O corno deixou de ser manso, mas a patuléia queria mais!


Por Cidinha da Silva

Carminha apanha do marido traído e displicente, tolo mesmo. Poderia estar aí apenas a vingança que aumenta os dígitos de audiência, mas a macharada indômita queria mais e gritava: CHUUUUUPA TUFÃO!

Tufão, o boleiro que passou a ser sinônimo de idiota chifrudo na conversa das aglomerações populares, vingava-se da decana traição conjugal batendo na mulher. Ele, um homem correto, honesto, cioso de seus deveres como cidadão, justo, humano, leal, amoroso, detalhes que parecem não contar aos olhos da maioria que o observa, deixaram também de fazer sentido para quem construiu o personagem. Coerente seria que Tufão socasse a parede, quebrasse a casa, chorasse, gritasse, esbravejasse que tinha vontade de espancar a Carminha, como teve vontade de matá-la, mas que não batesse, da mesma forma que não a matou.  Se na hora da raiva for permitido a um homem equilibrado como Tufão, bater na mulher que o traiu em todos os sentidos, que foi absolutamente desleal com ele ao longo da vida, os crimes de honra, praticados sob suposta pressão emocional violenta e incontrolável voltarão a ser justificáveis.

Mandar alguém chupar, no jargão dos boleiros, é constatar que esse alguém se fodeu e mandá-lo para o reino dos fodidos, assim, diz-se ao time adversário na hora em que o seu time vira o jogo ou faz um gol definidor da partida: chupa fulano! Manda-se chupar também, quando o time ou um jogador adversário está se achando o último copo de bebida fresca do deserto e um jogador do seu time dá uma caneta, um lençol ou faz um gol de bicicleta: chupa outra vez, cicrano! Mandar chupar, de acordo com a conotação sexual da coisa, é submeter a boca do perdedor ao falo do vencedor. Humilhação das humilhações na cartilha do macho heterossexual.

Estamos mal! Tufão, na opinião dos machos medievais é um arrombado. Este, o arrombado, é aquele que tem o cu alargado depois de ser dominado sexualmente por um macho, que neste caso não tem o colorido do interesse de um homem por outros homens, é apenas um cumpridor da função precípua de penetrar em qualquer buraco.

Tufão estava por cima, literalmente. Carminha já tinha desabado no chão com a força da bofetada dada por ele, mesmo assim, sua jogada violenta não apaziguou os boleiros tomados por overdose de testosterona. Tufão desmascarara Carminha e a punia com violência, mas os boleiros não viam isso, ou seja, a vingança não importava. O que contava, de fato, eram os pesados galhos na cabeça de Tufão que, no entendimento deles, humilhavam a todos os homens. Para contentá-los, só mesmo mudando de novela e chamando o coronel Jesuíno.  

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