Alugam-se moços
Elas querem dançar e alugam moços. São senhoras bem-sucedidas e solitárias. Amantes infelizes. Não refizeram a vida amorosa e desejam fazê-lo. No fundo, acham que sexo é bom, sexo com afeto é ótimo e sexo com amor é divino.
Inventam o amor para sobreviver. As amigas casadas, cansadas de emprestar os maridos e de ouvir as reclamações deles, encontraram uma solução: alugam moços dançantes para as festas do grupo. Uns tipos garbosos, bem apanhados, estilo anos dourados. Elas vivem momentos de delícia com aqueles corpos jovens, cheirosos, bons pés para valsar. Sempre rola um dinheirinho no bolso, um bilhete discreto com o endereço e horário para o encontro. Dali, ninguém sai acompanhada por um deles, é festa de família.
Enquanto isso, na sala de justiça, o rei da soja, de protuberância abdominal mastodôntica, pescoço de sapo, olhos, boca e pele de jacaré albino, expõe mulher jovem, de beleza gelada e estática, mas, bela. Durante a entrevista, afirma que elas gostam de conforto, bons restaurantes, viagens à Europa em cadeiras de primeira classe ou jatinhos particulares, compras na Champs Elysées. Eles, homens maduro-ricos, segundo particular definição de si e de seu grupo, gostam de boa e bela companhia. Da juventude, do viço. É uma troca.
Para as mulheres maduras, a fantasia continua. O moço dançante sugere o apagar das luzes, até do abajur. Tudo para facilitar o ato. Ao resenhar o pós-encontro ao telefone, elas fabulam as peripécias do amante, transformam a escuridão num clima, numa vela mágica e perfumada, que ele, príncipe encantado, sacara de seu embornal de segredos. Depois, uma variação de caminhos para enfrentar a solidão. Bebidas, choro, farinha, cannabis, sessões extras no psicanalista, aumento da dose de Tranquinal, Nervium, Ansienon, Deprax, Pondera, Zoloft. Qualquer coisa que anestesie, alivie. Ampare e não impeça o próximo encontro. (Do livro novo: "Você me deixe, viu? Eu vou bater meu tambor! Ilustração: Lia Maria)
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Abraços
Ass: Julia