumam ladeira abaixo do ostracismo, porque nomes mais novos estão se consolidando e será difícil que se reelejam em 2018; nomes de artistas negros sem qualquer experiência pregressa de gestão; quaisquer nomes, quaisquer notas. Como se para os negros pudesse se destinar qualquer coisa.

Fico satisfeita, bola dentro da Presidenta Dilma, depois da bola lunática de Kátia Abreu na Agricultura, e de outras que estão por vir, infelizmente. Nilma Gomes é uma gestora em ascensão, jovem e bem formada, com experiência na gestão de uma universidade de perfil internacional como a UNILAB – um projeto belíssimo e ousado que, Oxalá, depois de sua saída não naufrague nas mãos de reitores/as politiqueiros/as e descomprometidos/as com África. Tem-se notabilizado pelo gabarito técnico, trajetória respeitável como um todo e admirável em vários aspectos, um deles, a imensa capacidade de diálogo e de composição. Admiro também sua independência, gosto muito de pessoas que se estabelecem pela competência técnico-profissional e a consolidação de sua liderança é alentadora para muitas pessoas de nossa geração. Nilma Gomes, para os mais novos que talvez não saibam e para os que têm memória difusa do assunto, membro do Conselho Nacional de Educação em 2010 foi responsável pela propositura de que o livro "Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato, recebesse uma nota explicativa sobre as expressões racistas utilizadas pelo autor, fato que gerou imenso debate na sociedade brasileira, notabilizado pela imprensa hegemônica e pela academia (a conservadora e a menos conservadora) e respondido de maneira enfática por organizações negras e pessoas comprometidas com o combate ao racismo no Brasil.

A Presidenta Dilma emite uma mensagem de não-retrocesso nas conquistas e maneira de operação da SEPPIR, ou seja, escolhe para suceder Luiza Bairros, alguém à altura de continuar o caminho exitoso trilhado na gestão da ministra, aliado à potencialidade de qualificá-la com os aportes específicos da área da Educação. A ministra Luiza é uma administradora por formação, a nova ministra Nilma, é educadora com habilidades de gestão. São diferentes perfis e trata-se de boa alternância. Particularmente, sentirei saudades dos discursos “improvisados” da ministra Luiza, de consistência política inigualável (não por Nilma em especial, são discursos sem par, mesmo), verdadeiras aulas que inexoravelmente levavam os que discursavam depois dela a destacar seu feito, como que a pedir desculpas pelo que viria depois.

Nilma Gomes, reitero, sabe dialogar, é uma de suas virtudes. Imagino que já esteja conversando com a ministra Luiza e que talvez mantenha boa parte da estrutura técnica da SEPPIR. Torço para que mantenha o melhor, que os critérios de permanência e inovação sejam técnicos e que fujam da velha política de acomodação dos sem-cargo e sem-mandato e dos compromissos políticos com tendências ou grupos, em detrimento das competências exigidas para determinadas posições. Por suposto, a habilidade política é fundamental, é preciso cercar-se de pessoas que saibam fazer articulação política, mas há que examinar e reavaliar quem permanece com a lupa da adequação ao novo projeto, ou mesmo à continuidade do antigo.

Nilma Gomes conversa bem com a ex-ministra Matilde Ribeiro também, escreveu bela orelha para o livro “Políticas de promoção da igualdade racial no Brasil” (2006-2010), publicação da Garamond neste ano de 2014. Bom sinal. É a terceira mulher a dirigir a SEPPIR e dialoga com as antecessoras, muito bom.

Aguardo ainda a apresentação pública de possibilidades políticas para a ministra Luiza Bairros. É preciso romper com a tradição de que os nossos concluem suas tarefas, são bem avaliados e não são convocados a exercer tarefas maiores e diversas, ficam relegados à própria sorte. Não nutro expectativas de que Luiza Bairros venha a ocupar outros ministérios de maior envergadura, num cenário de chegada de Cid Gomes e Helder Barbalho (outro dia comemorava sua derrota no Pará) e volta de Eliseu Padilha, para deter-me em apenas três desastres do novo ministério. Ficaria feliz demais se fosse surpreendida, entretanto, penso que o racismo estrutural e as alianças políticas pela governabilidade não o permitirão. Mas, desejo para Luiza Bairros, algum posto de representação deste governo na esfera internacional, ou que não seja posto de governo, mas um lugar cuja ocupação nos orgulhe e que esteja à altura da querida ministra.










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