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Por Cidinha da Silva

Depois daquela mulher, nunca mais assisti a Globonews do mesmo jeito. Ela virou uma espécie de fantasma que aparecia todas as vezes em que eu passava pelo canal.

A figura aterrissou numa roda de conversa por obra do lançamento do meu Kuami em Vila Isabel. Atrasada, mostrou-se encantada com a atmosfera leve. Até aí tudo bem, esse era mesmo o propósito. O caso é que ela iniciou uma catarse de reclamações sobre a Globonews, sobre as pessoas não conversarem, não interagirem e aquele momento ali, para ela, era um exemplo de como a vida deveria ser.

Ela dizia: “Estou cansada de saber as notícias do mundo e só desligar o televisor quando saio para o trabalho. Quando chego em casa, ligo a TV para ter a companhia da informação. Sei de tudo, a notícia se repete nos sucessivos jornais, às vezes até decoro os textos”. O problema é que ela repetia esse mantra torto como disco arranhado. Passou a tratar nosso espaço como algo terapêutico. Ameaçou pedir que as pessoas compartilhassem apertos de mão, abraços.

Alguns participantes estavam visivelmente incomodados, eu também, e precisei tangenciar a conversa para cenas do livro. Nada adiantou.

Comecei a ter medo dela. Parecia uma morta-viva e pior, era médica. Estava na cara que ela precisava de fogo, de vitalidade. Oferecíamos a chama literária, mas ela precisava de mais. Carecia de terapia profunda, daquelas complexas, com escuta, exercícios respiratórios, florais de Bach, do cerrado, do deserto, da Amazônia, de Minas, de Marte...

O que mais me espantava era a reafirmação de que ela cuidava da saúde das pessoas em um posto de saúde e era assim, corpo, mente e espírito tão adoecidos. Até hoje, quando passo pela Globonews lembro-me daquela mulher, e apavorada, observo as notícias se repetirem. 

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