Novos quadrinhos da iraniana Marjane Satrapi
(Por: Paulo Ramos, no UOL). "Bordado é o nome dado no Irã para a maneira como as mulheres se "recosturam" para contornar a perda da virgindade. Em geral, para esconder do futuro marido.
A expressão, usada no plural, intitula o novo trabalho de Marjane Satrapi (Quadrinhos na Cia., 136 págs., R$ 35) e dá o tom da obra, a mais picante da quadrinista iraniana.
A autora relembra um encontro entre ela, a mãe, a avó, uma tia e outras mulheres durante o samovar, conhecida reunião regada a chá.
Os assuntos abordados por elas são a relação de cada uma com os relacionamentos e, principalmente, com o sexo.
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O tema das conversas ganha outra cor quando se lembra o histórico de como as mulheres são tratadas no país, numa posição social mais sujeita aos homens.
Falar de sexo, abertamente, é ao mesmo tempo um registro importante para quem não é versado na cultura do país e um grito de emancipação delas, mesmo que a quatro paredes.
Os relatos vão de histórias de pura liberação sexual a outras, de literal submissão, como o fato de algumas delas se casarem sem mesmo conhecer o marido.
O caso mais gritante dos reflexos da cultura do país é o de uma das mulheres, que teve quatro filhos sem nunca ter visto um pênis. Explicação: o marido fazia sexo no escuro.
Em "Bordados", Satrapi retorna a seu país de origem e retoma o tom autobiográfico usado em "Persépolis", álbum que a tornou (re)conhecida e ainda sua melhor obra.
O novo trabalho é bem mais pontual. Fica apenas nas conversas picantes entre as mulheres. As fugas para outros cenários ocorrem por meio dos relatos delas.
O livro em si é revelador, embora repita o molde narrativo usado pela autora em seus trabalhos anteriores. Além de "Persépolis", ela usou o recurso em "Frango com Ameixas".
Exatamente por usar a mesma fórmula, fica a inevitável impressão de que a autora procura prolongar o sucesso de "Persépolis", repetindo à exaustão fragmentos de sua vida".
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