Futebol brasileiro e ética
Por Cidinha da Silva
O futebol, que me distrai tanto,
anda afastado de meu campo de interesses e possibilidades. Tempos de muito
trabalho interno, externo e literário. Restam-me as orelhadas na crônica
esportiva, os pitacos dos amigos, principalmente os feridos pela derrota dos
times do coração.
É assim na Bahia, onde Mandingo
engole, silencioso e recluso, a vitória do combalido Bahia (por ele apelidado
de Jahia) sobre o todo-poderoso Vitória. Nome que perdeu o sentido no
campeonato estadual, se é que vocês me entendem.
Também em Minas, onde o triste
Galo, pela milésima vez perdeu o título para o Cruzeiro. Dizem que com pênalti
não dado, portanto, roubado, mas perdeu, é o resultado final. Situação similar
ao time campeão carioca, marcado por glórias mil, mas também por um goleiro
assassino, homicida da ex-parceira sexual. Agora o time conta com outro goleiro
“polêmico” que diante da nota oficial da associação de juízes do estado, dando
conta de que seu companheiro de time estava impedido no gol do título, afirma,
lampeiro e impune, que, “roubado é mais gostoso”.
Haja escola, professor
comprometido, educação em casa, paciência, força ética e moral para combater o
contra-exemplo oferecido por um ídolo popular de que roubar, enganar,
ludibriar, obter vantagem ilícita é mais saboroso que ser honesto, leal e
ético. Saudade da irritação de Seedorf com o cai-cai dos jogadores brasileiros
e a tentativa de ludibriar os juízes, bem como de sua certeza de que o respeito
às regras do jogo é mais importante do que o gol.
Em casa soube que o Santa Cruz
perdeu para o Sport e vi pela TV que o salário mensal de Leandro Damião, do
Santos, é maior do que a folha de pagamentos inteira do Ituano, campeão
paulista vindo do interior. Esse é o irônico mundo do futebol brasileiro!
Damião, jogador discriminado e em
muitos momentos ridicularizado por ser originário da várzea gaúcha, por não ter
passado por anos de escolinha de futebol em grandes clubes, quando criança e
adolescente, e por não ter a experiência das categorias de base, tornou-se
sucesso improvável pelo empenho no trabalho, boas atuações no Internacional e,
principalmente na Seleção Brasileira. Seu passe foi valorizado, transformou-se
em jogador de elite e hoje, seu salário é maior do que a folha de pagamentos
integral do time campeão do certame paulista que, além de derrotar o Santos, venceu
os outros três grandes durante a competição, Palmeiras, Corinthians e São
Paulo, nessa ordem. Não por mero detalhe, Damião segue sendo um homem simples,
pouco afetado pelo glamour de boleiro bem sucedido.
É bom saber que além da validade
do que o juiz não vê, enaltecida por Felipe, do Flamengo, o mundo dá voltas e
também produz exemplos extremamente positivos, como o de superação,
protagonizado por Damião, honrando, assim, a inspiração máxima que estes dois
jogadores de futebol representam para a meninada brasileira de mesma origem
racial e social.
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