O leilão da virgem e a fita métrica

Por Cidinha da Silva

As moças, jornalistas tarimbadas, tomavam a cervejinha habitual das sextas-feiras enquanto reclamavam da falta de homens no mercado. Uma queria um homem decente, as outras queriam homens de verdade, estavam cansadas de donzelos. Um cara com pegada (sem ser grosso), carinhoso (sem ser gay) e à moda antiga no quesito contas do restaurante e do motel. Não havia coisa mais deprimente do que dividir conta de motel com homem. No restaurante, ainda vá, mas no motel, não. Dava a sensação de que a moça estava pagando para o varão comê-la. 

Animadas, as produtoras de notícias zombavam da virgem catarinense leiloada. Provavelmente continuaria virgem, já que o lance vencedor fora de um japonês. Sabia-se que o pinto dos japoneses era insuficiente para grandes coisas. Contudo, ela tivera sorte. Imagine se um africano leva? Coitadinha! Que nada, comenta outra. Aquela lá deve ter hímen complacente, não deve ser virgem coisa nenhuma. 

Eu juro a vocês, seria mais feliz ao falar de flores, amores e pássaros, mas esse pessoal não nos deixa criar em paz. Respondam vocês, por favor, o que o leilão da virgindade da senhorita tem a ver conosco? 

Há muitos anos exibiram uma novela em que Adriana Esteves, bem novinha, era a personagem-consolo de um fazendeiro rico, velho, solitário e amargurado, representado por Antonio Fagundes. O homem havia perdido a esposa no parto do último filho. Este, já adulto, sofria terrivelmente, porque o progenitor, além de tê-lo rejeitado por toda a vida, acabara de tomar-lhe a mulher amada para madrasta. Marcos Palmeira fazia o filho desprezado, crescido entre os peões da fazenda, amigos leais. Dentre estes, havia um homem negro, quarentão. Ele contrai matrimônio com uma moça recém saída da adolescência, também negra, ajudante de cozinha na Casa Grande. 

Passada a primeira noite da lua-de-mel, como peão e cozinheira não viajam, nem têm tempo para desfrutar a alfazema dos lençóis, estábulo e cozinha esperavam pelos dois na manhã seguinte. Só que a cozinheira não aparece para cumprir as funções. Durante vários dias fica acamada, estropiada pela potência do pênis negro. Essa foi a resenha dos peões a respeito do sexo descomunal do companheiro, órgão e ato.

Por outro lado, o pênis grande e assustador, fantasia do homem exúnico, indomável e virulento, é desejado para outros usos. É o solucionador de longos períodos de abstinência, o desbravador de todas as matas, o que encara qualquer caverna desconhecida. Aquele pronto para tudo, que a todas serve com alegria e presteza. Ai do homem negro alto e sarado de pinto pequeno ou mesmo menor do que a média nacional. Será a encarnação mais nefasta da frustração. Ninguém aceita, nem as mulheres, nem os homens gays. O sujeito pode se preparar para ter o nome jogado na Medina, sem dó! 

O japonês, por sua vez, precisa ter pinto pequeno, pois tem inteligência, dinheiro e software, nasceu no país mais evoluído do mundo (superou até a bomba atômica). É filho de um povo aguerrido, honesto e trabalhador, inventor do Mangá, do Sodoku e da comida japonesa. Uma beleza! E, convenhamos, não se pode ter tudo na vida. 

O falo imenso é marca em brasa no corpo do africano negro e nos outros negros do mundo. Tem dias em que serve para dar muito prazer, noutros, precisa ser suportado, porque incomoda e machuca. Não faz parte de um homem-gente, é um pedaço cônico de tecidos, artérias e nervos, apontado para o Norte (sem bússola), nascido no meio de um boneco preto, ora desejado, ora ridicularizado, animalizado, sempre.

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