Tem dia que à noite é assim mesmo


Por Cidinha da Silva



Como é que a cronista deu um mole daquele? Logo no dia em que critica o texto de uma grande escritora ela comete erros de português tão primários? Troca J por G, Z por S, Ç por duplo S, C por S. Será que bebeu? Tomou algum alucinógeno na veia? Apelidou um coração senso-comum do racismo dos brasileiros médios de coração suburbano, mais negro do que muito negro por aí?

Parece que não. Parece que estava tensa, premida pela urgência do tema, pela admirada escritora envolvida na crítica e pelo cansaço. Deu pane, nem nas redações do colégio cometera tantos erros num texto só. Uma leitora chegou a dizer que ela se ajoelhou antes de criticar. A praga do corretor de textos também não ajudou. Esse ser preguiçoso e desatualizado. Que nada! Que tipo de escritora é essa?

Gente da pedra lascada é assim, erra e depois põe a culpa no computador. A culpa é dela que ainda não tirou os dicionários das caixas de mudança e não tem o hábito de consultar dicionários eletrônicos. A culpa é dela que ao invés de usar as palavrinhas de todo dia, usa outras que se pretendem mais sofisticadas e não sabe escrevê-las.

Ela até sabia, mas errou, esqueceu. Agora fica aí nessa penitência toda, rolando na cama sem sono. Envergonhada pelo deleite dos leitores que desgostaram do teor do texto, embora não tenham apresentado qualquer argumento consistente, e tripudiam sobre os erros absurdos, embora não usuais.

Oh dia! Oh vida! Oh mês! Oh azar! Prova do próprio veneno, metida! Amarga teu dia de Barbosa no Maracanazo!

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