Cacos
Houve um ano chamado 2019, tinha havido outro chamado 2018. Penso que as perspectivas após o resultado das eleições presidenciais de 2018 eram tão sombrias que não sabíamos o que seria 2019. Sobrevivemos, mas o mais comum é ouvir declarações do quanto 2019 foi um ano difícil. E mesmo que do ponto de vista pessoal a pessoa tenha tido um bom ano, é constrangedor declarar isso porque tudo ao redor foi tão ruim, porque pode parecer que de alguma forma houve pacto, conluio, privilégio gerado por qualquer tipo de apoio ou relação de proximidade com as milícias que chegaram ao poder e seus modos de operação.
Desde 2015, antes da primeira etapa do golpe, a derrubada da presidenta Dilma, já nos impediam de comemorar, de brindar, naquele ano, com uma campanha derrotista insidiosa, mesmo que a economia não respirasse por aparelhos, como agora; mesmo que não houvesse vagas nos hotéis das cidades litorâneas, que as lojas estivessem cheias e que as pessoas pudessem planejar férias em 2016. Agora, os aeroportos estão vazios, não têm mais cara de rodoviária, como reclamavam os golpistas, e aumentou muito o número de cães e gatos como principais acompanhantes das pessoas.
Nas ruas das cidades estourou o número de pessoas desabrigadas, mendigando comida. Um quantitativo de mulheres e crianças como nunca visto, nem na era Collor, expostas a todo tipo de violência, especialmente a sexual.
Eu tinha medo de um 2019 parecido com os anos mais violentos da ditadura civil-militar, esse medo permanece para 2020 e não consigo pistas seguras para imaginar novos cenários. Resta-nos a coragem, a luta e a ética, ainda estamos vivas e temos forças para lutar.
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