Romantização da guerrilha

 



Cidinha Da SilvaNo Araguaia, ninguém colocou a mochilinha nas costas e disse: Ok, amiguinhos, vamos para a floresta brincar de perseguição, de tortura, de morrer. Numa guerrilha as pessoas têm necessidade imperativa de sobreviver, e de maneira concomitante, constroem um lugar de existência para o sonho. Para equilibrar essas pontas lançam mão de firmeza de propósitos, nitidez de objetivos, treinamento, estratégia, tática e resiliência.

Na escola política na qual me formei, guerrilha era uma necessidade, um imperativo diante da falta de opções para lutar por um propósito, mas hoje tem um pessoal que do sofá, fuma um, toma vinho e faz “guerrilha”, enquanto espera o entregador de comida que recebe quatro reais por entrega. Pior, do sofá, ou da variação microfone-live, quer liderar gente que trabalha duro, sem parar, que é dona do próprio nariz, tem voz e fala por si. Gente que talvez utilize mesmo táticas de guerrilha para sobreviver no mercado extrativista.

Dia desses um editor me procurou e justificou a demora para fazê-lo porque imaginou que eu não quisesse publicar por “editora grande”. Bobagem, minha gente. Quem tem medo do mar é peixe de lagoa.

A guerrilha romântica, essa incompreensão histórica do que seja guerrilha, se opõe ao monstro-mercado. O caso é que quem está nas batalhas cotidianas, construindo as melhores condições de negociação, enfrenta a mandíbula predatória do mercado com as armas da troca justa, aquelas que Exu oferece para quem cultiva a ciência de aprender como se guerreia.

O mercado é lugar de Exu. Eu sou do povo de Exu, consequentemente, o mercado é meu território de trocas. Simbora mar!

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