Anderson Silva tomba e Cauby canta Cavalo-marinho



Por Cidinha da Silva

Dear Spider,

Eu não vi sua luta, nem sabia que você lutava na manhã daquele domingo em que o Mercado do Bará pegou fogo em Porto Alegre. Mas, te conto que vez ou outra assisto lutas e só por você o faço, como faria por Mohamed, que lutou por mim, como você. Afora isso, não sou platéia para ver homem dar porrada em outro homem. Tanta coisa mais interessante duas mulheres fazem num ringue.

Em contrapartida, assisto vezes sem conta todos os reclames publicitários nos quais você participa e me delicio sempre. Você-ator e o Anderson são ótimos, justamente por serem indistintos. Leio também suas entrevistas, presto muita atenção ao que você fala e vibro com os sentimentos bons que você desperta por onde passa.

Tanta gente te admira, homens, mulheres, crianças. Seus golpes precisos e viris são a voz da gente achatada que encontra em você o vingador altivo, leal e de bem com a vida.

Naquela manhã você tombou, mas continuou grande, como sempre foi, porque caiu com dignidade, jogando o jogo dentro da regra. Sucumbiu à escolha da estratégia errada e à precisão do oponente. Pronto, nada mais.

Para os urubus, entretanto, foi prato cheio. Quiseram fazer do Spider uma vítima do Anderson. Bestas ignaras, não sabem que o risco quando dá certo traz alegria, quando dá errado, sabedoria. E você sabe aprender, malungo.

Passado o susto do nocaute, te convido a vir conosco, Anderson. Vem ouvir Cauby e o Cavalo-marinho. Você se senta ao lado do poeta que recomendou a poesia e eu ao lado do meu amor, linda como a luz da Lua. Deixa a gente ninar você com essa canção de volta a um tempo passado partilhado pelos quatro. Depois, você, nosso caçulinha campeão, enfrentando as dores inexoráveis da derrota, dormirá cedo no colo da companheira e acordará no dia seguinte, direto para o treino.

*Cavalo-marinho
Dança no terreiro
Que a dona da casa
Tem muito dinheiro
Cavalo-marinho
Dança na calçada
Que a dona da casa
Tem galinha assada

Minha rua onde eu me criei feliz
Rua onde eu brincava
Rua onde eu brigava
Rua onde eu caía
E onde a poesia
Fez seu aprendiz

Rua alegre, parecia não ter fim
Rua onde eu corria
Atrás do meu arco
Rua onde eu morava
Tinha uma menina
Que cantava assim:

Cavalo-marinho
Dança no terreiro
Que a dona da casa
Tem muito dinheiro
Cavalo-marinho
Dança na calçada
Que a dona da casa
Tem galinha assada

Rua triste, nunca vi tão triste assim
Vinha uma menina
Vindo pela rua
Linda como a lua
E assim como a lua
Deu-se toda a mim

Rua escura, amargura fez-se em mim
Porque hoje eu vivo
Vivo da procura
Da menina pura
Que na noite escura
Me cantava assim:

Cavalo-marinho
Dança no terreiro
Que a dona da casa
Tem muito dinheiro
Cavalo-marinho
Dança na calçada
Que a dona da casa
Tem galinha assada

*Canção de Vinícius de Moraes e Baden Powellhttp://www.goear.com/listen/ce80680/cavalo-marinho-cauby-peixoto

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