Trechos do posfácio do livro # Parem de nos matar!, escritos por Áurea Carolina, deputada federal eleita pelo PSOL de Minas Gerais



"Ao final de 2016, eu tive a grata oportunidade de participar junto com Cidinha e a historiadora Josemeire Alves de uma conversa que embalou o lançamento deste livro em Belo Horizonte, no interior sagrado da Igreja das Santas Pretas, localizada entre o morro e o asfalto, na borda da Vila Estrela com o bairro Santo Antônio. Vi as crônicas do #Parem de nos matar! nas cenas de paixão e conquista que estavam sendo pintadas por Cleiton Gos e Marcial Ávila nas paredes da igreja, narrando histórias extraordinárias de mulheres comuns do Aglomerado Santa Lúcia. Inaugurados em maio de 2018, os catorze painéis com a representação das Sete Dores e Sete Alegrias de Maria foram concebidos em um projeto iconográfico do padre Mauro Silva, liderança incansável na construção do Muquifu – Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos, que também constitui o espaço da igreja.

Posso reviver a emoção daquela noite e o chamado ancestral que foi confirmado ali, elevado por uma poderosa simbologia, para que a continuidade da luta possa abalar as estruturas da morte com encantamento e beleza. Estávamos diante do amor invencível, da responsabilidade urgente de ir mais fundo nas nossas insuficiências e curar em comunidade nossas feridas indizíveis. O genocídio programado contra nós e a corrida insana atiçada por ódio e ganância não poderão nos aniquilar. Nosso levante deve saber identificar as ferramentas perversas do sistema para desconfigurá-las.

Eu acabava de ser eleita a vereadora mais votada de Belo Horizonte através da campanha coletiva da movimentação Muitas, ao lado da vereadora Cida Falabella. Logo quando assumimos a Gabinetona, nome dado ao nosso mandato compartilhado, pudemos experimentar um dos momentos mais marcantes da nossa atuação institucional, com a realização da oficina “#Parem de nos matar: um modo de educar os afetos pela leitura”, ministrada por Cidinha. A oficina nasceu de uma provocação feita pela própria Cidinha, que me enviou já nos primeiros dias de 2017 uma proposta cuja ementa dizia o seguinte: “Serão trabalhadas a manufatura do livro e todas as decisões tomadas para estruturá-lo como documento de registro dos afetos envolvidos no extermínio da população negra em curso no Brasil contemporâneo e sua resistência”.

A atividade, inicialmente voltada para a equipe da Gabinetona, foi aberta para outras assessorias parlamentares e, principalmente, trabalhadores da segurança e dos serviços gerais da Câmara Municipal de Belo Horizonte. Tínhamos a intenção de estabelecer vínculos com esses trabalhadores, majoritariamente pessoas negras, desde uma vivência de letramento racial que acolhesse todas nós. Era preciso quebrar muitas barreiras simbólicas, uma vez que a diversidade de corpos e as práticas políticas da Gabinetona contrastavam com a lógica convencional daquele lugar, e em grande medida essa mudança ocorreu. Cidinha conduziu uma tarde inspiradora, ocupada por muitas vozes, decisiva para que a equipe da Gabinetona e aqueles trabalhadores pudessem se conectar e se relacionar a partir de então com mais empatia e respeito".

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