Eleições 2018: a escuta necessária para levar às urnas os que não foram no primeiro turno



Por Cidinha da Silva



Quando um ex-líder da Ku Klux Klan faz a seguinte declaração sobre o candidato fascista das eleições presidenciais do Brasil: “ele soa como nós”, uma pergunta se impõe diante do apoio popular que o fascista recebe: “onde nós, do campo progressista, erramos”?

A resposta que encontro é atravessada (para além do projeto de conquista do poder pelos políticos evangélicos)pela ausência de escuta, nem falo de escuta qualificada, falo de escuta simples, cotidiana, aquela do café, do almoço, dos afazeres domésticos, do fim do dia de trabalho, do dia de folga.

É uma resposta que nasce do mundo de vista da autocrítica, não aquela proposta pelo irmão mais novo do clã Gomes, da colérica conexão Pindamonhangaba-Sobral-Fortaleza, não, não falo sobre esse tipo de autocrítica. Trato de uma perspectiva séria, propositiva, transformadora.

Vejo muitos depoimentos de pessoas que estão conquistando votos para o campo democrático em conversas com desconhecidos nas ruas, no transporte coletivo, em outras situações públicas e isso é muito importante, pois soma, robustece nosso campo, contudo, me pergunto se estamos conversando (ouvindo) nossos próprios familiares. Estamos? E aqui me refiro diretamente às famílias negras, aquelas que são verbal e fisicamente violentadas pelo fascista, mas parecem votar nele e apoiá-lo, como Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo.

Que contradição é essa? Nocaute dado por um paradoxo incompreensível, indecifrável. Ouço nessa pequena morte, um grito de socorro, um apelo desesperado de ajuda que se manifesta no apoio a um desequilibrado mental, inflado por estratégias ultradireitistas de mídia, disseminadas pelas mídias que sustentam o projeto e se beneficiarão dele, caso seja vitorioso. Um grito dado por pessoas comuns que nunca são ouvidas e se iludem achando que o fascista as representa de algum modo..

Os fascistas como ele, os que sempre nos odiaram e nos mataram, e agora se sentem legitimados pelo líder a expressar todo o ódio e a matar mais, são outra coisa, outro setor. Me atenho às pessoas comuns que não apoiam essas ideias e práticas, mas declaram voto nele. Como alcançá-las? Como tocá-las? A resposta é mais simples do que possa parecer. É preciso nos colocarmos num lugar de sensibilidade e escutar pessoas que se sentem como móveis velhos encostados, como objetos inúteis exauridos pelo tempo, pelo uso e pelo abandono daqueles aos quais um dia elas dedicaram muito afeto.

É hora de conversar com o pessoal mais velho que não votou no primeiro turno, que tem mais de 65 anos e que se sente como esses móveis abandonados. É hora de conversar com eles como seres humanos que talvez nos mostrem (se os escutarmos) o abandono insuportável a que nós mesmos os relegamos.

Em alguma medida isso vale também para os jovens que podem escolher votar ou não porque têm entre 16 e 17 anos. É outro grupo sem escuta.

É hora de lembrar que conversar implica em escutar, em dar atenção ao que a outra pessoa diz. Depois disso, a gente pode pedir e conquistar o voto. Pode inclusive oferecer carona ou companhia aos mais velhos no dia da votação. Vem com a gente, ainda dá tempo.

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