Escrever por encomenda

por Cidinha da Silva Escrevo por encomenda e gosto muito. Não chego a escrever melhor, como o poetamigo Ricardo Aleixo, mas escrevo feliz porque remuneram meu trabalho. Tenho também o desafio pessoal de superar as expectativas de quem me contrata. Contudo, não há só flores, a determinação do tamanho do texto me incomoda. Schineider Carpeggiani, do Suplemento Pernambuco, me encomendou um ensaio de capa sobre publicações da Audre Lorde no Brasil. Escrevi 14.000 toques e fiquei satisfeita. Assertivo e gentil, o editor me lembrou que nosso acordo era de 20.000 caracteres e ele precisava deles porque aquele era o tamanho destinado ao texto de capa no miolo do jornal. Compreendi e escrevi os 6.000 toques faltantes. Para O Cândido, tinha o poema que me pediram, mas era maior do que o espaço da contracapa, precisei escolher outro. Os textos por encomenda envolvem combinados, remuneração profissional, ocupação de espaços de prestígio ou estratégicos, nesses dias, por exemplo, preparo uma resenha solicitada pelo querido João José Reis sobre livro básico para a bibliografia das Ciências Humanas no Brasil, lançado no final de 2020. Honra, importância e alegria definem minha relação com o texto. Mas tem também o pessoal que está começando e que talvez tome o estabelecimento de regras rígidas de participação para todas as pessoas (inclusive as tarimbadas ) como sinônimo de ousadia. O detalhe é que são convites sem remuneração ou de pagamento diminuto. Outro dia me pediram um conto inédito de 2.500 palavras para publicação, isso significaria escrever mais ou menos sete páginas por um valor irrisório. Escrevo raros contos grandes, não tenho material de gaveta, aceitar o convite demandaria que eu postergasse outros trabalhos mais importantes para atender aquela demanda. Impossível. É comum que eu queira apoiar, emprestar meu nome para fortalecer iniciativas editoriais nas quais acredito, contudo, aconselho ao pessoal que não paga ou o faz de maneira simbólica, que sejam mais flexíveis com o tamanho dos textos, pelo menos quando me convidarem. Imagem: Série “Aceita” Artista: @moisespatricio

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