O novo é o rolezinho
Desde que foi o susto das liminares conseguidas por alguns shoppings para impedir a periferia de fazer rolezinho nos seus espaços, muita reflexão e pesquisas aconteceram.
As primeiras respostas e análises foram confusas e provocaram reações de medo e espanto. O preconceito ficou escancarado, mas os episódios acabaram provocando diálogos não pensados e inimagináveis há alguns meses. O Brasil muda e todos nós vamos ter que abrir a cabeça e repensar comportamentos frente esta gigantesca massa que passou a consumir. Sem medo, sem preconceito, civilizadamente como bons brasileiros que achamos que somos.
O Ministério da Cultura tem acompanhado e tentado entender, há alguns meses, como chegar nesta juventude que quer participar e se integrar, que cria sua própria música e diversão e se apropria dos símbolos do consumo.
Vejo alguns processos: ascensão social, afirmação e curiosidade adolescentes que merecem estudo.
Ir a shoppings em grupo, como as melhores análises apontaram, não descamba para vandalismo, se o policiamento preventivo for adequado, e no máximo faz a madame perceber que o mundo está mudando. Assim como sua empregada doméstica comprou um carro e tem direitos que nunca se imaginou que chegariam ao Brasil.
A juventude que mudou de classe social e há alguns anos passou a consumir em shoppings não quer mais se manter no bairro, seja ele num shopping que já frequenta seja no espaço que sua comunidade conquistou para reuniões ou festas. Não querem ser confinados.
Daí a fazer um rolezinho foi um pulo. A reação de pânico e truculência dos que se sentiram "invadidos" geraram os protestos pelo país e análises mais ponderadas. Provavelmente ainda vamos ter alguns rolês, mas com a volta às aulas diminuirão e adquirirão novas configurações. Os shoppings também amadureceram sua percepção inicial e saberão lidar melhor com as mudanças que a sociedade brasileira está vivendo. O importante é que percebamos que não pode existir nada perto de discriminação. Assim como entender que um montão de jovens adolescentes em grupo num shopping pode provocar desconforto.
Talvez esta tenha sido a primeira evidência do que teremos que compreender e viver na próxima década. As cidades terão que ter espaços públicos como CEUs, e centros culturais, praças e surgirão muitos privados para a juventude se encontrar, trocar ideias, paquerar e crescer. Se tudo isso era feito no século passado nas praças e nos bailinhos, hoje, com maior liberdade de costumes, dinheiro e internet, os lugares e novas formas de encontro serão experimentados.
O Ministério da Cultura realiza em março um encontro com jovens, a maioria não pertencente a nenhum programa organizado, para dialogar sobre interesses e propostas que gostariam de ver incrementadas pelo ministério.
Comentários