Estamos por nossa própria conta

Passados a perplexidade e tristeza, disparados pelo processo de fritura política de Matilde Ribeiro, fica a certeza de que pertencemos à mesma comunidade de destino. Estas linhas compõem a indignação de toda a vida, a sensação de estarmos por nossa própria conta desde a concepção num ventre negro. A coletiva de Matilde Ribeiro, no momento de saída da Seppir, é, até hoje, motivo de pesadelo para mim, não consigo imaginar o sentimento dela. Aquilo foi um espetáculo covarde, um lavar as mãos em águas sujas, um jeito de dizer “fartem-se leões, entrego-lhes a presa fácil”. Nenhum par, nenhum amigo, nenhum confrade, nenhum defensor, ao qual o mais reles dos bandidos tem direito, quanto mais a integrante de um projeto político, dito de transformação, nada, só o abandono à companhia solidária, mas inofensiva, dos assessores e subordinados. Matéria prima para os infindáveis papos de botequim, para a política pequena, aquela que aponta culpados no Movimento Negro e cita nomes e nomes de arroz de festa nas paróquias de origem, mas inoperantes na política grande. Enquanto isso, na sala da justiça, à revelia dos párocos, a grande imprensa, deliberadamente, atrela os erros de uma de nós a todos nós. Produz confusão entre a inocuidade de uma pasta e a justeza de uma causa. É, estamos por nossa própria conta, sejamos Matilde Ribeiro, Benedita da Silva, Lecy Brandão, Celso Pitta ou Orlando Silva, chamado por alguns de Nelson Gonçalves, nada nos diferencia, somos pessoas negras, estamos todas no mesmo barco e o racismo nos bombardeia ou bombardeará o casco. Pouco importa o que tenhamos feito ou construído, sob a mira dos holofotes racistas somos meras sombras, pertencemos à mesma comunidade de destino. Não nos iludamos, qualquer de nós pode ser o próximo alvo. (Foto de Steve Biko)

Comentários

Sem duvida tristeza enorme! Lamentavel o desdobrar disso e acho que apenas posso concordar contigo. Agora eh seguir e nem sei se a pergunta feita seria para "o que", mas "como", afinal o que queremos acho que ta ai, bem ou mal sabemos, mas a maneira disso acontecer eh outro papo...
Anônimo disse…
Mariana Rodrigues, ei Cidinha, li no site do poeta agorinha. Excelente. Parabéns

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