Isabel e Rocco
Solta o corpo no lado esquerdo da cama. Ela tremelica do lado direito e dá um muxoxo de soneca interrompida. Ele, sem camisa, suando, sem desodorante. Um cuscuz. Short abaixo da barriga, cofrinho à mostra. Ela, cansada do sono perdido na noite anterior. Dia inteiro de aulas, duas turmas de quarenta crianças. Varizes gritando, cabeça doendo.
Ele passa o pé na perna dela, aperta uma varize. Ela geme. Ele acha que ela aceitou e investe. Vai até o ouvido dela, bafo curtido de cebola e cerveja e faz a proposta: “Vamos aproveitar que o Júnior está dormindo”... Ela o empurra. Diz que aproveita a soneca do Júnior para também tirar a sua, que está cansada, que aquelas oitenta crianças a estão matando...
“Tá bom, tá bom, mas também não aporrinha. Depois não reclama quando eu for procurar na rua.” Ela ironiza: “Faz-me rir. Mas até pode ser, mulher só não vai com cobra porque não sabe onde fica a cabeça”.
Ele liga a televisão. Termina de vez o sossego dela. Novela das sete. Ele comenta: “Isabel Filardis, isso é que é mulher. Dois filhos e aquele corpão, aquela carinha de menina. Magra, linda. Dá pra sentir o frescor pela tela”.
“Que poético.” Ela destila ao olhá-lo de banda. Examina-o: baixinho, barrigudo, fedorento, cabeçudo, orelhudo. Uma lixa na sola dos pés. Conclui: “cada uma tem o Rocco Pitanga que merece”.
(Do livro novo: "Você me deixe, viu? Eu vou bater meu tambor"!)
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