Das alegrias que o Exu me traz


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Um Exu em Nova York, de Cidinha Da Silva, é como a composição de um odu na peneira do babalaô, enigma lançado em que resposta é o que menos importa, pois as possibilidades de desvelamento vêm sempre fundamentadas em novos enigmas. É o mistério da moradora de rua, que oferece um par de sapatos, tirando a protagonista de um automatismo de pensamento e nos levando junto. É puro lirismo nas corredeiras da memória que fazem a maré espocar nos olhos do velho Ayrá. É o ser humano triste e incompleto, escondido na outra margem do rio de compostura da Mameto, que busca a completude em um amor mal visto, por sua comunidade, mas abençoado pelos orixás. É pemba no ponto riscado por Sá Rainha, na encruza onde o tempo cronológico, que rege o plano físico, se encontra com o tempo ancestral. É subversão da linearidade do tempo, brincadeira daquele que matou um pássaro ontem com a pedra que atirou hoje. Em muitos momentos eu não sabia se estava lendo um conto, uma crônica, ou um poema. Talvez o livro de Cidinha não seja nenhum dos três e todos eles, ao mesmo tempo. Como a carapuça de Exu que de um lado é preta e do outro é vermelha, mostrando que o monorracionalismo não abarca as múltiplas possibilidades de praticar o mundo. Peças pregadas pelo senhor dos caminhos para nos dar uma lição. O texto de cidinha é encruzilhada, plural e enigmático como a vida, potente e multifacetado como Exu.

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