A dança entre Cronos e Tempo no livro Sobre-viventes!
As crônicas são, certamente, as filhas diletas do Deus grego Cronos, imperador do
tempo. No entanto, por esta perfilhação tão bem definida, elas costumam a
carregar nas costas a marca dos dentes do pai. Elas nascem marcadas de tempo,
eivadas de traços que as aprisionam em cenas e em contextos que as ligam
umbilicalmente a situações definidas, realmente marcadas. Praticamente nenhum
grande cronista, de Drummond a Rubem Braga, escapou disto.
No entanto, o que Cidinha da Silva traz aqui nestas páginas é uma surpresa ao
leitor, um assomo!
Suas crônicas foram nascidas de outra divindade, do Deus Tempo: aquele que vai e
volta, que faz curvas, que se curva, que dança na memória, baila no vento e se
lança de hoje a um futuro amplo e indefinido, mas sempre certo. Tempo é uma
divindade do Panteão Africano, um Deus poderoso, do qual cuidamos como filhos
que lhe têm medo e respeito, por que sabemos que ele vai e que ele volta, e
nunca sabemos de que dobra ele sairá na próxima cena! E assim, com esta vida
herdada do Pai, é que se erguem as crônicas de Cidinha da Silva neste livro (Lívia Natália, no prefácio).
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