RESENHA DE "OH, MARGEM! REINVENTA OS RIOS!" FEITA PELO PESSOAL DO PROJETO LIVROS DA CAIXA VIRTUAL

Obrigada pela leitura atenta. Oh, margem! Reinventa os rios! Cidinha da Silva Oficina Raquel Editora “Os três meninos da minha rua vestem o mesmo modelo, sempre em tons de abóbora. Só os cabelos são diferentes. Até os sonhos devem ser parecidos com os de outros meninos”. Os contos e as crônicas que compõem o livro de Cidinha da Silva falam principalmente de sonhos. Sonhos que se concretizaram e sonhos que foram podados, muitas vezes, junto da vida daqueles destinados a idealizá-los. E o livro faz isso de duas formas: num resgate histórico e cultural de figuras importantes, em textos que exaltam a memória e apontam o racismo estrutural; e nas narrativas de personagens comuns, são corpos e vidas com as quais nós cruzamos todos os dias e que estão em lutas constantes. Alguns exemplos desse resgate são as crônicas que falam do brilhantismo de Wilson Simonal, Anderson Silva, Fela Kuti ou Evaldo Braga. Há também o texto que nos apresenta à personagem Luli Arrancatelha, que representa a mulher negra na arte, a funkeira dá uma entrevista que serve para derrubar os estereótipos diariamente replicados na mídia, mas não só, ela se funde ao real por ser sobrinha da poeta, compositora e atriz negra Maria Tereza Moreira de Jesus, falecida em 2010. Já em outros textos, o objetivo é dar voz aos frequentemente silenciados, vidas vão sendo apresentadas em narrativas breves, intensas e, por vezes, trágicas, mas nem por isso com personagens menos belas. A sociedade retratada na ficção de Cidinha da Silva é também real, e estamos todos a fazer parte dela, para o bem e para o mal. Como não sentir vergonha lendo “Thriller”? Conto que abre a obra. Como não pensar em Madalena Gordiano ao ler “Ônibus especial”? Quantos de nós precisaram fechar os olhos e tapar os ouvidos para que essa mulher tivesse 38 anos de sua vida roubados? Ao questionar “Vocês não estão me ouvindo?”, “Mulher preta precisa aguentar mais, mesmo?”, “Por que o policial atirou em mim, mãe?” O texto de Cidinha não busca respostas, ele precisa que continuemos em silêncio ouvindo a voz que os recortes apresentados têm a nos dizer, a todos nós. E as histórias continuarão ecoando após fechar o livro.

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