Sobre as ilusórias esperanças em Obama: "Adivinhe quem vem para o jantar"?
(Por:Mário Theodoro*, fonte: Irohin www.irohin.org.br).
"A eleição de Barack Obama foi emocionante. Um desses momentos em que sentimos o peso da história. A história acontecendo e nós nela. Participando, assistindo, vibrando.
Trata-se, sem dúvida, de um fenômeno o novo presidente americano. Formado em Harvard, o centro de excelência dos EUA, tem o tino da política. Além disso, é um grande orador, inteligente e rápido nas respostas. Do ponto de vista mediático sua imagem é impecável.
Et pourtant é negro. O negro que virou presidente.
Nesse primeiro momento de euforia a imprensa internacional é só elogios às virtudes do novo homem mais poderoso do mundo.
Mas a profusão de matérias exaltando sua capacidade e retidão tem levado a um exagero, digamos, midiático. Obama está sendo visto como o novo Roosevelt, que vai salvar a economia americana da atual crise. Mais ainda, é visto como uma espécie de novo Kennedy, que vai propor uma nova ordem internacional, ajudando os países pobres da África, restabelecendo a paz no Oriente Médio, resgatando o diálogo com Cuba e Irã, etc. Honestamente, não sei se é correto imputar tantas qualidades e poderes a um simples mortal, mesmo que esse mortal esteja a frente do governo da maior potência econômica e militar. Sua campanha, centrada no resgate da dignidade e dos princípios maiores que nortearam a formação dos EUA, não nos autorizam a vôos interpretativos tão mais ambiciosos.
Essa supervalorização do homem Obama, lembra muito um filme de muito sucesso nos anos 60, cujo título tomei emprestado para este artigo: “Adivinhe quem vem para o jantar?”. É a história de um casal progressista e branco americano, cuja filha se apaixona por um negro. O choque inicial – do casal e dos expectadores – é mitigado quando começam a aparecer as informações do namorado indesejado: professor, formado em uma grande universidade, com um currículo profissional invejável, etc. Aos poucos o negro vai se tornando alguém palatável, vai “embranquecendo” aos olhos de todos. Moral da história: o negro tem que ser alguém acima da média, destacado, excepcional, um super-homem que, só assim, pode ultrapassar a barreira da cor.
Não sei se Obama é isso tudo. Acho que é um homem digno, com princípios, caráter e algumas boas idéias que podem levá-lo a fazer um bom governo, sobretudo para os americanos. Mas a pecha de “extraordinário” não lhe cabe e nem deve lhe caber. É um homem comum e é justamente isso que abrilhanta ainda mais a festa. Mas a mídia não agüenta essa verdade e parece querer nos indicar que um Negro na Casa Branca, só se for fora do comum. Adivinhe quem vem para o jantar? O super-homem".
*Doutor em Economia e diretor de Cooperação e Desenvolvimento Institucional do Ipea.
Comentários
abraços, querida.