Faraós negros
A revista National Geograhic Brasil, do mês de fevereiro, traz uma matéria excelente sobre os Faraós negros, não só do Egito, mas também da Núbia, atual Sudão. São muitos os pontos altos do texto, o primeiro deles, o caráter dialógico da organização e apresentação dos resultados de pesquisas de arqueólogos e historiadores sobre a existência e modo de governar dos Faraós negros, oriundos da Núbia. Trata-se de tema complexo, desde as postulações dos egiptólogos afrocêntricos que reivindicam a negrura de todos os antigos egípcios, de Tutankhamon a Cleópatra, aos historiadores negligentes em relação à civilização construída pelos núbios e expoentes de uma “ignorância absoluta do passado da África”, ou mesmo aos racistas que mesmo diante de indícios irrefutáveis, encontrados por eles mesmos, não admitiam que negros pudessem ter construído uma civilização. Destaca-se também a atualização da matéria por meio de uma perspectiva da História que aproxima o passado do presente, ao mesmo tempo que informa de maneira embasada e crítica. Leia-se o trecho abaixo: “Atualmente as pirâmides do Sudão – mais numerosas que as do Egito – são espetáculos assombrosos no deserto da Núbia. É possível perambular por elas sem nenhum temor, mesmo se estivermos desacompanhados, como se a região nada tivesse a ver com o genocídio no país, a crise dos refugiados em Darfur ou as conseqüências da guerra civil no sul. Enquanto cerca de mil quilômetros ao norte, no Cairo ou em Lúxor, multidões de turistas curiosos desembarcam de um ônibus após outro, espremendo-se para ver e apreciar as maravilhas egípcias, as pouco visitadas pirâmides sudanesas de El Kurru, Nuri e Meroé se erguem serenamente em meio a uma paisagem árida e vazia que mal sugere que ali teve lugar próspera cultura da antiga Núbia. Agora, contudo, nosso vago entendimento dessa civilização está mais uma vez ameaçado de mergulhar na obscuridade. O governo sudanês constrói uma usina hidrelétrica no rio Nilo, cerca de mil quilômetros acima da barragem de Assua, erguida pelo Egito nos anos 1960 e que transformou grande parte da Baixa Núbia no leito do lago Nasser (chamado de lago Núbia, no Sudão). Até 2009, ficará pronta a enorme barragem de Merowe e um lago com 170 quilômetros de comprimento irá inundar as terras no em torno da Quarta Catarata – assim como milhares de sítios arqueológicos ainda inexplorados. Nos últimos nove anos, os arqueólogos acorreram desesperados à região, realizando escavações a toque de caixa antes que outro repositório de história Núbia tenha o mesmo destino de Atlântida” (p.35). Visite o sítio da National Geographic Brasil: ngbrasil.com.Br
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