Santo deus das bananas olhai por eles!
Por
Cidinha da Silva
Olhai pelos tolos
seguidores dos idiotas, senhor deus das bananas. Porque eles são ingênuos, não
sabem o que fazem. Mas, aos imbecis, portadores de mau caráter, aproveitadores
de todos os matizes, racistas quatrocentões e também os de primeira geração, aplicai
a dureza da lei.
Racismo é crime. Sem açúcar
e sem afeto, ao contrário do que pensam os adoradores da banana. É preciso
investigar e punir para coibir manifestações futuras. Assim fez o Villarreal,
time responsável pela torcida que atirou a campo uma banana, devorada pelo
jogador Daniel Alves. O clube identificou o
torcedor responsável pela atitude racista durante partida entre a equipe e o
Barcelona, pelo Campeonato Espanhol, punindo-o com a suspensão do carnê de
sócio e o banimento do estádio El Madrigal pelo resto da vida.
O clube
não agiu sozinho, partilhou o sucesso da ação com os responsáveis pela segurança
no estádio, bem como a torcida, todos imbuídos em identificar o autor da
discriminação racial, para impedir, inclusive, uma possível punição desportiva à agremiação. Ou seja, ao
investigar, encontrar o racista e puní-lo, o Villarreal apresenta à sociedade
espanhola e ao mundo, o compromisso inequívoco de respeito aos direitos
humanos, ao direito de trabalhar em condições dignas.
À presença de espírito de Daniel Alves ao comer a banana, ao transgredir
e ter uma atitude inusitada diante da clássica discriminação racial que associa
pessoas negras a macacos, com o objetivo de desumanizá-las, seguiu-se uma
campanha marqueteira de quinta categoria nas redes sociais, evocando o macaco
que as teorias evolucionistas guardaram dentro dos seres humanos.
O senhor está perplexo, senhor deus das bananas? Nós estamos, pois, ao
cabo, se somos todos macacos, não existem mais racistas.
Merece algumas linhas adicionais, senhor deus das bananas, a atitude de
Daniel Alves, sertanejo brioso que não teme a ingestão de veneno. Porque o
senhor sabe, aquela banana era tóxica, continha uma quantidade secular de
energia radioativa. E Daniel, no ímpeto de reagir (talvez de marquetear) comeu-a
inteira. Mesmo um primata não faria isso. Os animais sabem reconhecer as plantas
venenosas e o perigo de morte. Só nós, humanos, subvertemos a lógica da
natureza e achamos que comendo a banana produziremos anticorpos que destruirão
os racistas.
Ensina o manual de faxina étnica, senhor deus das bananas, que, sua
eficácia está diretamente relacionada à desumanização do grupo que se quer exterminar
e/ou explorar. Os nazistas comparavam os judeus a ratos e baratas. À
colonização europeia, por sua vez, a associação de africanos a macacos é
intrínseca.
A opressão racial é tão vil e eficiente no Brasil que consegue fazer com
que um jovem destacado de sua comunidade de origem, o jogador Neymar, visivelmente,
notadamente, escancaradamente afrodescendente (sem a opção do escapismo moreno),
nomine-se como macaco, mas não se reconheça preto.
E, se é verdade que "todos somos macacos" (nós - os negros, os
"brancos" como Neymar, e os brancos como Luciano Huck), Dani Alves e
o companheiro midiático estão absolvidos do estigma do racismo que lhes é tão
oneroso (a nós também) porque não é algo humano, porque não é mesmo suportável.
Mas, a diferença entre uns humanos e outros, senhor deus das bananas, é
que os primeiros não têm alternativa de sobrevivência, senão, enfrentar o
racismo, por isso se afirmam negros, ao tempo em que mandam os macacos-humanos
plantar bananeira no asfalto quente para divertir os brancos. Quanto aos
racistas, o grupo de primitivos humanóides negros manda-os para a cadeia.
O segundo grupo de humanos negros, aquele composto por pessoas
descoladas que se auto-elogiam como macacas, mas não suportam o aniquilamento
provocado pelo racismo, a despeito dos cartões de entrada vip para o jogo da
vida (fama, dinheiro, prestígio social), optam por enfatizar, como o fez Dani Alves,
que brasileiros têm samba no pé e alegria de viver. Por conseguinte, conclui-se,
driblam o racismo com irreverência e criatividade.
Seguindo esse raciocínio, são capazes de entortar os adversários (e os
pares) ao propor uma campanha contra o racismo tão racista quanto o ato
deflagrador. Assim, eles demonstram orgulho por serem macacos, mas negam que
sejam pretos. Santa lobotomia, senhor deus das bananas! Triste fim da
humanidade!
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