Vida de condutor
O amor nos domina! Este trem cuja constância
se resume ao ponto de partida (nosso coração incansável) e nos lança em corrida
inútil atrás dele. E nos alegramos como crianças de cidade pequena,
a cada vez que avistamos o trem. E as crianças, como nós dois, acenam as mãos
para ele, mesmo sabendo que o minério de ferro, único passageiro do trem,
permanecerá quieto e mudo.
Ocorre conosco, mano, que sem amor não
existimos e o coração pesa mais do que o ferro. Persistimos amando, mesmo que o
desamor nos desfaça em lama, tal qual montanha ferida durante o dilúvio. Não
prescindimos, querido, como crianças, do barulho do trem.
(Do livro BAÚ DE MIUDEZAS, SOL E CHUVA)
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