Emílio Santiago!
Por Cidinha da Silva
Todas
as vezes em que ouço a voz de Emílio
Santiago, o maior intérprete da música brasileira, me lembro da minha mãe.
Sempre que ele aparecia na TV e eu o assistia, embevecida, ainda adolescente, a
mãe debochava de mim, porque eu gostava de música de velhos, dentre outras
esquisitices.
Ela
não entendia o meu gosto e eu justificava argumentando que se tratava de um
grande cantor, além de preto lindo, elegante e jovial. Este último adjetivo a
incomodava especialmente e ela ruminava: jovem só na sua cabeça, eu era menina
e ele já cantava. Eu a provocava: ele devia ser menino também, mãe. Ela,
convicta, fingindo irritação: eu era menina, ele já era moço barbado! Hoje,
descubro no noticiário que Emílio se foi aos 66 anos e minha mãe, se não
tivesse ido aos 53, teria 69.
Naquela
época ele não havia iniciado ainda a edição da série Aquarela Brasileira, na
qual gravou músicas populares com belos arranjos e sua voz-instrumento
magistral. Foi uma tentativa bem sucedida de tornar-se mais conhecido e de romper
com o rótulo que o incomodava e afastava do povo, o de cantor sofisticado.
A
última vez que o ouvi, ao vivo, foi em um sábado à tarde, na feijoada da
Mangueira. Quando cheguei, Emílio cantava Saigon e o público se acabava no
feijão. Meu acompanhante, membro do time da suposta sofisticação de Emílio que
o afastava do povo, nunca o imaginaria como atração de uma feijoada de escola
de samba.
Emílio
era sofisticadíssimo, sim, para interpretar, como o foram as grandes vozes
masculinas do Brasil que o precederam, Orlando Silva, Silvio Caldas, Roberto
Silva e os contemporâneosimensos que começaram como crooners de boates e casas de shows, junto com ele: Alcione, Áurea
Martins e Djavan.
Ah, Emílio por que tão cedo? A feijoada da Mangueira nunca mais será a mesma. Agora a falta do seu sorriso franco, da sua risada sonora, enche o espaço de tristeza.
Comentários
O semblante dele estava tão relaxado e ele estava simplesmente LINDO!!! Negro que vai deixar saudades, no entanto, nos deixou uma relíquia que eu quero sempre revisitar. Elaine Nascimento (negraelaine@gmail.com)