A palavra de Mayana Soares sobre o livro Um Exu em Nova York




"O ar abafado queimava minha pele. O vento, meu amigo de eras, abriu a janela de rompante e derrubou no chão pequenas pequenas peças inacabadas. Acordei, rodei minhas saias. O vento espantou tudo e jogou aos meus pés a adaga, que apanhei no susto. Risquei o chão e despachei para as águas profundas aquele homem dos infernos. Abri os olhos, ainda com a cabeça baixa, e olhei tudo à volta. O mundo rodava e retomava o prumo. Recolhi as peças quebradas e a paz me sorriu largo. Comecei o conserto pelo que havia sobrado de mim" (Conto Válvulas, p. 32). 

É assim, através de encontros ancestres, de movimento das saias, sorrisos leves, retomada do controle sobre si, de movimentos constantes de um tempo que é cíclico e da paz que se achega, que "Um Exu em Nova York", de Cidinha Da Silva, mexe com nossa imaginação, afetos, desejos e ancestralidade negra na afrodiáspora. Esse livro foi premiado na categoria de melhor livro de contos pela biblioteca nacional 2019. Enxuzilhada, ventos e tempos em constantes giros a reinventar a vida. Laroiê!

Comentários

Postagens mais visitadas