Carolina de Jesus seria classificada no prêmio literário que leva seu nome?

" O século XXI tem testemunhado o surgimento de escritoras que “se descobrem escritoras e se autorizam a sê-lo”. Leituras de textos fundamentais de Audre Lorde, Glória Anzaldúa, bell hooks, Conceição Evaristo, entre outras, têm embasado essas autodeclarações de mulheres não-hegemônicas que escrevem. “Escrevo, sou escritora!” Ninguém se arrisca a problematizar a legitimidade deste tipo de declaração ancorada no desejo de ser escritora e numa vivência (em muitos casos, um discurso coletivo que representaria um número maior de mulheres socialmente subalternizadas) que dá corpo e voz a demandas, experiências, fazeres e formas de sentir e de viver invisibilizadas, esmagadas pela literatura canônica das que têm “um teto todo seu” para escrever. Em concomitância à autorização para ser escritora, temos o exercício autoficcional ou escrevivente que, no texto, debruça-se sobre traumas e quer curá-los por meio do ato da escrita. Popularizou-se a ideia de “uma literatura que cura” e reivindica-se espaço para ela. Outra vez, algo legítimo, mas, como o jogo não está ganho, tudo ainda está em disputa, na minha condição particular de escritora negra posso refutar a ideia de que “escrevo, portanto, sou escritora”, afirmando que “canto, gosto de cantar, mas não sou cantora”. Ou seja, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Profissionalizar-se no exercício de um ofício, no caso, a escrita literária, é diferente de escrever para sobreviver à dor, para emancipar-se, para sonhar e ser livre, embora você possa fazer isso tudo na escrita profissional. Não são temas e funções excludentes." https://rascunho.com.br/cronistas/cidinha-da-silva/carolina-maria-de-jesus-seria-premiada/

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