Bartolomeu Campos de Queirós, caçador de sentidos

(Deu em O Globo / Por José Castello - crítico literário). "Bartolomeu Campos de Queirós sempre escreveu em busca do sentido. Sabia que o mundo, com o avançar doido dos séculos, se deteriora e se fragmenta. Sabia que as palavras, a cada dia, dão menos conta do que vivemos. Insistiu em buscar sentidos onde a maior parte dos escritores nada mais vê que uma turvação. Viveu para isso. Com sua postura quase invisível de caçador. Em tempos de tantos escritores céticos, ou mesmo cínicos, Bartolomeu acreditou na força — na utilidade — da literatura. Daí uma das características mais marcantes de sua escrita: a delicadeza. Sentido não é coisa que se impõe, mas algo que se colhe, como um fruto. Se você apertá-lo muito, ele pode se desfazer em suas mãos. Bartolomeu sabia disso e escrevia, antes de tudo, com prudência. E também com elegância. Seu último romance, o esplêndido “Vermelho amargo”, é uma súmula de suas aventuras na linguagem. Sabia Bartolomeu, como está em sua ficção, que “o peso da terra é definitivo véu”. Ainda assim, humanos, temos como destino forçar essa máscara, nela fazer furos sutis de respiração. Eis a literatura, como Bartolomeu a concebia. Uma escrita discreta, feita de palavras sutis, de teimosia afetuosa e de sentimentos tímidos. Escritores como Bartolomeu andam desarmados, com o peito exposto. Mais que o peito, o próprio coração. A escrita, em seu caso, emerge dos sentidos. Repetindo a fala de um de seus personagens, Bartolomeu “escrevia, e por isso pensava”. Ou pensava, e por isso escrevia? Seja como for, para ele a palavra jamais se separou do pensamento. O que, em nossos tempos vazios, é puro ouro."

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