Campanha Homem de verdade não bate em mulher
Por Cidinha da Silva
O Banco
Mundial, por meio de sua representação no Brasil, lançou a campanha “Sou homem
de verdade”, cujo carro-chefe é um cartaz graficamente simples com os dizeres
“homem de verdade não bate em mulher”, veiculado em redes sociais. Nove
personalidades masculinas e Maria da Penha, a mulher que
buscou punição para o homem que a agrediu e deixou em cadeira de rodas,
inspiradora da lei de proteção às mulheres em situação de violência, integram o
grupo de modelos inicial da campanha. Além dos famosos, pessoas anônimas são
instadas a participar da iniciativa ao serem fotografadas portando o cartaz.
O primeiro senão à campanha que li por aí, argumenta que a expressão
“homem de verdade” remete a outra, “mulher de verdade”, eivada de preconceitos
quanto ao lugar social da mulher, expressão muito relacionada aos afazeres
domésticos, obrigações familiares e maternais atribuídas a elas. Posso não ter
entendido bem, mas acho que são coisas distintas. A chamada “homem de verdade
não bate em mulher” evoca valores positivos atribuídos aos homens e em franca
extinção, portanto, me parece contra-hegemônica e pode gerar efeitos bons. Ela
me lembra reuniões saudáveis dos clãs masculinos como acontece nos Filhos de
Ghandi e em torcidas organizadas que não são selvagens e, inclusive, acolhem
mulheres, além de outros grupos de homens reunidos para cultuar o que os homens
têm de melhor. Me lembra que os homens comprometidos com o respeito à mulher devem
assumir mais responsabilidades, colocando seus corpos e rostos na vitrine,
emitindo bem alto sua voz, como exemplos desse compromisso.
A segunda nota, mais pessimista, pergunta se homens violentos dão
ouvidos a campanhas educativas e propõe algo supostamente mais efetivo, ou
seja, a exposição da imagem de homens violentos atrás das grades, julgados e
punidos. Eu me pergunto que homens violentos seriam mostrados e minha resposta,
como a de vocês, espero, é que seriam os homens negros e pobres, os que estão
presos. Os poucos Pimenta Neves, condenados e presos pelo assassinato de
Sandras Gomide, dariam um jeito de se esquivar do uso de suas fotografias. É
provável até que o Estado fosse processado e levado a indenizá-los por uso
indevido da imagem.
Gosto dessa campanha, da não estigmatização do homem negro, como se
apenas ele fosse violento. Gosto de saber que os bonitões brancos da campanha
chamam mais a atenção do que bonitões negros (Diogo Nogueira passou a
integrá-la na véspera do 08 de Março), porque usualmente, não se vincula o perfil
branco a práticas violentas. Os homens violentos parecidos com os bonitões da
campanha, os que quase sempre conseguem se esquivar das grades, também estão
representados. A promoção da diversidade passa também pela desconstrução de
estigmas.
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