Vida de condutor

 Por Cidinha da Silva


Assim somos, meu irmão! Leis de trânsito organizando o caos numa estação central de metrô, em Zagreb ou Nova York. Convergência de linhas, transferência de destinos, caminho de muitos lados.

O amor nos domina! Este trem cuja constância se resume ao ponto de partida (nosso coração incansável) e nos lança em corrida inútil atrás dele.  E nos alegramos como crianças de cidade pequena, a cada vez que avistamos o trem. E as crianças, como nós dois, acenam as mãos para ele, mesmo sabendo que o minério de ferro, único passageiro do trem, permanecerá quieto e mudo.


Ocorre conosco, mano, que sem amor não existimos e o coração pesa mais do que o ferro. Persistimos amando, mesmo que o desamor nos desfaça em lama, tal qual montanha ferida durante o dilúvio. Não prescindimos, querido, como crianças, do barulho do trem.

(Do livro BAÚ DE MIUDEZAS, SOL E CHUVA)

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