Aceita um Lula Livre?

Aceita um Lula Livre? Por Cidinha da Silva Depois de comprar um carimbo com o rosto do Lula das greves operárias de 1979, confeccionado por Flávio Oliveiras do Ateliê de Ofícios, passei a autografar os livros e perguntar aos compradores – “aceita um Lula Livre”? Quem aceitava, recebia a impressão do Lula Livre de Flávio na primeira página. Na segunda-feira, 8 de março de 2021, à tarde, os processos fraudulentos que levaram Lula à prisão foram anulados pelo Ministro Fachin no STF, o Presidente recuperou os direitos políticos (ainda não faço festa, o sistema é bruto e o projeto genocida em curso tem resposta para variados cenários) e rolou uma brisa. Na mesma tarde, Iku tocou Flávio Oliveiras que não conseguiu mais resistir ao Covid-19, lutou como pôde, teve o corpo submetido a todos os procedimentos invasivos necessários, mas não deu, infelizmente. Quando tento fazer uma aproximação entre Flavio e Lula, encontro a barba do Lula operário e a cara mestiça dos dois. Descubro também que as famílias de ambos migraram, a de Lula, de Pernambuco para São Paulo; a de Flávio, uma migração interna dentro do Nordeste, do Ceará (pai) e Rio Grande do Norte (mãe) para Salvador. A gente migra buscando uma vida melhor, se o lugar onde nascemos nos der o que queremos e precisamos, sairemos de lá por opção para a realização de sonhos, não por necessidade de sobrevivência. No Ateliê de Ofícios, tocado junto com sua amada companheira e minha amada amiga Cibele Bonfim, Flávio Oliveiras consolidou um espaço gráfico voltado para o fazer da serigrafia artística e para a realização de práticas pedagógicas que envolvem a transmissão e manutenção de saberes gráficos analógicos e tradicionais. Flávio dirigia também o “Oliveiras – Café, Bar, Galeria Gráfica e Lugar de Encontros Musicais Experimentais” no Santo Antônio Além do Carmo, bairro onde nasceu, tinha orgulho de viver e operar artisticamente, inclusive no “Coletivo de Pesquisa em Samba Bloco de Hoje a 8”. Integrava ainda o “Coletivo Sociedade da Prensa – Ateliê de Soluções de Impressões Gráficas e Publicações Independentes”. Nesse link tem um pouco do belo trabalho realizado por Flávio Oliveiras, narrado por ele mesmo: https://www.youtube.com/watch?v=vI01RD7pqaU Convivi pouco com Flávio e a imagem que tenho dele era de um homem calado e observador, que ria com facilidade e era conversador, explico, é que quando não o via calado, ele estava conversando animado e fazia longos silêncios atentos durante as conversas. A tristeza de perder jovens e crianças é sempre grande, a gente nasce para viver, criar, semear, colher, aprender, ensinar, e entre tantos outros movimentos, envelhecer, acolher e amparar os que nascem e começam tudo outra vez. A morte precoce nos desafia mais a acreditar que somos luz e essa vida é transitória, que voltamos à massa primordial e a vida continua. Por aqui, a recuperação dos direitos políticos de Lula e os saberes gráficos tradicionais e analógicos abrigados no Ateliê de Ofícios de Flavio Oliveiras, avivam a chama do entendimento de que vindos de onde viemos, podemos chegar onde sonhamos.

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