Oficina e lançamento de livro, hoje e amanhã, na Mostra Benjamin de Oliveira, em BH!
MOSTRA BENJAMIN DE OLIVEIRA
Narrativas de um lugar de fala
Cidinha da Silva lança livro a partir de um olhar afrocentrado e discute o valor da representatividade negra
Curioso observar que, logo após o encerramento do Festival Internacional de Teatro Palco e Rua (FIT-BH), em uma edição marcada pela ausência de trabalhos do teatro negro, deu-se início a Mostra Benjamin de Olivera, evento concebido como espaço de difusão e valoração do trabalho de atrizes e atores negros.
Essa coincidência chama a atenção para a necessidade do despertar dos olhares para uma produção artística pautada pela representatividade. Na literatura, por exemplo, é o que busca Cidinha da Silva, escritora mineira que lança dentro da programação da mostra seu sexto livro de contos, “Sobre-viventes!”, hoje, no Tambor Mineiro, às 19h.
“Esse é um tempo em que a gente vive na luta pela representação e isso está presente no meu universo narrativo, na crônica, que trata do cotidiano, daquilo que está acontecendo, seja no meio social, na política ou na cultura”, afirma a autora.
Em “Sobre-viventes!”, Cidinha traz 41 crônicas que passam por diversos territórios e temáticas como o teatro, a novela, o Congresso Nacional e os bares de Belo Horizonte, mas sempre a partir da perspectiva das africanidades. “Meu olhar é afrocentrado para qualquer tema, com relação ou não à questão racial”, pontua.
O desmembramento da palavra que dá título ao livro não se faz sem propósito. “Eu falo sobre os viventes, trato da vida e também dos sobreviventes, pessoas que, no processo diverso de opressão aos direitos humanos, conseguem formas de se manter”, explica.
Narrativas. Para Cidinha da Silva, uma das questões que precisam ser discutida no Brasil, quando se aborda o tema da baixa frequência de leitura e aquisição de livros, é o da representação. “É pensar no quanto a maior parte da população se vê representada nas personagens do livro de literatura”, observa.
Ela cita uma pesquisa realizada pela professora de literatura Regina Dalcastagnè, da UNB, que revela que autores brasileiros são, predominantemente, homens, brancos, heterossexuais e do Sudeste, perfil que se estende aos personagens construídos por esses escritores. “Mas há sujeitos que não são hegemônicos e que gritam por voz. São os sujeitos com quem eu convivo e cujas histórias me interessam porque são caras a mim”, comenta.
Cidinha, como ela mesma se afirma, escreve “em posição quilombola de observação do mundo”. “Mais que espaço de resistência, o quilombo é o espaço da liberdade. Quando digo que observo o mundo dali, estou garantindo e assegurando o meu território, valorizando o que acontece ali dentro, as pessoas que ali vivem, e faço isso com absoluta liberdade, podendo até rir dos meus excessos ou do meu grupo”, revela.
O humor, aliás, é utilizado por Cidinha tanto para denunciar e explicitar o racismo brasileiro, que é relativizado pela piada e pelas práticas jocosas, quanto para desconstruir as ações dos discriminadores. “Gosto de mostrar pelo ridículo o quanto essas situações de preconceito são absurdas. Há de se guardar os limites da ética e, quando isso é feito, é possível ironizar e fazer disso uma ação política”, conta.
Interseccionalidade. O processo de construção das personagens de Cidinha se pauta pela perspectiva da interseccionalidade. “São personagens que acabam por concentrar vários temas que são importantes. Tem personagem que é presidiário, gay e negro, ou então, lésbicas vendedoras de cachorro quente. É essa encruzilhada de características humanas que a gente carrega. Na luta política, essas multiplicidades são postas de lado. Às vezes, escolhe-se uma questão e tudo se articula em torno dela, mas, na literatura, tenho liberdade para mesclar e fazer com que as coisas se encontrem”, conta.
Agenda
O quê. Lançamento do livro “Sobre-viventes!”, de Cidinha da Silva
Quando. Amanhã, às 19h
Onde. Tambor Mineiro (rua Ituiutaba, 339, Prado)
Quanto. Entrada gratuita
A programação completa da Mostra Benjamin de Oliveira pode ser acessada em burlantins.com.br/benjamin
Essa coincidência chama a atenção para a necessidade do despertar dos olhares para uma produção artística pautada pela representatividade. Na literatura, por exemplo, é o que busca Cidinha da Silva, escritora mineira que lança dentro da programação da mostra seu sexto livro de contos, “Sobre-viventes!”, hoje, no Tambor Mineiro, às 19h.
“Esse é um tempo em que a gente vive na luta pela representação e isso está presente no meu universo narrativo, na crônica, que trata do cotidiano, daquilo que está acontecendo, seja no meio social, na política ou na cultura”, afirma a autora.
Em “Sobre-viventes!”, Cidinha traz 41 crônicas que passam por diversos territórios e temáticas como o teatro, a novela, o Congresso Nacional e os bares de Belo Horizonte, mas sempre a partir da perspectiva das africanidades. “Meu olhar é afrocentrado para qualquer tema, com relação ou não à questão racial”, pontua.
O desmembramento da palavra que dá título ao livro não se faz sem propósito. “Eu falo sobre os viventes, trato da vida e também dos sobreviventes, pessoas que, no processo diverso de opressão aos direitos humanos, conseguem formas de se manter”, explica.
Narrativas. Para Cidinha da Silva, uma das questões que precisam ser discutida no Brasil, quando se aborda o tema da baixa frequência de leitura e aquisição de livros, é o da representação. “É pensar no quanto a maior parte da população se vê representada nas personagens do livro de literatura”, observa.
Ela cita uma pesquisa realizada pela professora de literatura Regina Dalcastagnè, da UNB, que revela que autores brasileiros são, predominantemente, homens, brancos, heterossexuais e do Sudeste, perfil que se estende aos personagens construídos por esses escritores. “Mas há sujeitos que não são hegemônicos e que gritam por voz. São os sujeitos com quem eu convivo e cujas histórias me interessam porque são caras a mim”, comenta.
Cidinha, como ela mesma se afirma, escreve “em posição quilombola de observação do mundo”. “Mais que espaço de resistência, o quilombo é o espaço da liberdade. Quando digo que observo o mundo dali, estou garantindo e assegurando o meu território, valorizando o que acontece ali dentro, as pessoas que ali vivem, e faço isso com absoluta liberdade, podendo até rir dos meus excessos ou do meu grupo”, revela.
O humor, aliás, é utilizado por Cidinha tanto para denunciar e explicitar o racismo brasileiro, que é relativizado pela piada e pelas práticas jocosas, quanto para desconstruir as ações dos discriminadores. “Gosto de mostrar pelo ridículo o quanto essas situações de preconceito são absurdas. Há de se guardar os limites da ética e, quando isso é feito, é possível ironizar e fazer disso uma ação política”, conta.
Interseccionalidade. O processo de construção das personagens de Cidinha se pauta pela perspectiva da interseccionalidade. “São personagens que acabam por concentrar vários temas que são importantes. Tem personagem que é presidiário, gay e negro, ou então, lésbicas vendedoras de cachorro quente. É essa encruzilhada de características humanas que a gente carrega. Na luta política, essas multiplicidades são postas de lado. Às vezes, escolhe-se uma questão e tudo se articula em torno dela, mas, na literatura, tenho liberdade para mesclar e fazer com que as coisas se encontrem”, conta.
Agenda
O quê. Lançamento do livro “Sobre-viventes!”, de Cidinha da Silva
Quando. Amanhã, às 19h
Onde. Tambor Mineiro (rua Ituiutaba, 339, Prado)
Quanto. Entrada gratuita
A programação completa da Mostra Benjamin de Oliveira pode ser acessada em burlantins.com.br/benjamin
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