200 Anos (da Independência), 200 livros relevantes para compreender o Brasil

Integrar a curadoria do projeto “Independência 200 anos, 200 livros” como uma das 169 intelectuais brasileiras que indicaram três publicações essenciais para compreender o Brasil, me trouxe muitas alegrias. A primeira delas, o convite em si, feito por Heloísa Starling, coordenadora do Projeto República (um dos agentes da ação), professora da UFMG nos meus tempos de graduação na década de 1980, com quem tenho feito parcerias de trabalho, uma honraria que não prospectei. Aliás, fiquem de olho, vem mais coisa boa no segundo semestre. A segunda, ter tido as três indicações que fiz contempladas na lista dos 200. Estas foram as justificativas para minha escolha: 1 - Quarto de despejo (Carolina Maria de Jesus) Carolina Maria de Jesus foi uma escritora negra que lutou a vida inteira para construir um lugar de existência para si mesma. Uma autora singular, complexa e paradoxal, que não obedeceu à norma culta para escrever e grafou camadas superpostas nas páginas sujas de cadernos encontrados no lixo, um texto errático forjado no processo alquímico de diálogo entre dois anos de escolaridade formal, inventividade e determinação sem limites. 2 - Escritos de uma vida (Sueli Carneiro) Sueli Carneiro pertence a uma geração de ativistas negros que inventou um Brasil para nós existirmos. Sua intervenção política e da organização que criou, o Geledés – Instituto da Mulher Negra, modela os 40 anos mais recentes da história brasileira. Esta obra reúne os principais artigos e ensaios de Sueli Carneiro, formulados como respostas a questões políticas candentes, ancorados na perspectiva e ação contundentes de uma das principais artífices da transformação do tempo em que vivemos. 3 - Literatura e Afro-descendência - antologia crítica (Eduardo Assis Duarte) Trata-se de uma coletânea fundamental para acessar parte significativa da produção literária negra feita no Brasil, de Maria Firmina dos Reis a autores da primeira década do século XXI. Em quatro volumes, pesquisadores de mais de 60 universidades apresentam 100 autoras e autores afrodescendentes, excertos de suas obras, comentários críticos e biográficos, constituindo um panorama rico, abrangente e inédito. Por fim, a alegria de ter composto o grupo de pessoas que indicou “Quarto de despejo”, de Carolina Maria de Jesus, como obra fundamental para compreender o Brasil. O livro foi o mais recomendado e acompanhei o voto de pessoas que me formaram como Leda Maria Martins e João Silvério Trevisan. Bons presságios. Além de tudo, o prefácio dessa edição comemorativa dos 60 anos de publicação do livro é meu. Estamos no caminho certo.

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