RELEASE SOBRE-VIVENTES! 9º LIVRO DE CIDINHA DA SILVA!

Sobre-viventes! (Pallas, 2016) é o 6º livro de crônicas de Cidinha da Silva, 9º de sua carreira literária que, neste ano completa 10 anos. Os números demonstram uma produção em papel prolífica, tanto quanto a da cronista que analisa o cotidiano da política e da cultura no Brasil, na perspectiva de africanidades e relações raciais e de gênero, em diversos portais e blogues do cyberespaço. Sobre-viventes! não foge à regra de 5 de seus livros de crônicas, exceção feita ao Baú de miudezas, sol e chuva (Mazza Edições, 2014), nos quais os temas leves se misturam aos temas densos, principalmente relacionados a questões de direitos humanos. Nas 130 páginas e 41 crônicas do livro, os leitores reencontrarão a perspicaz crítica da mídia que já apresentara suas armas num livro inteiro dedicado ao tema, Racismo no Brasil e afetos correlatos (Conversê, 2013). Textos como O dia em que Willian Bonner chorou, O mundo dos aplicativos e Michelangelo dá um ninja no rio e é capturado, além de escrutinar o funcionamento deformador da mídia brasileira, não escapam ao humor ferino de Cidinha da Silva. Humor que se apresenta de variadas formas. É cáustico em Vida de gato, É só alegria e Higienópolis, por exemplo, e troca a corrosão pela ironia fina em textos como Marigô, Sujeito oculto e O livro de receitas da D. Benta. A crítica de gênero e sexualidade aparece vigorosa em crônicas como A heteronormatividade pira! e O leilão da virgem e a fita métrica. As manifestações de junho de 2013 também são abordadas, a exemplo do texto provocador Sobre o sono dos cavalos e o transporte público em São Paulo. O tema do letramento racial, desenvolvido pela autora à exaustão na Web, aparece em diversos textos de Sobre-viventes! com destaque para: Distinções entre abolição da escravidão e racismo; Piadinha racista na boca de personagem negro na novela e O pastor-deputado Feliciano e a Lei 10.639. Contudo, a maior parte das crônicas trafega mesmo pelo ordinário da vida revelado por um olhar arguto, ora crítico, ora divertido, ora irônico e ácido, ora amoroso (Antologia do quartinho de empregada no Brasil e Miudezas de BH, capital brasileira dos bares). Ainda em relação aos temas tratados no livro, mas também sobre a manufatura literária de Cidinha da Silva, Eduardo Oliveira assevera no posfácio que: “Em Sobre-viventes!, os viventes têm nome e rosto. Tim Maia, Emílio Santiago, Alice Walker, Assata Shakur, Nhá Chica, Anastácia, Luis Gama, Joaquim Barbosa, Madiba, Maria Goreti. São fortes e não são puros. Ambíguos e negros. Não se explicam para o mundo e não pedem licença. São presença, não modelo! Existem por si mesmos. Não sobrevivem, são viventes! Combatem, não lacrimejam. Muito mais que a ironia, presente na maioria das crônicas, temos uma fúria que atravessa suas páginas. Uma fúria santa? Não. Uma fúria banta! Avassaladora. Não poupa nenhuma paisagem: vamos do teatro à novela, das manifestações de junho ao Congresso Nacional, dos bares de BH ao show de reggae na Capital Federal. Múltiplas paisagens para múltiplas abordagens. Escrita a fio de navalha: perigosa, ardilosa, sedutora. Que expertise na manipulação da linguagem tem nossa autora! Faz literatura banta, universalizável desde seu lugar de pertencimento. Cria seu próprio modo de expressão. Constitui seu universo. Escolhe suas referências. Diz com o estilo o que não se pode dizer com a frase. Ultrapassa o dito com o dizer. Para mim, isso é literatura. Dizer para além do dito. Intencionalmente ocultar para revelar. Revelar ocultando. Nesse jogo, deslinda-se o humano. Mas, humano, é ainda genérico: nesse livro desnudam-se os sobreviventes e os viventes."

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