A leitura do Exu feita por Camila Marins, editora da revista Brejeiras
"Exu matou um pássaro ontem com a pedra que jogou hoje". O provérbio iorubá foi citado pela escritora Cidinha Da Silva no livro "Um Exu em Nova York", publicado em 2018, pela editora Pallas. Esse livro me convocou para fora dele com tantas referências, entre amoras, terceiras margens do rio e Audre. Farrina me tocou profundamente, entre taurinices e a sobrevivência em comunidade. Maria Felipa me ensinou estratégias de aquilombamento. Como diz o conto "Mameto": "Os orixás, em festa, criaram um mundo novo, sem aquele trabalho todo que fora carregar o saco da existência. Só Exu, sábio e cético, trepado na árvore da vida, não se iludia. O trabalho apenas começava". Ler e reler Cidinha é tomar fôlego a cada página, como se a vida ali transbordasse. O primeiro livro que li dela foi "#Parem de nos matar", que ganhei de presente de Fernando Assumpção, em 2016, muito antes de eu conhecê-la pessoalmente. Naquela dedicatória para uma desconhecida como eu, Cidinha escreveu: "Camila, que estas histórias nossas dialoguem com seu trabalho". E tudo faz TANTO sentido nesse ano que busquei uma repactuação com meus escritos e poemas. Ler Cidinha em 2020 foi como fazer as pazes com minha escrita e com um olhar de generosidade. Porque é isso que Cidinha traz, generosidade. E quando ela me convoca para fora de seus escritos, me reencontro com mais de nós e em mim mesma [Camila Marins].
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