Sobre-viventes! O prefácio.
Por
Cidinha da Silva
O prefácio é um abre-alas.
Feito por alguém que nos empresta seu prestígio e nos avaliza, nos apresenta,
nos recomenda ao leitor, à leitora. Alguém que se detém na obra e a esmiúça,
descobre detalhes importantes, eixos articuladores e os apresenta a quem se
interessa pela leitura, junto com os aspectos mais visíveis da obra.
Quem prefacia também se
posiciona e, se for o caso, discorda do livro prefaciado com elegância. Oxalá,
sejam discordâncias pequenas que não comprometam o nome da prefaciadora ao
associá-lo à prefaciada.
Lívia Natália, a
prefaciadora de Sobre-viventes! fez um exercício generoso e arguto ao apresentá-lo
e o texto fala por si. Seleciono alguns excertos para degustação.
“As
crônicas são, certamente, as filhas diletas do Deus grego Cronos, imperador do
tempo. No entanto, por esta perfilhação tão bem definida, elas costumam a
carregar nas costas a marca dos dentes do pai. Elas nascem marcadas de tempo,
eivadas de traços que as aprisionam em cenas e em contextos que as ligam
umbilicalmente a situações definidas, realmente marcadas. Praticamente nenhum
grande cronista, de Drummond a Rubem Braga, escapou disto.
No
entanto, o que Cidinha da Silva traz aqui nestas páginas é uma surpresa ao
leitor, um assomo!
Suas
crônicas foram nascidas de outra divindade, do Deus Tempo: aquele que vai e
volta, que faz curvas, que se curva, que dança na memória, baila no vento e se
lança de hoje a um futuro amplo e indefinido, mas sempre certo. Tempo é uma
divindade do Panteão Africano, um Deus poderoso, do qual cuidamos como filhos
que lhe têm medo e respeito, por que sabemos que ele vai e que ele volta, e
nunca sabemos de que dobra ele sairá na próxima cena! E assim, com esta vida
herdada do Pai, é que se erguem as crônicas de Cidinha da Silva neste livro.
Os
textos têm elementos de humor sofisticados, são chistes: irônicos e assertivos,
e, através deles, como na crônica “O Vizinho do 102”, fala-se da vida dos
outros delimitando, pelas reticências que continuam o papo das vizinhas
curiosas, que, a continuar falando da vida do vizinho do 102, elas ali
passariam a vida e nós, postos no lugar de fofoqueiros por tabela, ficamos no
ar das reticências, a querer saber mais de vidas que não são de nossa conta”...
(Lívia Natália, poeta, Professora
Adjunta do Setor de Teoria da Literatura da Universidade Federal
da Bahia).
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