Os mortos
Por Cidinha da Silva
A morte de artistas singulares, às vezes merece apenas um artigo, no máximo algum
espaço no editorial de um grande jornal. Quem sabe dois ou três minutos no
Jornal Nacional? Diferente de uma celebridade, pois nesses casos, a mídia nos
obriga a presenciar a última aparição de corpo presente do morto no show business, em cobertura extenuante durante as 24 horas seguintes ao falecimento.
É tanta informação que tornamo-nos especialistas em temas da vida do falecido,
pelos quais nunca nos interessamos. Jornalistas mal disfarçam a emoção pela
proximidade de celebridades vivas, das quais são fãs. Celebridades menores, à
guisa de comentar a morte na telinha, aproveitam para promover um jabá do
trabalho mais recente, que a finada celebridade adoraria.
Por vezes, também nós nos
flagramos emocionados, afinal, a celebridade quando é antiga, está presente em
nossa vida há muitos anos, décadas, quiçá, e sua vitalidade mistura-se à memória das dores e alegrias vividas em nossa
rotina. E quando a celebridade-companheira, testemunha de nossas tristezas e infortúnios, é subtraída do mundo dos vivos, morre o glamour, aquilo que emprestava algum brilho e efusão à nossa existência tão mínima.
Ao fim de tudo, celebridade não é pessoa, é espetáculo ambulante, e quando
bom e eficaz, não morre, eterniza-se em business.
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