Quem conta um conto, estudos sobre contistas brasileiras estreantes nos anos 90 e 2000
“Quem conta um conto, estudos sobre contistas brasileiras estreantes nos anos 90 e 2000, organizado e coordenado pela escritora, pesquisadora e professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Helena Parente Cunha: é um projeto ousado, por não se furtar a refletir sobre a literatura que está sendo feita aqui e agora, e inovador, por trazer para a discussão autoras estreantes, publicadas em sua maioria por pequenas e desconhecidas editoras fora do circuito comercial e do eixo Rio-São Paulo.” Assim o livro é apresentado em uma resenha de livraria, na verdade, um excerto do prefácio escrito pelo Luiz Ruffato. Aliás, um belo prefácio, intitulado “A conquista do espaço “, que começa assim: “Um olhar atento aos compêndios de literatura brasileira – ainda hoje! – revela-nos uma estranha ausência: podemos contar nos dedos (da mão direita) o número de mulheres que conseguiram romper o constrangimento da mera nota de rodapé: Rachel de Queiroz (1910-2003), Clarice Lispector (1920-1977), Lygia Fagundes Telles (1923)... e, quem mais? Ana Cristina César (1952-1983)? Hilda Hilst (1930-2004)? Se o valor estético da obra das autoras citadas é consensualmente reconhecido, outros nomes importantes, entretanto, acabaram empurrados para a nebulosa zona do esquecimento. A razão disso parece-me evidente: o tribunal que julga quem deve e quem não deve participar do cânone literário sempre se formou por homens – basta lembrar que até a década de 1970 a única ensaísta a se impor nesse universo majoritariamente masculino foi Lúcia Miguel-Pereira (1903-1959), que tornou-se, aliás, referência na crítica brasileira” (p.9). Naquilo que chamou de “Apresentação desnecessária”, Elódia Xavier, professora adjunta da UFRJ, afirma: "Este livro apresenta trabalhos sobre contistas pós-modernas, sempre mantendo a preocupação de dar visibilidade a escritoras nem sempre conhecidas. As contistas selecionadas, em sua grande maioria jovens, são de origem variada; variedade esta que contribui para o ecletismo literário, tendo mesmo uma afrodescendente entre elas” (p.16 – grifo meu). Helena Parente Cunha, a organizadora, tem uma visão mais estratégica e abrangente da inclusão de uma obra minha dentre as analisadas, diz ela: “Excepcionalmente foi incluída uma doutoranda da PUC Minas, convidada pela pertinência de seu projeto com questões referentes à literatura afro-brasileira que não poderia deixar de vir representada neste livro, considerando-se a vasta produção existente de suas escritoras” (p.20). Os textos do livro foram escritos por estudantes de pós-graduação orientados por Helena P. Cunha. A obra, segundo ela, “não propõe um mapeamento da contística brasileira da virada do século, nem muito menos uma seleção das melhores produtoras de contos do período. As quatorze escritoras aqui em pauta foram escolhidas por cada autor e autora destes artigos em função do gosto pessoal de cada um (a) e por um critério estabelecido anteriormente, voltado para o possível diálogo do texto com o contexto. Em princípio, as obras apresentadas estão inseridas na problemática mais palpitante dos anos pós-modernos” (p.19). Gostei muito do livro, de alguns artigos, especialmente, e isso me motivou a buscar as autoras, pois não as conhecia. Minha participação se deveu a uma indicação generosa da escritora Conceição Evaristo, a quem agradeço.
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