Íntegra da entrevista concedida por Cidinha Da Silva ao portal Correio Nagô
Queria saber o motivo do relançamento? Uma questão editorial?
A primeira edição de Os nove pentes d'África data de 2009. De lá para cá, três mil exemplares foram vendidos, mas o livro já estava esgotado há algum tempo e continuava sendo demandado à editora. Assim, mesmo diante da crise terrível que assola o mundo editorial neste 2015, dada a não concretização das compras de livros realizadas pelo governo federal em 2014, a Mazza Edições reeditou o Pentes para atender à demanda do mercado.
Como é falar de africanidades para as crianças? É o lugar ideal para a valorização do nosso mundo negro?
Escrever para crianças, pelo menos para mim, é algo bem difícil e trabalhoso. Existe uma linha muito tênue a separar a expressão criativa e fluida de valores humanos e éticos do didatismo e simplificação empobrecedora de linguagem. Abordar os temas ligados às africanidades é ainda mais complexo, haja vista que existe no mercado uma "cultura negra fast food" incrementada pela necessidade de produzir livros para atender às exigências da Lei 10.639.
O Pentes não é um livro para crianças, é para adolescentes, para jovens leitores, para leitores adultos. Por isso, ele vem sendo adotado pelo pessoal de EJA em diversas secretarias de educação Brasil afora.
Penso que definir "lugares certos" para falar sobre africanidades passa por uma perspectiva didática da literatura que não me interessa. As africanidades estão presentes em toda a minha produção artística porque as matrizes africanas são fontes primordiais de alimento e água para mim. Simplesmente por isso.
E ter a orelha assinada por Chico César, como foi?
Foi massa! O Chico é um sujeito muito simpático e generoso. Eu pedi a orelha, ele leu o livro e escreveu aquele texto delicioso. Acredito que se ele não tivesse gostado do livro ou mesmo se não tivesse tempo para escrever ele teria dito e isso também me deixou confortável para fazer o pedido.
No texto você disse que sabia que o livro teria formato de novela. Veio assim, ou tem um motivo esse formato?
O texto costuma dizer o que quer ser. Eu escreveria um texto de fôlego, de mais fôlego que um conto e de menos fôlego que um romance. Seriam capítulos mais ou menos autônomos, pois eu deseja falar de um pente/valor/virtude em cada um deles e esse é o formato de uma novela.
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