Magda Becker Soares, muito obrigada

A professora Magda Becker Soares se foi aos 90 anos, no mesmo dia em que o Presidente Lula recebeu a faixa presidencial das mãos de uma mulher negra, Aline Sousa. Tive a honra e a alegria de trabalhar com a professora no início dos anos 1990, na FAE-UFMG. Eu havia concluído a graduação e estava naquele limbo de quem perde a renda, posto que o vínculo de trabalho dependia da matrícula na universidade. Havia vagas para um projeto de pesquisa da professora Magda sobre o PABAEE e me candidatei. Tratava-se de uma “bolsa de aperfeiçoamento”, uma categoria intermediária de pesquisa depois da iniciação científica e antes do mestrado. A seleção se daria por um texto escrito e currículo, a seguir, as pessoas classificadas seriam entrevistadas. A própria Magda Soares conversou comigo e me deixou tranquila, pois foi muito gentil e atenciosa, além de explicar detalhadamente como seria feita a pesquisa nos arquivos do Instituto de Educação de Minas e em uma escola no bairro João Pinheiro. No final da conversa, entretanto, travei, porque ela me disse o seguinte: “seu currículo é muito interessante, você tem experiência de pesquisa, tem um bom texto, mas fico me perguntando se você não deveria buscar um trabalho mais compatível com suas qualificações. Respondi de pronto, meio assustada: “eu preciso trabalhar”. Por que não menti? Por que não disse que o trabalho era “interessantíssimo”? Por que não tive presença de espírito para dizer uma verdade, eu aprenderia muito com ela. O fato é que a franqueza funcionou e a professora me deu o emprego tão necessário. Passados alguns meses, organizei minha mudança para São Paulo e a procurei para explicar o desligamento do grupo. Ela, sempre ocupada, mas com tempo para as pessoas, me ouviu, fez perguntas interessadas sobre o que eu iria fazer na vida nova. Eu deixaria minhas funções no meio do mês e receberia um salário inteiro. Queria saber como devolver o valor dos dias não trabalhados. Ela sorriu e me disse que não teria o que fazer com aquele dinheiro. Eu ainda agradecia quando ela me interrompeu: “siga seu destino, menina”. Eu segui.

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