Mais sobre o livro Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil
Por Cidinha da
Silva
O capítulo IV, sobre as dimensões de africanidades e relações raciais
nas políticas públicas para a leitura no Brasil, desafiou autoras e autores a
articular o combate ao racismo e a formação do leitor-literário, ou seja, a
apresentar propostas de fortalecimento da luta política contra o racismo por
meio de políticas públicas no campo da leitura, sem impor textos panfletários e
pobres no campo da fabulação. Como nos alerta Teresa Colomer acerca do ensino literário na escola, [ele] “pode
definir-se também como a ação de ensinar o que fazer para entender o que estão
fazendo ali e o que se deve avaliar. Na sua intimidade, seus gostos, seu prazer
ou sua liberdade de escolha. Nada disso pode ser, efetivamente, obrigatório”
(COLOMER, 2007, p.45).
Mariana de Assis, além de definir literatura periférica para o tópico conceitos, escreve texto instigante sobre as questões relativas ao currículo, racismo e legislação na formação de leitores negros.
A poeta Dinha
e o sociólogo Eduardo Mota
refletem sobre as relações entre livro, literatura, identidade racial e
programas governamentais de incentivo à leitura. Abordam mais detidamente as
salas de leitura, sua estrutura e utilização em equipamentos públicos de educação
e cultura.
Rubenilson de Araújo, diretamente dos rios caudalosos do Tocantins, problematiza a formação
humanista de leitores de textos literários pela necessidade de inclusão das
temáticas ligadas à diversidade sexual e racial em políticas públicas educacionais
de leitura e no próprio uso do livro em sala de aula.
Euclides da Costa,
educador e agente de segurança penitenciária no Presídio de Igarassu, em
Recife, relata-nos sua experiência com a promoção da leitura em presídios e o papel
desta no enfrentamento do “castelamento”
(no jargão penitenciário, mente vazia, desocupada, que pensa em coisas
negativas)e na prevenção do aparecimento de doenças degenerativas, como a
demência, provocada pelo convívio em
condições sub-humanas em espaço superlotado.
Marco Antonio Silva, reeducando privado de liberdade, também do Presídio de Igarassu, presenteia-nos
com reflexão acurada sobre o papel dos livros e da literatura no sistema
prisional em diálogo com teóricos da
envergadura de Erving Goffman, Michel Foucault, Gilles Deleuze, Felix Guattari
e Virgínia Kastrup.
A Mestra
Janja, que além do ofício de capoeirista ocupa cadeira de professora da
Universidade Federal da Bahia, dá vazão à veia poética no belo texto Versos que gingam, no qual faz
contextualização sócio-histórica das cantigas da tradicional Capoeira Angola.
Renato Botão e Silvane Norte discutem consistentemente
a identidade cultural e a educação como promotores do reconhecimento positivo
de estudantes quilombolas, com ênfase no papel das instituições públicas na
preservação das culturas baseadas na oralidade.
Em tela, a necessidade de apoio institucional para preservação da língua
Cupópia, falada pelos moradores mais
velhos da Comunidade Quilombola do
Cafundó, no Estado de São Paulo.
O poeta Edimilson
de Almeida Pereira encerra o capítulo com o texto O país que desejo ler para meus filhos e filhas, no qual discute os
desafios apresentados a escritoras e escritores negros para produzir literatura
dirigida a crianças e adolescentes.
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