Luisito, el vampi, ataca outra vez

Por Cidinha da Silva


Existem formas e formas de dar vazão ao espírito bélico de um guerreiro. Honrar os ancestrais guarani que modulam a agressividade de um rosto, por meio de gestos simples e nobres de respeito aos companheiros de profissão pode ser uma delas.

Luisito, ao contrário, prefere ser (ou só consegue ser) uma bomba-relógio feita à pólvora de racismo, violência e canibalismo, tingida por boa técnica para camuflar o tic-tac, o tatibitati, o desespero de mais um homem em conflito com a própria masculinidade, convulsionado por sentimentos devastadores, com os quais não sabe lidar, para os quais não busca ajuda.

Mas, não há como condoer-me, é muito cruel em suas metáforas, o tal Luisito. Aos negros, cuja origem socioeconômica é parecida com a sua (dizem que ele foi um menino extremamente pobre em Salto, sua cidade natal, e venceu na vida pelo futebol, como inúmeros meninos mundo afora), ele reserva o desprezo, a humilhação e a violência física como expressões do racismo que os afasta de seu corpo supostamente superior, aos chutes. Aos negros ele recusa aperto de mãos no início de uma partida.

É líquido e certo que os defensores do atacante dirão que Luisito agrediu apenas um negro, o francês Evra.  Poderão dizer mais, Evra é europeu, mesmo sendo senegalês, e Luisito, um pobre latino-americano massacrado pela imprensa e pela cultura anglo-saxônica. Pobrecito! O caso é que não é necessário matar 10 gays ou 10 mulheres para que um crime seja caracterizado como homofobia ou feminicídio, basta investigar e explicitar a motivação de ataque a pessoa única, porque é gay, lésbica, mulher, negro.  

Aos brancos, por sua vez, Luisito devota a violência reincidente da mordida. Quer comê-los, engoli-los, capturar a brancura deles dentro de si, talvez como recurso atávico e macabro da crença canibalista de que ao chupar-lhes o sangue, ao mastigar-lhes a carne, el vampi adquiriria todas as qualidades do branco, festejadas pela supremacia branca. Quem sabe, o sangue branco ingerido pudesse até apagar as origens indígenas expressas em seu corpo latino-americano, talvez afro-latino-americano (os pelo duro costumam ter pavor dos ancestrais negros). Quiçá, ao arrancar dos brancos nacos de carne e gotas de sangue,  Luisito realize o sonho de tornar-se um deles. 

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