Um padê para Sueli Carneiro

Senhora do Fogo Azul, farol na tempestade Por Cidinha da Silva Em meio à guerra declarada à sua gente, guerra também de um vírus aliado na execução do plano genocida, ela completou 70 idades, radiante, um farol na tempestade. Enquanto Iku levava milhares, Obaluaê ofereceu a milhões a oportunidade da doença como batalha derradeira na peleja de todo vivente, a arte de driblar a morte. Discreta, silente e atenta, a Senhora do Fogo Azul esperou pela celebração e a acolheu. Sorriu. Desbordou o coração, distraiu-se da pandemia ao som de nossos ngomas e mbiras, mambos e pontos cantados. Espalhamos perfume, flores e água fresca pelo caminho aberto e limpo por ela, liberto de espinhos, pedregulhos e armadilhas. Convocamos makotas, ngangas, kumbas e kimbandas, todos bambas na ciência de encantar a vida e distrair a morte. Ela, a Senhora do Fogo Azul, acolheu a festa, mas não deixou de guerrear. Ela que é filha daquele que é ferreiro, caçador, general, rei. Ela que luta com astúcia e sagacidade. Ela, sentinela da memória do conhecimento acumulado, da tecnologia de transformação da natureza e da produção de infinitos. Festejamos e continuamos o combate pelo direito de morrer de morte natural quando chegue a nossa hora, para que a gente possa morar na dobra do tempo, como o Reinado já anunciou. Os marços vão acabando conosco, mas nosso mundo é encaixado, os tambores não estão mais frios, podemos aquecer nossa passagem pela Terra e anunciar às sete direções, à esquerda e à direita, em baixo e em cima, à frente, atrás e dentro, podemos anunciar o mundo novo, aquele que nasce das cinzas da fogueira de Nzázi, da cabeça, onde tudo começa e termina, da palavra de kurimá, da palavra de kuendá, kuendá, kuendá. Maçalê / Tiganá Santana https://www.youtube.com/watch?v=AyelJOizOxo&list=OLAK5uy_nItWdZy8KmWvlV9OdvXkHwJs9R2itvuhU&index=8

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