E foi por ela que o galo cocorocô
Por Cidinha da Silva
O cronista constata que os passarinhos de São Paulo vêm cantando fora de hora, há algum tempo. Ele cogita que a poluição sonora do grande centro leva as avezinhas a trocarem a noite pelo dia e a cantarem de madrugada, quando certo silêncio se impõe.
A crônica ia bem e eu curtia a leitura, até que o cronista roubou a cena do galo. Explico: eu tinha anotado uma ideia sobre os galos que não cantam mais (pela primeira vez) às 5:00 ou às 4:00 da manhã, como tem sido desde que a biologia dos relógios foi inventada. Tem vários deles cantando entre 2:30 e 3:30, levando vizinhos contrariados a solicitar a execução sumária dos cantores destemperados.
Eu mesma tenho um desses na alvorada. O bípede levanta a crista às três da matina, canta e não durmo mais. Enquanto me acostumo ao hábito nada saudável do moço, experimentei contar quantas vezes ele cocorocava. No primeiro dia de atividade insone, aferi 44 cocoriuuuu, com espaçamentos maiores a partir do 15º cacarejo, deixando a falsa impressão de que ele havia se cansado. No segundo, contabilizei 17 cacarejos fortes e no terceiro dia, 25 notas galináceas, com pequeno enfraquecimento de tom a partir da
13.ª
Embora tenha tomado de assalto meu tema, a boa notícia é que o cronista levou-me a especular porque os galos estão acordando mais cedo e nisso eu não havia pensado. Acho que é uma chamada. A vida dos nossos está indo embora antes da hora, com a mesma naturalidade de quem olha distraído o reinado de um galo no galinheiro.
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