A saúde da mulher negra sobe ao palco, em produção da periferia paulistana
Baseado em histórias reais, espetáculo Sangoma, da Cia. Capulanas, aborda saúde cultural, física e psíquica da mulher afrodescendente
por Xandra Stefanel, para a Rede Brasil Atual publicado 29/09/2013 15:55
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As artistas e ativistas do grupo teatral que trabalha para desconstruir a negatividade imposta pela cultura de colonização
São Paulo – A Capulanas Cia. de Arte Negra apresenta até dia 9 de novembro sua terceira peça teatral, Sangoma, que traz à tona um universo místico permeado de histórias de amor, dor, superação e possibilidades de cura. A companhia é formada por jovens artistas negras que têm o propósito de dialogar com a sociedade sobre as descobertas, os anseios e as percepções de mulheres negras e periféricas.
Ambientada em uma casa onde os espectadores percorrem cada cômodo sentindo de perto a força do depoimento das personagens, a peça sugere que a construção negativa da identidade atinge o corpo físico.
Sangoma, na verdade, são as mulheres escolhidas espiritualmente por seus ancestrais para dar continuidade aos trabalhos de cura espiritual e física dentro das comunidades zulus, na África do Sul. “Já no Brasil, sã é toda a pessoa que goza de boa saúde, e goma é uma gíria para nomear casa, utilizada nas periferias de São Paulo. Neste sentido, sangoma simboliza ‘casa sã’”, sintetiza o coletivo.
Em maio de 2011, depois de participar de uma palestra sobre o tema, o grupo se deparou com um estudo sobre o atendimento médico de mulheres negras nas unidades de saúde da periferia. “Chegamos a um dado – não computado pelas estatísticas, mas reincidente em vários depoimentos de pacientes e profissionais de saúde – de que as mulheres negras são mais tolerantes a dor e, por isso, recebem um atendimento diferenciado quanto às suas necessidades imediatas de tratamento médico em hospitais e centros de saúde”. A partir disso, eles começaram a pesquisar a relação da mulher negra com a dor e como isso refletia na vida delas. “Daí discutimos as formas de cura, como por exemplo, o tratamento com as ervas, uma forma de medicina ancestral”.
As histórias interpretadas pelas atrizes em Sangoma foram compiladas a partir de atividades de formação que o grupo promoveu no ano passado. As oficinas abordavam temas ligados à saúde cultural, física e psíquica de mulheres negras.
O texto, feito em parceria com a escritora Cidinha da Silva, dá voz ao que antes era silêncio. “São vozes muitas vezes caladas, que despertaram do silêncio para brotar vida e relatar as enfermidades causadas em suas relações com o mundo, com o outro e os caminhos que percorreram para chegar à cura”, diz a sinopse da obra.
O intuito do grupo era fazer um espetáculo que fizesse com que o público refletisse por si mesmo. “Não queremos mostrar que a opressão existe, através da opressão de outros gêneros. Captar estes elementos com simplicidade, responsabilidade e respeito e transformá-los em arte exigiu uma imersão tão profunda, um questionamento de nós mesmas enquanto mulheres que também passaram por isso e que hoje se propõem a compartilhar algo que acreditam, pensando e criando dentro de um cenário onde o preconceito fique claro aos olhos de todos,” afirmam as atrizes.
Apresentar a obra em áreas periféricas faz parte da proposta do grupo. “Realizamos Sangoma num espaço não convencional, dentro da periferia e para todos os públicos, para desconstruir a ideia de que o teatro é para uma determinada fatia da sociedade ou simplesmente um evento social para poucos. E também para mostrar que a mulher negra, aparentemente mais forte e preparada para aguentar qualquer tipo de adversidade, sofre com e em silencio geração após geração. Sangoma é o resultado de uma busca que nós, Capulanas, desejamos e necessitamos compartilhar.”
Assista ao vídeo promocional da peça:
Ficha Técnica
Elenco: Adriana Paixão, Carol Ewaci Rocha, Débora Marçal, Flávia Rosa, Priscila Preta, Rose de Oyá
Direção: Kleber Lourenço
Texto: Cidinha da Silva e Capulanas
Direção musical e composição: Naruna Costa
Trilha sonora: Giovani Di Ganzá
Design de luz: Ari Nagô
Operação de luz: Clébio Ferreira (Dedê)
Cenografia: Rodrigo Bueno
Cenotecnia: Renan Jordan e Majó Sesan
Contrarregra: Renan Jordan
Indumentária e figurino: Ligia Passos
Maquiagem: Capulanas e Ligia Passos
Costureira: Danna Lisboa
Identidade visual: Cassimano
Concepção audiovisual: Daniel Fagundes
Produção geral: Odun e Renan Jordan
Produção executiva: Carla Lopes e Fernanda Conceição
Serviço
Sangoma
Quando: todos os sábados, até 9 de novembro, às 20hs.
Onde: Goma Capulanas - Rua José Barros Magaldi, 1121 – Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo
Lotação: 30 lugares
Os ingressos devem ser retirados no local com uma hora de antecedência
Mais informações: capulanasciadeartenegra@gmail.com
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