Mais um na lista dos incontáveis invisíveis


Por Cidinha da Silva

Por que não escrevi sobre o assassinato de Herinaldo de Santana? Porque não tenho  forças para lamentar a morte de mais um menino da favela. Do time dos que morrem desde sempre se correm livres pelas ruas de casa; se são enclausurados dentro de ônibus por justiceiros de Copacabana; se saem de seus bantustões para irem à praia das áreas nobres em trajes de banho; se cometem delitos e cada vez mais cedo são mandados para a cadeia.

A dor dos que o amavam me consome e consumirá a cada vez que um deles vir o vídeo do garoto agonizante, atingido por um policial destreinado (ou acostumado a matar) assustado ao ver o menino que corria para comprar uma bola de pingue-pongue. Pow!

Mas, escrevo agora, porque com o advento das redes sociais, vemos os rostos dos mortos, presenciamos  sua agonia, e mais e mais compreendemos a estratégia dos que tentam negligenciar essas mortes, como fazem com os corpos negros recolhidos pelos camburões e depositados nos gavetões do IML, à espera de reconhecimento. E aceitamos que somos Herinaldo, sujeitos à próxima bala assustada.

A caneta sobre a mesa mira a cena, impotente. Não é videogame, a parada. A garganta seca. O menino está morto. Não dá para recomeçar o jogo. 

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